Durante os dois dias de atividades foram realizados mais de 2 mil atendimentos no Povoado de Araras, no município de Faina

Atendimentos médicos e odontológicos, exames, atualização do cartão de vacina para adultos e crianças, orientações sobre políticas de saúde para a mulher e conscientização sobre o câncer de mama, além de cultura e lazer beneficiou os moradores do Povoado Recanto das Araras, no município de Faina, região noroeste de Goiás, na sexta-feira e sábado, 18 e 19 de outubro.

De forma intersetorial, a ‘Operação Araras III’ buscou levar cidadania para a população com maior incidência no mundo de Xeroderma Pigmentoso (XP), uma mutação genética que gera hipersensibilidade à luz e deixa os pacientes até mil vezes mais suscetíveis ao câncer de pele do que as demais pessoas. O povoado conta com aproximadamente 800 moradores e pelo menos 100 pessoas vivem com a doença, além dos inúmeros casos de indivíduos que carregam o gene, mas que não desenvolveram o XP.

A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), por meio do Hospital Estadual Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi (HGG) – unidade que realiza atendimento na média e alta complexidade à esses pacientes -, levou pelo menos quatro especialidades médicas para o povoado. O hospital também ofereceu testes rápidos de glicemia e aferição de pressão arterial.

Para o chefe da SES-GO, Ismael Alexandrino, estar in loco na comunidade foi uma maneira de aproximar a gestão da população que necessita de políticas específicas para o controle da doença. “Viemos conhecer de perto essas pessoas que tem essa doença rara e de forma intersetorial devemos pensar em ações que possam mudar positivamente a vida dessas pessoas”, disse.

Anúncio de serviços

Durante a visita ao povoado, Ismael Alexandrino anunciou que, por meio do HGG, serão oferecidas próteses faciais aos pacientes que tiverem a necessidade, conforme indicação médica. “Vamos oferecer de forma gratuita as próteses faciais para essas pessoas, impactando do ponto de vista estético a vida de cada um que precisa dessa atenção”, explicou. Alexandrino ressaltou ainda que estudará medidas para a implementação de novos medicamentos que atuam na remissão de metástases, um benefício para quem vive com XP. “Isso seria um avanço para esses pacientes, diminuindo as burocracias para o acesso aos medicamentos e beneficiando vidas”, acrescentou.

Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás (UFG) que detecta, por meio da cera de ouvido, a presença do gene que desenvolve a doença também foi lembrado durante a operação. “Também estamos trabalhando com aconselhamento genético e isso permite que haja uma diminuição de reincidência da doença”, esclareceu.

Atendimento fácil

Atualmente morando no município de Matrinchã, cerca de 25 quilômetros do povoado, Lilian Freitas de Andrade, de 44 anos, é portadora do XP e se deslocou até o povoado para receber os atendimentos que foram oferecidos durante os dois dias. Lilian conta que já foi moradora do povoado e que as dificuldades enfrentadas pela pequena população é constante. Segundo ela, a realização desse mutirão de serviços permite que muitos tenham acesso a serviços básicos, muito difíceis de serem realizados no dia a dia da maioria.

“Sofremos muito preconceito e acabamos excluídos dos tratamentos. Aqui estamos com serviços disponíveis na porta de casa, o que beneficia quem não têm acesso”, disse. A paciente faz acompanhamento no HGG há alguns anos e agradeceu a ação. “Vim para ser atendida na dermatologia. Provavelmente vou ter que fazer uma pequena cirurgia para retirara de câncer de pele, aqui já resolvo tudo”, finalizou.

A dermatologista Fernanda Carvalho da Rocha Lima, que trabalha na Secretaria Municipal de Saúde de Faina, faz acompanhamento quinzenal aos pacientes do povoado e região que possuem XP. A médica avalia que a aproximação médica junto aos pacientes permitiu a redução da necessidade de cirurgias graças a intensificação dos métodos de prevenção no dia a dia. “Estar aqui mais perto permitiu que houvesse redução do procedimentos invasivos aos pacientes. Fazemos a instrução dos métodos de prevenção e acompanhamos isso no cotidiano, como uso de protetor solar, roupas mais específicos, entre outras”, conta.

A médica esclareceu ainda que a doença só se desenvolve quando há a junção de dois genes para manifestação. O monitoramento do gene na população da cidade permitiu uma redução de novos casos da doença. “Fazemos a conscientização genética da população e a necessidade de proteção contra os raios solares”, explica. Um posto de apoio para a realização de consultas médicas dermatológicas também foi inaugurado na comunidade, o que dará mais comodidade para os atendimentos de saúde.

A aposentada Maria Isabel Sousa de Almeida e o esposo Manoel Batista de Almeida, ambos de 69 anos, aproveitaram a oportunidade para atualizar o cartão de vacina, oferecido pelos técnicos da Gerência de Imunização da SES-GO. “Viemos para que minha neta tivesse atendimento dermatológico e aproveitamos para vacinar, muito rápido e fácil receber o atendimento”, comemorou Maria Isabel.

Saúde, esporte e lazer

A presidente da Associação Brasileira do Xeroderma Pigmentoso (AbraXP), Gleice Machado, acredita que essa é uma oportunidade para oferecer cidadania para a população do pequeno povoado, de forma ampla e igualitária para os portadores de XP e população em geral. “A união de diversos setores está proporcionando qualidade de vida para essa população, oferecendo saúde, cultura e lazer para eles que estão distantes de todos esses serviços”, lembrou.

A Secretaria de Estado de Cultura de Goiás, por meio do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental Intinerante (Fica Intinerante), levou sessões de cinema durante a noite para a população. Já a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer de Goiás levou futebol de sabão e cama elástica para as crianças que estavam no local. A ação foi encerrada de forma descontraída na noite de sábado com show da cantora Kamila Galiza, reunindo toda a comunidade para festejar o sucesso da ‘Operação Araras III’.

Felipe Cordeiro, da Comunicação Setorial