SES reúne instituições em debate sobre saúde mental

Com a participação de mais de 300 profissionais, fórum debate necessidades do setor, com vistas à definição de novas ações estratégicas 

“Goiás é um Estado central que pode germinar uma nova visão de política de saúde mental”, afirmou o sociólogo e autor da reforma psiquiátrica, Paulo Delgado, durante aula magna no Fórum de Saúde Mental: Visões do Presente, realizado pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), nesta sexta-feira, 13, no auditório da Escola de Saúde de Goiás, em Goiânia.

Paulo Delgado fez uma retrospectiva de todo o processo de construção da Lei Antimanicomial, que extinguiu de forma progressiva os manicômios psiquiátricos no Brasil. O sociólogo e ex-deputado federal comemorou a realização do fórum, e parabenizou os agentes envolvidos na construção desses espaços para debate e construção de políticas consolidadas para a Rede de Atenção Psicossocial (Raps).

“A multidisciplinaridade profissional que atua na área de saúde mental e a participação da população nessa construção permite que avanços sejam notáveis na saúde mental”, avalia o sociólogo, ao fazer referência sobre a importância da aplicação da lei e, principalmente, as novas políticas desenvolvidas a partir da reforma. As variadas mudanças no contexto social do Brasil também foi ressaltado por ele, como o surgimento de novas drogas que atingem diretamente a saúde mental.

Intersetorialidade

Paulo Delgado finalizou acrescentando que esses momentos de debate, com participação múltipla, são oportunos para a atualização da lei, que deve se adequar às novas realidades do País. “É glorioso ver esse auditório cheio de profissionais de diversos setores que atuam diretamente no cuidado aos pacientes na saúde mental. O debate plural possibilita adaptação, resultando em melhoria de atendimento para a população”, comemorou.

O chefe da SES-GO, Ismael Alexandrino, afirmou que a realização do fórum com a participação de importantes instituições permite que as reais necessidades da população sejam entendidas e, consequentemente, a gestão estadual possa propor ações mais resolutivas para a saúde mental.

“Precisamos ouvir os diversos atores e pensamentos que atuam nessa área”, conclamou Alexandrino. “Juntos, cada um com seu valor agregado, possibilita um crescimento e aprimoramento das ações da secretaria”, acrescentou. Integram o evento Conselho Estadual de Saúde (CES), Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), Conselho Regional de Psicologia de Goiás (CRP-GO), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego)

O secretário lembrou ainda o conceito definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que trata a saúde como o bem-estar físico, mental e social. Ele defende que, a partir desse fórum, será possível definir estratégias mais específicas para a população.

“Esses pacientes precisam de um Sistema Único de Saúde e seus princípios bem definidos, incluindo a reinserção social, como o trabalho musical”, disse, em referência à banda musical com pacientes do Centro de Assistência Psicossocial (Caps) de Senador Canedo, que se apresentou musical na abertura do evento.

Descentralização de serviços

A superintendente de Políticas Sobre Drogas e Condições Sociais Vulneráveis da SES-GO, Candice Rezende Castro e Macedo, comemorou a participação maciça de 315 profissionais no Fórum. Para ela, realizar o encontro é uma oportunidade para consolidar a Raps no Estado e disseminar a importância dos gestores municipais na instalação de Caps em seus municípios.

“Goiás conta com 80 Caps habilitados, e sabemos que, com a descentralização dos serviços da capital, regionalizando a saúde mental, podemos oferecer mais qualidade aos pacientes que precisam desse atendimento”, reforçou.

A programação do fórum incluiu apresentação de painéis pelo MP-GO, CRP, UFG, CES e SEDS, com participação de profissionais de todas as regiões do Estado.

Mídia e pesquisas

No período da tarde, o médico Renato Mello Rodovalho abordou a importância da mídia para desmistificar o tratamento psiquiátrico e esclarecer a sociedade sobre a saúde mental. “É preciso falar mais sobre a psiquiatria e a doença mental, desestigmatizar esse assunto, que tem afetado cada vez mais pessoas na nossa sociedade e que muitas vezes não é esclarecido de forma adequada”, destacou.

Rodovalho afirmo que os transtornos mentais têm grande relevância para a saúde pública. Entre crianças e jovens de 10 a 24 anos, por exemplo, a terceira principal causa de mortes é o suicídio, que está diretamento ligado às doenças psiquiátricas. As duas primeiras são o homicídio e os acidentes de trânsito.

“Esses dois fatores também podem estar associados aos problemas mentais, pois são pacientes que podem ter transtornos, envolvem-se com crime, com tráfico ou com álcool e drogas, que podem causar acidentes. Isso quer dizer que a demanda é muito maior do que aparenta ser”, ressaltou.

A professora da UFG Camila Caixeta avaliou a importância das pesquisas científicas para a elaboração de políticas públicas para a saude mental. “Como usamos métodos validados e maduros, conseguimos abstrair informações e dados dos trabalhadores, dos usuários e dos gestores, sistematizar e tirar uma fotografia da situação apontando caminhos para a gestão”, considerou.

Representando o CRP, Ana Lourdes de Castro apresentou um relatório de visitas a hospitais psiquiátricas e a comunidades terapêuticas. “Constatamos que ainda há muitas violações aos direitos humanos nesses locais, por isso, é necessário que tenhamos um novo modelo”, alertou.

Felipe Cordeiro e Patrícia Almeida (texto), Brito (foto)

 

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