“Ele foi um milagre de Deus”, diz a noiva, que aguardou praticamente morando em frente ao Hospital Regional, uma das unidades do Governo de Goiás no Entorno do DF

Momentos de dificuldade extrema proporcionam atitudes que pegam todos de surpresa, a exemplo do caso do mecânico industrial Júlio Camargo. Depois de 39 dias internado no Hospital Regional de Luziânia, 25 deles na Unidade de Terapia Intensiva, o morador de Jaguará (GO), ao receber alta, decidiu pedir a namorada em casamento.

O “sim” veio da analista de sistemas Fabiana Fernandes. A mais de 230 km de distância de casa, a agora noiva ficou os 39 dias do lado de fora da unidade do Governo de Goiás no Entorno do Distrito Federal, acompanhando a recuperação de Júlio, Porém, quem vê a alegria na alta não imagina a aflição vivenciada por Fabiana ao acompanhar o namorado lutando pela vida a cada segundo de internação.

Os primeiros sintomas de Júlio começaram a aparecer em meados de janeiro, quando procurou ajuda em um posto de saúde em Jaraguá, cidade natal do casal. Lá recebeu oxigênio, porque sentia muita falta de ar. Após três dias, foi intubado e imediatamente transferido para o HRL, sendo encaminhado diretamente para a UTI.

O mecânico estava com 75% de comprometimento dos pulmões, além da pressão muito baixa. Três dias depois, os rins de Júlio pararam de funcionar, precisando de hemodiálise. Os pulmões pioraram e Júlio foi entubado. Ele também apresentou infecção generalizada, sendo classificado como caso gravíssimo.

“Nesse momento, não perdemos a esperança. Todos ficaram em oração para que Deus pudesse curá-lo. No 15° dia, o padre veio até ele conceder a unção dos enfermos pela tarde, já imaginando o pior. Mas, à noite, ele conseguiu abrir os olhos pela primeira vez”, conta Fabiana. Dois dias depois, Júlio foi desintubado e começou a se recuperar.

O pedido
O casal se conhece há muitos anos, mas começou a namorar em 2017. Nesses quase quatro anos de namoro, o assunto casamento foi debatido diversas vezes entre os dois, mas sempre chegando à conclusão de que ainda não era a hora.

O momento chegou com a experiência de sobreviver a uma das piores doenças, o coronavírus. Toda a equipe do hospital e familiares presenciaram o momento que Júlio pediu Fabiana em casamento. Com a ajuda do pessoal da unidade, Júlio fez uma plaquinha com os dizeres: “Fabiana, aceita casar comigo?”. Conseguiu também um buquê de flores. O cenário do pedido emocionou a todos que presenciaram a cena.

O casamento ainda não tem data marcada, mas o casal deseja realizar a cerimônia o quanto antes. “Ele me contou que, assim que ele conseguir caminhar com segurança, ele vai marcar a data na igreja”, diz a noiva.

Alerta 
Com a crescente alta de casos, internações e mortes devido à covid-19, Júlio deixou uma mensagem para a população, alertando sobre seus perigos. “As pessoas devem ter muita responsabilidade,  porque o vírus não escolhe idade, cor e ou estado social. Neste momento, se as pessoas se infectarem, não haverá mais vagas para internação nos hospitais, não há mais leitos de UTI.”

O mecânico avisa ainda sobre os erros cometidos por muita gente, do ponto de vista dos protocolos de segurança. “Não é momento de festa, não é momento de barzinho, de jogo de futebol. É momento de ter consciência e evitar que essa doença se propague cada vez mais.”

Luiz Fernando Fernandes (texto e foto)/Imed