Pesquisadores instalam 76 câmeras para monitorar a fauna silvestre em cinco cidades de Goiás, com foco no tamanduá-bandeira

Área a ser estudada tem 60 mil hectares. Vai do Parque Estadual Serra de Caldas Novas (Pescan) ao Parque Estadual da Mata Atlântica (Pema) e abrange propriedades rurais privadas. Após um ano, relatório apresentará informações sobre mamíferos e a estimativa populacional de tamanduás na região, além de dar subsídio à criação de políticas de conservação da fauna

Com 76 câmeras que começaram a ser instaladas em janeiro deste ano, um grupo de biólogos e pesquisadores deu início a um projeto que tem, entre os seus objetivos, o de fazer um levantamento das espécies de mamíferos da região e de determinar o tamanho  da população de tamanduás-bandeiras em 60 mil hectares de território goiano. O perímetro a ser coberto (que equivale a 60 mil campos de futebol) começa no Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, termina no Parque Estadual da Mata Atlântica (Pema, em Água Limpa) e abrange, no meio do caminho, 30 km em linha reta de propriedades rurais privadas. Os dois parques estão sob os cuidados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

Em janeiro, 60 câmeras foram instaladas. Em março, será a vez das outras 16. A cada dois meses, os pesquisadores vão a campo para recolher as imagens produzidas pelos equipamentos de monitoramento. Essa primeira etapa termina em fevereiro de 2024, mês em que será produzido o primeiro relatório de estimativa populacional de tamanduás-bandeiras desta região. Esse projeto é chamado de “Bandeiras no Corredor” já que o foco é no tamanduá-bandeira, mas também haverá registro de outras espécies bandeiras para a conservação da fauna goiana.

"Com o estudo, será possível avaliar como os animais se relacionam com 'cicatrizes' do fogo, ou seja: como eles vivem e se reproduzem em ambientes onde já houve queimadas", diz a secretária estadual de Meio Ambiente, Andréa Vulcanis. "Outro ponto importante diz respeito à educação ambiental dos produtores rurais da região. Vamos discutir qual é a melhor forma de fazer o manejo de animais domesticados, como bovinos e cães, em uma área em que coabitam os silvestres", explica. 

A partir do monitoramento, pode-se também chegar à conclusão de que será preciso criar corredores para conservar a fauna da região. "É bem provável que o projeto continue depois dessa data e alcance, inclusive, outras espécies de animais", adianta Maurício Tambellini, chefe do Parque Estadual Serra de Caldas Novas (Pescan).

O estudo vai alcançar cinco municípios (Caldas Novas, Rio Quente, Marzagão, Água Limpa e Corumbaíba), está orçado na primeira fase em R$ 250 mil, terá o envolvimento direto de seis pessoas e o indireto de mais 30. Acontecerá em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), com as organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips) Aliança da Terra e Fundo Nacional da Biodiversidade. Todo recurso virá de investimentos estrangeiros, por meio de programas de auxílio à gestão de áreas protegidas. 

A coordenação fica a cargo da doutora Alessandra Bertassoni e do doutor Paulo De Marco Júnior, ambos da UFG. Os pesquisadores associados diretos da Semad são Maurício Tambellini e Paula Tambellini. Os pesquisadores associados da UFG são o doutorando Filipe Guimarães Lima e estudantes voluntários. E os da Aliança da Terra são a doutora Caroline Corrêa Nóbrega, analistas e brigadistas. 

Planos de conservação

A bióloga Alessandra Bertassoni diz que esse é um projeto pioneiro no monitoramento da fauna silvestre, já que a área de estudo é muito extensa e que o grupo utilizará um método sistemático de coleta de dados. "Temos expectativas de conhecer quais são as espécies de mamíferos mais comuns e as mais raras que habitam a região. Com esses dados poderemos verificar quais são as paisagens (urbano, rural, cerrado, mata de galeria, área queimada, etc) que favorecem a presença de determinadas espécies e, então, traçar planos de conservação baseados em evidência científica".

Bertassoni diz também que estimar a população de tamanduás-bandeira na região é um passo importante para compreender como a espécie está se reproduzindo e quais são as ameaças para a manutenção dessa população. Os dados iniciais, diz a pesquisadora, já mostraram registros de alguns tamanduás, mostrando a viabilidade do estudo. 

"A área de estudo é privilegiada, pois abarca dois biomas, o Cerrado e a Mata Atlântica, e toda a zona de transição entre eles. Em nossos trajetos percorridos em dezembro e janeiro, verificamos tantas paisagens diferenciadas que acreditamos que haverá registros de várias espécie da fauna e poderemos entender quais são as preferências de habitat de acordo com o  tipo de vegetação e histórico de queimada", completa.

Foto: Acervo/Projeto Bandeiras no Corredor
 

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