Resgate da cozinha da vovó

Secretaria da Saúde promove oficina ensinando o preparo de alimentos com plantas não convencionais, ricas em nutrientes e benéficas ao organismo humano Imagine um bolo feito com banana, aveia e leite de coco acrescido com flores de feijão borboleta. Originária da Ásia, esta flor de tonalidade que varia do azul ao roxo integra o rol das plantas alimentícias não convencionais. Ela pode ser consumida crua, cozida, em chás e saladas ou incrementar receitas de arroz, sopas, pães e bolos, tornando-as mais saborosas, atrativas, coloridas e saudáveis.

Estudos feitos por especialistas das áreas de saúde e meio ambiente apontam que existem cerca de 350 espécies de plantas alimentícias não convencionais. As ervas são de fácil cultivo, resistem ao sol e à baixa umidade e têm o mérito de serem ricas em proteínas e de proporcionar enormes benefícios à saúde humana. Elas combatem afecções na pele, protegem o fígado, controlam os níveis de diabetes e contribuem para a melhoria da desnutrição e da anemia, entre outros agravos.

Com o propósito de divulgar a população os benefícios das plantas alimentícias não convencionais, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), por meio do Centro de Especialidades em Práticas Integrativas e Complementares (Cremic) – antigo Hospital de Medicina Alternativa –, realizou a oficina Vida Plena – Hábitos para desintoxicar e energizar mente e corpo.

O evento, que reuniu cerca de 40 profissionais de saúde, sintetiza o início de um processo que visa o incentivo à adesão de dessas ervas no cardápio do dia a dia. Apesar de serem pouco conhecidas pela população, as plantas alimentícias não convencionais foram muito consumidas por nossos ancestrais. Na prática, o incentivo ao uso destes itens representa um retorno às boas práticas realizadas no passado, quando as pessoas alimentavam-se das folhas cultivadas no próprio quintal. A médica fitoterapeuta Lívia Carneiro destaca a importância do consumo dessas ervas. “A ciência está mostrando que a riqueza nutricional dessas plantas é maior.

Elas têm mais proteínas, mais sais minerais, como cálcio e ferro; mais ólegos elementos, como zinco e selênio, que são importantíssimos para nossa imunidade”, pontua. Além disso, acrescenta a médica, por serem rústicas, as plantas alimentícias não convencionais têm raízes mais fortes, mais profundas, que retiram mais nutrientes da terra. Um complemento às hortaliças Uma manhã de degustação com produtos naturais. Além do bolo de banana e aveia acrescido com o feijão borboleta, os profissionais que participaram da oficina Vida Plena – Hábitos para desintoxicar e energizar mente e corpo tiveram a oportunidade de experimentar o leite de coco batido com o feijão borboleta, suco verde e um pão feito com o uso de quinoa, chia, açafrão e folhas frescas de salsa, couve, oro-pro-nobis, bertalha, beldroega, espinafre amazônico, caruru e coentro, entre outros ingredientes.

A farmacêutica do Centro de Especialidades em Práticas Integrativas e Complementares (Cremic), Renata Kelly Nascente Carneiro, diz que a oficina, além de representar o início do processo para o resgate das ervas comestíveis, integra a programação de 30 anos de fundação do Cremic, denominado anteriormente de Hospital de Medicina Alternativa. Os servidores que participaram da oficina terão a missão de multiplicar o conhecimento apreendido com técnicos de outros municípios. Renata Kelly afirma que a direção do Cremic vai assumir o desafio de sensibilizar os gestores da área da Educação para que estes itens sejam absorvidos aos produtos que compõem a merenda escolar.

O preparo do pão com o uso das ervas foi feito pelo pedagogo José André Verneck Monteiro, mestre em Práticas para o Desenvolvimento Sustentável. Apaixonado pelos benefícios proporcionados pelas plantas alimentícias não convencionais, ele cultiva em uma área localizada na Vila Rosa, em Goiânia, cerca de 50 espécies destas ervas comestíveis, entre as quais oro-pro-nobis, bertalha, moringa, espinafre amazônico, vinegreira e feijão borboleta. Verneck assinala que as plantas alimentícias não convencionais, conhecidas pela sigla pancs, representam uma alternativa ou um complemento às hortaliças tradicionais como alface, brócolis, salsa, entre outras. A diferença, assinala, é que as plantas comestíveis são produzidas sem o uso de agrotóxicos.

Além de fazer o bem, combatendo infecções e melhorando a imunidade, as ervas são destituídas de qualquer tipo de defensivo agrícola, nocivo à saúde. O mestre em Práticas para o Desenvolvimento Sustentável defende o cultivo das plantas alimentícias não convencionais pelas famílias, em pequenos espaços do quintal ou mesmo em vasos, nos apartamentos. Além do pão verde, ele prepara e comercializa diversos outros pratos em feiras e eventos voltados à valorização dos produtos orgânicos.

Plantas que curam

Ora-pro-nobis – É um cactos nativo do território brasileiro, presente em várias regiões. Tem o formato de um arbusto escandente que se assemelha a uma roseira de galhos moles. Suas folhas são ricas em proteína

Bertalha – Trepadeira de origem asiática, tem alto teor de magnésio, cálcio e ferro. É uma planta de crescimento vigoroso, que se propaga com facilidade. São consumidos os ramos jovens e as folhas

Espinafre amazônico – Planta nativa do Brasil, usada pelas populações do Norte, Cultivado a sol, a meia sombra, tem folhas generosas que se propagam facilmente por meio dos brotos que nascem lateralmente. Pode ser consumida crua ou cozida

Feijão borboleta – Trepadeira de origem asiática, oferece flores comestíveis com corante arroxeado natural. Pode ser usada em chá, arroz colorido e sucos. Combate afecções da pele, protege o fígado e controla o nível de diabetes

Moringa – Originária da Índia, é uma arvoreta de crescimento rápido, resistente à seca, com folhas alto teor de nutrientes, proteína e ferro. É usada por organizações de combate a déficit nutricional

Governo na palma da mão

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