Ex-paciente retorna ao HDT como interno da unidade

Estudante de medicina da UFG, Gilson Batista recebeu atendimento em virtude de uma meningite que o deixou surdo aos 2 anos de idade, na unidade do Governo de Goiás onde, agora, aos 26, faz estágio

Estudante da UFG Gilson Batista (de jaleco), com Karine Medeiros (à esq.), Beatriz Justino e Antônio Jorge

Ainda criança, o estudante de medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), Gilson Batista Sousa Júnior, de 26 anos, foi paciente do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), em Goiânia. Gilson, que ficou surdo aos 2 anos de idade, após uma meningite, agora é interno da unidade do Governo de Goiás gerida pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG) onde passou muitos anos de sua vida em tratamento por líquen plano, uma doença dermatológica.

A médica dermatologista Beatriz Alves Justino acompanhou o tratamento do estudante de medicina por aproximadamente cinco anos, até a cura completa, e conta que ficou emocionada ao ver seu paciente como um colega de trabalho. “Ficamos muito próximos. A família estava muito fragilizada, devido aos fatos anteriores, e quando encontra um profissional que orienta e ajuda, cria um laço de amizade. Desenvolvemos um carinho mútuo”, revela a médica.

Para ela, a mãe do jovem foi determinante no processo de desenvolvimento dele. “Sempre o estimulava”, recorda a dermatologista. E explicou que o estudante era muito interativo, sempre fazendo a leitura labial. “O acompanhei em parte da infância e adolescência. É muito gratificante o reencontrar já adulto, de jaleco e quase um médico”, revela.

História de superação
Gilson é apenas um dos cerca de 10 milhões de brasileiros surdos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Aproximadamente 5% da população são compostos por quem tem alguma deficiência auditiva. Gilson já quebrou outras barreiras. Foi o primeiro surdo a cursar medicina na UFG.

Até os 5 anos de idade, o hoje quase médico teve a comunicação dentro de casa realizada apenas por sinais simples e leitura labial. Foi a partir dessa idade, quando estudou em uma escola bilíngue em Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal, que ele conheceu a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

A batalha para estudar deu um passo atrás quando se mudou para Goiânia. “Foi um momento muito difícil. Fui matriculado em uma escola regular e, como eu era o único aluno surdo, tinha de contar com intérprete. Isso só foi possível porque minha família lutou pelo meu direito ao intérprete, junto ao Ministério Público”, conta o jovem.

Para ingressar na UFG, em 2019, o futuro médico fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com o auxílio de um intérprete. Ele já é graduado em ciência da computação, que cursou em uma universidade particular.

O retorno
Para Gilson, voltar ao HDT agora, como estudante de medicina, é uma oportunidade única de transformar a experiência pessoal em uma fonte de inspiração para outros e representa uma história de perseverança e superação.

“Esse retorno é um lembrete constante de que é possível transformar adversidades em oportunidades de crescimento e sucesso. Compreendo as lutas e as dificuldades enfrentadas pelos pacientes. Isso me impulsiona a oferecer cuidados médicos excepcionais e empáticos”, reflete.

O futuro médico ainda pontua que, em cada sala em que entra, o olhar de gratidão que encontra reforça seu compromisso com a medicina. “Percebo que minha surdez não é um obstáculo, mas sim uma força impulsionadora que me capacita a ser um médico mais atencioso”, afirma.

Para ele, a equipe médica e os colegas do HDT têm sido acolhedores e solidários, compartilhando conhecimentos e experiências. “Eles estão auxiliando em meu crescimento profissional e no aprimoramento de minhas habilidades”, finaliza.

Cejane Pupulin (texto) e Suyanne Dias (foto)/ISG

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