Febre Maculosa


É uma doença infecciosa febril aguda, de gravidade variável, podendo cursar desde formas assintomáticas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria gram-negativa, intracelular obrigatória, do gênero Rickttesia (R. rickettsii, R. parkeri), transmitida por carrapatos, principalmente pelo Amblyomma (A. cajennense, A. cooperi (dubitatum) e A. aureolatum). Caracteriza-se por ter início abrupto, com febre elevada, cefaleia e/ou mialgia intensa e/ou prostração, seguida de exantema máculo-papular predominantemente nas regiões palmar e plantar, que podem evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias. Pacientes não tratados precocemente podem desenvolver formas graves e, destes, cerca de 80% evoluem para óbito. O sucesso do tratamento, com consequente redução da letalidade potencialmente associada a febre maculosa, esta diretamente relacionado a precocidade de sua introdução e a especificidade do antimicrobiano prescrito.

No Brasil, a FM tem sido registrada nos estados da região Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Em Goiás, no período de 2007 a 2015, notificou-se 99 casos suspeitos, dos quais 05 foram confirmados laboratorialmente, sendo um caso autóctone em 2010 em paciente do sexo feminino residente no município de Gameleira de Goiás, 02 casos em 2012, ambos do sexo masculino residentes nas em Goiânia e Gameleira de Goiás e 02 casos em 2015, ambos do sexo masculino residentes em municípios Jataí e Barro Alto.  Para todos os casos positivos diagnosticados foram realizadas pesquisas de possíveis vetores infectados com Rickttesia no local provável de infecção. Nestes municípios detectou-se presença de vetores para febre maculosa, porém vetores infectados com Rickttesia foram encontrados apenas em Goiânia, Jandaia, Indiara e Gameleira de Goiás.

Inicialmente não se pesquisavam vetores nas investigações feitas para febre maculosa no Estado de Goiás. A partir de 2012, com o treinamento das equipes de profissionais da saúde em diversos municípios do Estado de Goiás (Figura 01), foram incluídas as pesquisas de potenciais vetores relacionados às investigações de casos suspeitos e ou confirmados e vigilância passiva da doença. Após estes treinamentos observaram-se aumento no número de notificações e identificação de casos positivos diagnosticados laboratorialmente (Fig. 02) A divulgação sobre a doença entre os profissionais de saúde tornou mais sensível o sistema de vigilância da febre maculosa e outras riquetsioses no Estado.

Figura 01 – Municípios do Estado de Goiás que participaram de treinamentos de vigilância de ambientes para febre maculosa no período de 2012 a 2015.



Figura 02 – Número de casos notificados e confirmados de febre maculosa por município de residência no Estado de Goiás (2007-2015)

No período entre 2012 e 2015 procedera-se coleta de vetores no local provável de infecção pela técnica de arrasto de flanela, armadilha de gelo seco e colheita no corpo de animais domésticos, silvestre e seres humanos. Identificaram-se aproximadamente 3.590 vetores, nas respectivas proporções Amblyomma cajennense, 72,26% (2594), Dermacentor (Anocentor) nitens 11,31% (406), Amblyommadubitatum 8,89% (319), Boophilus (Rhipicephalus)microplus 2,81% (83), Rhipicephalus sanguineus 0,31% (11), Ctenocephalides felis 0,38%(10) e Amblyomma ovale 0,28% (10). A circulação de Rickttesias do grupo febre maculosa (RGFM) foi observada em 17 indivíduos Amblyomma cajennens e 47,06% (08), Amblyomma dubitatum 35,20% (06), Rhipicephalus sanguineus 11,70% (2) e Ctenocephalides felis 5,80% (01). Amblyomma cajennense foi coletado em caninos, seres humanos, antas, equinos, bovinos e no meio ambiente (Fig. 04 e 05). Estes resultados chamam a atenção para a diversidade de potenciais vetores da febre maculosa no Estado de Goiás e da necessidade de acompanhamento destas áreas para verificar a flutuação sazonal de vetores e das taxas de infecção de riquetsioses do grupo febre maculosa, correlacionando ao risco da ocorrência de casos da doença.

Figura 04 – Potenciais vetores de Rickttesia do grupo febre maculosa, por hospedeiro, pesquisado, no Estado de Goiás no período de 2011 a 2015.

Figura 05 – Percentuais de potenciais vetores de Rickttesia do grupo febre maculosa, por espécie pesquisada, no Estado de Goiás no período de 2011 a 2015.

O perfil epidemiológico da febre maculosa em Goiás entre 2007 e 2013 foi analisado avaliando-se todas as fichas de notificação/investigação registradas neste período com seus respectivos campos de informações. Consideraram-se dados de excelente qualidade preenchimento ≥ 90%, regular 70-89% e ruim

A análise do perfil epidemiológico dos pacientes positivos no mesmo período demonstrou  percentuais conforme se segue: cefaléia (C) 100%, dor abdominal (DA) 66,7%, exantema (E) 100%, febre (FB)100%, hepatoesplenomegalia (HE) 100%, linfadenopatia (L) 100%, mialgia (MI) 100%, náusea e vômito (NV) 66,7%, petéquias (P) 33,3%, prostração (PT) 100%. A maioria dos casos ocorreu na região centro-sul do estado, no sexo masculino, entre 30-39 anos, residentes em zona urbana e zona de infecção rural, em atividades de lazer, com nível escolar de 1ª a 4ª série, contato com carrrapatos, cães e gatos. Os sintomas mais expressivos foram cefaléia, dor abdominal, exantema, febre, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, mialgia, náuseas e vômitos e petéquias. Não houve óbitos, a evolução dos confirmados foi benigna podendo estar relacionada à circulação de uma cepa de Rickettsia com menor virulência. Necessitam-se mais estudos deste agente do grupo febre maculosa de ocorrência no cerrado brasileiro.

Mapas de ocorrências e notificações de casos de febre maculosa por ano e o consolidado da série histórica  por município de residência no Estado de Goiás entre 2007 a 2015 estão relacionados abaixo:

Consolidado da série histórica de notificação de casos de Febre Maculosa, por município de residência, no estado de Goiás de 2007 a 2015.

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