Pré-natal de qualidade e prevenção podem evitar morte de mulheres

Com índice acima do indicado pela OMS, Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna no Brasil tem ainda maior relevância neste 28 de maio

No Brasil, 62 mulheres perdem a vida a cada 100 mil nascidos vivos. Goiás tem um número um pouco menor, 53 óbitos maternos em 2016 e 58 em 2015. Apesar de estáveis, as taxas ainda estão acima da preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o que mantêm as autoridades de saúde em alerta, sobretudo neste 28 de maio, Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.

“A data permanece no centro da agenda da saúde global e do desenvolvimento mundial, pois a redução da mortalidade materna é um indicador de desenvolvimento social”, confirma a gerente de Saúde da Mulher, Criança e do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Cárita Cristina M. Figueiredo de Castro.

O Ministério da Saúde (MS) define morte materna como “a morte de uma mulher, ocorrida durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devido a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela”. As principais causas são: hipertensão (pré-eclâmpsia e eclâmpsia), hemorragias graves (principalmente após o parto), infecções puerperais (normalmente depois do parto), complicações no parto, abortos inseguros e doenças cardiovasculares (DCV) que complicam a gravidez, parto e puerpério.

Causas evitáveis

A mortalidade materna no Brasil por causas evitáveis continua três ou quatro vezes maior em relação aos países desenvolvidos e com uma velocidade de queda abaixo do esperado. É uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), cujo propósito é reduzir a taxa global de mortalidade materna para menos de 70 por 100 mil nascidos vivos. O Brasil pactuou em reduzir para 30 o número de óbitos maternos para cada 100 mil nascidos vivos.

Segundo a gerente de Saúde da Mulher, Criança e do Adolescente, a literatura descreve que 95% dos óbitos maternos no mundo poderiam ser evitados por ações dos serviços de saúde, a partir de atenção adequada ao pré-natal, ao parto e ao abortamento. A informação é confirmada pelo médico ginecologista e obstetra e preceptor da Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Estadual Materno-Infantil Dr. Jurandir do Nascimento (HMI), João Lino Franco Borges.

O médico lista alguns dos fatores essenciais para a redução da mortalidade, tais como uma rede de assistência bem preparada e com pontos de atenção identificados; fazer o planejamento da gravidez e acompanhamento pré-natal de qualidade, para reconhecimento mais rápido de fatores de risco e equipes de saúde treinadas. “Se a mulher busca um atendimento antes da concepção da gravidez, é possível fazer o diagnóstico e tratar os problemas, impactando na evolução e prevenindo as consequências de uma gestação de risco”.

Gestação ideal

De acordo com a ginecologista e obstetra do HMI, Larissa Tito, a situação ideal é a de que o casal que deseja ter filhos faça uma avaliação pré-concepcional, antes de suspender o método contraceptivo. “Essa avaliação nada mais é do que uma consulta médica com objetivo de identificar fatores de risco ou doenças que possam alterar a evolução normal de uma futura gestação. Além do exame clínico, são importantes exames laboratoriais e de imagem, vacinas e administração preventiva de ácido fólico para a prevenção de algumas malformações fetais. Nesse momento, a mulher pode ser também esclarecida sobre seu ciclo menstrual e período fértil, alimentação balanceada, hábitos de higiene e efeitos nocivos do uso de drogas lícitas ou ilícitas”.

A médica também acrescenta que o pré-natal adequado “é mais do que simplesmente uma série de consultas médicas, é um momento singular de educação em saúde, incluindo a paciente inclusive na tomada de decisões. A gestante deve fazer, no mínimo, seis consultas durante toda a gestação. A depender de cada fase, serão solicitados exames complementares que possibilitarão acompanhar o desenvolvimento do bebê e a saúde materna e fetal. Geralmente, são exames de sangue, urina e ultrassonografias”, completa.

Evento social

João Lino reforça que o nascimento de uma criança é um evento social, pois representa o nascimento de uma família e de uma mãe. Ele explica que a SES, inclusive no HMI, tem trabalhado na implantação das Boas Práticas de Parto e Nascimento, instituída por portaria do MS.  “A mulher é colocada no centro do processo do parto, tendo seus diretos garantidos, que, comprovadamente, impactam no vínculo mãe-criança, na experiência da amamentação e inclusive trazem benefícios fisiológicos para a criança”.

Para cumprir o critério global Cuidado Amigo da Mulher, a unidade de saúde deve promover o direito da mulher a ter um acompanhante da sua escolha; incentivar a movimentação durante o trabalho de parto; disponibilizar métodos não farmacológicos para alívio da dor e garantir um ambiente tranquilo e acolhedor, entre outros.

 

Estratégias da SES

A gerente Cárita de Castro lista as ações estabelecidas pela Saúde de Goiás para a redução da mortalidade materna no Estado. São elas:

– Acesso ao pré-natal de qualidade e precocemente: curso de pré-natal risco habitual para a Atenção Primária, estratificação de risco para gestantes

– Atenção ao parto e puerpério: fortalecimento da Rede Cegonha, implementação da Linha de Cuidado à Gestante

– Direito Sexual e Reprodutivo: uso do DIU no pós-parto e pós-abortamento imediato, DIU para adolescentes

– Cuidados no puerpério: oficinas de capacitação por meio da Estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia (Opas/OMS e Ministério da Saúde)

– Investigação de todos os casos de óbito materno: revisão de todos os casos de mortalidade materna pelos comitês de morte materna, contemplando não só a investigação dos casos, mas também a recomendação de medidas para evitar um novo óbito.

Daniela Becker, da Comunicação Setorial

Foto: Andre Borges/Agência Brasília

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