Ética na saúde pública: um olhar à luz de Paulo Freire


Leonardo Essado Rios

Cirurgião-dentista, Mestre em Ensino na Saúde

 

Quando se fala em Saúde Pública, é sempre importante a busca por referenciais que nos ajudem a discernir da melhor forma possível entre os caminhos que nos levam ou nos afastam do bem comum, estabelecendo-se um genuíno e salutar diálogo. Nestas breves linhas, convido o (a) leitor (a) para uma reflexão dialógica entre a Ética Universal do Ser Humano de Paulo Freire e a Saúde Pública no Brasil.

 

Ética, segundo a doutrina de Paulo Freire, está diretamente relacionada às questões da exploração, da discriminação, aos interesses do mercado de trabalho. Está também ligada à consciência. A partir do momento em que somos conscientes de nossa presença no mundo, não podemos escapar à nossa responsabilidade ética. Ética, portanto, pressupõe responsabilidade. Está pautada no respeito pela natureza e no respeito ao ser humano.

 

Apesar de vivermos em um mundo de diversidades de interesses com um mercado de relações com interesse no lucro, não podemos negar que fazemos parte desse mundo. Nem podemos fazer de conta que não enxergamos o desrespeito e desvalorização das pessoas em troca da valorização da mercadoria. É nossa a responsabilidade na tarefa de lutar contra essa prática de transgressão da ética, como o que vem ocorrendo em relação à saúde pública em nosso país, onde pessoas querem adquirir riqueza e poder à custa do enfraquecimento e desvalorização do SUS.

Quando olhamos para o sistema de saúde, se este oprime o cidadão em seus direitos em detrimento a interesses financeiros, não se pode presumir que seja um sistema ético, pois não contribui para a autonomia, para a consciência e libertação das pessoas. A práxis dos sujeitos envolvidos no processo saúde-doença perpassa o respeito ao direito visando a uma transformação da realidade, numa luta incansável em favor daquele a quem se nega o direito à esperança, ao sonho, ao próprio direito.

Isso é inaceitável: a imposição ao desespero, à desesperança. Compactuar com isso, além de desumano e desumanizador, é antiético porque fere a dignidade do ser humano. Pelo contrário, a ética reside em buscar caminhos para superar as dificuldades, os fatos, as condições e os problemas que geram a exploração. Ética exige superação.

Então, pode-se dizer que ética na saúde pública, numa perspectiva “Freireana”, é uma luta esperançosa, somada pela boniteza da briga, em favor da liberdade, da democracia, do respeito à coisa pública, do aconchego, da construção do futuro por nós, homens e mulheres, com consciência e valorização do direito à saúde pública, com universalidade e emancipação popular!

 

 Mais informações: Artigo publicado originalmente no Jornal Encontro Semanal, da Arquidiocese de Goiânia. Link https://www.arquidiocesedegoiania.org.br/comunicacao/noticias/arquidiocese/2042-etica-na-saude.html

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