Em áreas de vegetação e desmatamento, Goiás remove mais gás carbônico da atmosfera do que emite, mostra estudo
Desde 2006, o estado recupera mais áreas verdes do que perde, o que faz com que a vegetação absorva mais carbono do que libera
Um levantamento inédito aponta que, desde 2006, Goiás tem removido mais gás carbônico (CO₂) da atmosfera do que emitido, alcançando o status de “carbono positivo”. O avanço ocorre no contexto das mudanças de uso da terra, ou seja, das transformações que acontecem na cobertura do solo. Na prática, o estado vem recuperando mais áreas verdes do que perdendo, o que faz com que a vegetação absorva mais carbono do que libera. As estimativas são do Earth Innovation Institute (EII), organização internacional contratada pelo Governo de Goiás.
Segundo o levantamento, a regeneração de áreas nativas e o aumento da vegetação fizeram com que Goiás alcançasse um saldo positivo de carbono há quase 20 anos. Um balanço líquido realizado em 2024 mostra que o acumulado chega a 513 milhões de toneladas de CO₂ equivalente removidas da atmosfera. O estudo utilizou dados de satélite e tecnologia LiDAR, capazes de medir com precisão a quantidade de biomassa — ou seja, a vegetação existente acima do solo — e, a partir dela, estimar a quantidade de carbono armazenado ou emitido.
“A partir de 2006, o ganho de biomassa em Goiás passou a superar as perdas por desmatamento e degradação”, explica o coordenador do Earth Innovation Institute em Goiás, João Pedro Gurgel e Silva. “Com isso, o estado vem ampliando suas áreas de vegetação e melhorando o estoque de carbono. Isso não significa que todas as áreas estejam plenamente recuperadas, mas sim que há um avanço consistente na regeneração”, afirma.
Segundo o coordenador, um mapa produzido pelo estudo mostra o balanço dos estoques de carbono acima do solo entre 2000 e 2024. As áreas em verde indicam onde houve crescimento e recuperação da vegetação, enquanto as áreas em vermelho mostram locais onde ela foi removida.

“Quanto mais escuro o verde, maior foi o ganho de biomassa, o que representa regeneração e aumento de carbono. Já o vermelho escuro mostra perda, geralmente por desmatamento total. Quando a gente soma tudo, o resultado é um saldo positivo: há mais ganho de vegetação do que perda”, detalha Gurgel.
Nos últimos anos, Goiás reduziu em quase 73% a área queimada e aumentou em mais de 1.000% as ações de fiscalização ambiental, atingindo praticamente 100% dos alertas de desmatamento fiscalizados. Segundo a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Andréa Vulcanis, entre os instrumentos que contribuíram para esses resultados estão a Declaração Ambiental do Imóvel (DAI), que reduziu o desmatamento sem licença, e o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Cerrado em Pé, que destina milhões de reais a produtores e comunidades tradicionais que preservam áreas nativas.
Vulcanis também destacou que Goiás implantou o novo Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sigcar), que centraliza no sistema estadual todas as análises do cadastro rural, eliminando a necessidade de processos paralelos. Além disso, o estado investiu em um plano integrado de prevenção e combate a incêndios florestais, com resultados expressivos.
“Esses números comprovam o esforço de Goiás em alinhar crescimento econômico e conservação ambiental. Estamos prontos para transformar resultados ambientais em novas oportunidades de investimento para o estado”, afirmou a secretária.

Mercado de créditos de carbono
O avanço do estado também foi reconhecido nacionalmente. Em 14 de outubro, a Comissão Nacional para REDD+ (Conaredd+), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, aprovou a elegibilidade de Goiás para captar recursos internacionais por resultados na redução do desmatamento e da degradação florestal.
Para Vulcanis, o reconhecimento se dá graças aos avanços obtidos nos últimos anos com políticas integradas de combate ao desmatamento, incentivo à preservação e fortalecimento da governança ambiental. “É o reconhecimento de um modelo que alia produção, conservação e inclusão social”, afirmou.
Créditos de carbono são certificados que representam a redução ou remoção de gases de efeito estufa da atmosfera. Nesse sistema, quem reduz o desmatamento, recupera áreas degradadas ou investe em energia limpa pode gerar créditos e negociá-los com países ou empresas que ainda não conseguiram reduzir suas próprias emissões, ajudando a compensar o impacto ambiental e incentivar práticas mais sustentáveis.
A decisão permite que o estado receba pagamentos equivalentes a 182 milhões de toneladas de CO₂ que deixaram de ser lançadas na atmosfera entre 2011 e 2020. Atualmente, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) estuda a metodologia que fará a mensuração do valor a ser acessado por essa quantidade de carbono evitada.
Na visão da titular da Semad, o reconhecimento da Conaredd+ é relevante por colocar o Cerrado no centro da agenda global de clima e florestas. Isso porque, o Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e berço das águas do país. Goiás tem cerca de um terço de seu território coberto por vegetação nativa, o que reforça o potencial do Estado em gerar resultados ambientais com impacto real na mitigação das mudanças climáticas.
Foto: Semad
Legenda: Estudo inédito aponta que Goiás já compensa suas emissões florestais
Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Governo de Goiás


