Lixão Padre Bernardo: ‘Trata-se da maior tragédia ocorrida em Goiás desde o Césio-137’, afirma ICMBio

Declaração foi feita durante reunião de alinhamento com representantes dos órgãos que compõem o gabinete de crise criado em razão do episódio

A tragédia no lixão Ouro Verde, em Padre Bernardo, onde o desmoronamento de uma pilha de lixo contaminou o córrego Santa Bárbara e o Rio do Sal, em 18 de junho, tem causado transtornos à população e preocupação à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e outros órgãos ambientais. Para o chefe da APA da Bacia do Rio Descoberto, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fábio Miranda, trata-se da maior tragédia ocorrida em Goiás desde o Césio-137, em 1987. 

“Só quem vai lá tem noção do que foi aquilo. A gente fica até na dúvida falando dentro da comunicação do ICMBio se esse foi ou não o maior desastre da história do Goiás. O pessoal lembra do césio, mas com aquela magnitude, daquela natureza, pra mim é sem precedentes”, afirmou Miranda.

A declaração foi feita durante reunião de alinhamento com representantes dos órgãos que compõem o gabinete de crise criado em razão do episódio (ICMBio, Corpo de Bombeiros, prefeitura de Padre Bernardo e Defesa Civil), na segunda-feira, 7 de julho. Na ocasião, depois de agir com extrema lentidão, a empresa proprietária do lixão afirmou que vai agir para controlar e reduzir os danos ambientais causados pelo desmoronamento. 

Diante da promessa, a titular da Semad, Andréa Vulcanis, propôs a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir que compromissos e prazos sejam devidamente cumpridos. A redação do documento foi finalizada na tarde de quarta-feira, com todos os compromissos e prazos que devem ser cumpridos pela empresa. Assim, a dona do lixão tem até sexta-feira (11), ao meio-dia, para eventualmente propor alteração e assinar o documento. 

A secretária reforçou que “não se trata de uma questão de penalidade, mas sim de ação”, já que o lixão pertence à empresa e, portanto, cabe a ela arcar, com a agilidade devida, com todas as consequências ambientais, sanitárias e sociais causadas pela operação ilegal que acontecida no local. Segundo Vulcanis, para que isso ocorra, a Semad e todos os órgãos que compõem o gabinete de crise se colocam à disposição para o diálogo e trabalho integrado.

“Não havendo resposta, nós vamos assumir, porque nós precisamos tomar essa decisão. Era pra tomar essa decisão hoje, mas como vocês (da empresa Ouro Verde) estão se posicionando de que a empresa vai assumir, estou sugerindo da gente assinar um TAC preliminar”, afirmou a secretária à representante jurídica da Ouro Verde durante a reunião. 

‘Desastre sem precedentes’ 

Vulcanis reforçou a declaração do representante do ICMBio de que o desastre ocorrido em Padre Bernardo é sem precedentes e, provavelmente, a maior tragédia ocorrida em Goiás desde o Césio-137. Isso porque, o córrego Santa Bárbara e o Rio do Sal foram completamente contaminados pelos resíduos, afetando diretamente famílias da zona rural da cidade, que faziam uso da água para agricultura, criação de peixes e consumo. 

Existem ainda outros agravantes, como a existência de lixo hospitalar no local, a contaminação do solo, a transmissão de doenças por conta de moscas e outros animais que circulam a área do lixão, o risco de novos desmoronamentos a partir da chegada do período chuvoso e, ainda, chances de que a água contaminada atinja outras bacias hidrográficas. 

“Sem dúvida nenhuma, é o maior (desastre) que a gente já enfrentou nessas condições. É claro que a gente sabe que em Goiânia tivemos o problema do césio, que era um problema muito grave também, causou mortes, impactos ambientais graves, mas do ponto de vista de meio ambiente, de contaminação do território, de afetação da população, é um dos maiores acidentes que a gente já enfrentou”, afirmou a secretária.

O que a Semad já fez?

Diante da completa inércia por parte dos responsáveis pelo lixão, a secretária Andréa Vulcanis anunciou, em 30 de junho, que a Semad interviria diretamente no controle e na mitigação dos danos ambientais provocados pelo desabamento de uma montanha de lixo. Com isso, duas frentes de trabalho foram abertas: uma administrativa, voltada à contratação emergencial de máquinas e equipes especializadas; e outra operacional, com a execução das ações que originalmente caberiam à empresa Ouro Verde.

Já no dia 1º de julho, teve início a transposição do córrego Santa Bárbara, por meio de uma motobomba. A água era succionada a montante (antes do ponto atingido pelo desastre) e devolvida a jusante (depois do local do desabamento), buscando reduzir os níveis de contaminação. O equipamento foi cedido pela empresa, mas a operação para levá-lo até a chamada “zona quente” foi realizada por servidores da Semad, do ICMBio e da prefeitura de Padre Bernardo, com uso de técnicas de rapel pela encosta da grota.

Outra motobomba, cedida por uma usina sucroalcooleira de Goianésia, foi incorporada à operação. Com capacidade de 150 m³ por hora — três vezes superior à bomba inicialmente usada —, ela vai reforçar os trabalhos até que a crise emergencial seja superada. Em seguida, está prevista a construção de um desvio físico definitivo do curso do córrego, afastando-o da área contaminada.

Segundo a Semad, o bombeamento foi bem-sucedido e, até o dia 9 de julho, praticamente toda a água acumulada já havia sido removida.

operação de contenção de danos ambientais no lixão de Padre Benardo

Paralelamente, tratores contratados pela prefeitura após a decretação de estado de emergência estão abrindo um novo acesso pela margem esquerda da grota, com anuência de proprietários rurais vizinhos ao lixão. A obra deve ser concluída nesta quinta-feira (10). O solo retirado está sendo reaproveitado na construção de uma barreira logo após o ponto do desabamento, com o objetivo de impedir novo carreamento de resíduos e chorume caso a pilha de lixo volte a ceder. A água succionada pelas bombas continua sendo devolvida ao córrego apenas após essa barragem.

A Semad também monitora a qualidade da água do córrego Santa Bárbara e do rio do Sal, que abastecia agricultores da região. O uso desses recursos foi suspenso até que a contaminação seja totalmente controlada. Enquanto isso, a prefeitura garante o fornecimento de água potável às famílias por meio de galões de 20 litros e caminhões-pipa.

Para conter a infestação de moscas causada pela exposição do lixo, o gabinete de crise determinou a aplicação aérea de inseticida com uso de drones agrícolas, contratados pela empresa. A pulverização começou nesta quinta-feira (10) e será repetida a cada três dias.

Fotos: Semad

Legenda: Chefe da APA da Bacia do Rio Descoberto, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fábio dos Santos Miranda

Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Governo de Goiás

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