Dia de Luta contra AIDS é lembrado no Condomínio Solidariedade
O Dia Mundial de Luta Contra a AIDS foi marcado, em Goiás, pelo 1º Encontro do Condomínio Solidariedade, realizado, em 1º de dezembro, na sede do Condomínio, na Avenida das Bandeiras, em Goiânia.
O evento começou às 8h da manhã e segue até às 17 h, com palestras, apresentações artísticas, oficinas, rodas de conversa e momentos de confraternização.
As perspectivas do portador de HIV e a evolução dos tratamentos deram a tônica do evento, aberto pela diretora técnica do Condomínio Solidariedade, Analzira Nobre. Ela lembrou que o surgimento da doença foi um desafio para todos os profissionais de saúde, que não sabiam ao certo o que fazer. “Hoje nós sabemos como tratar, como estabilizar e como proporcionar qualidade de vida. Com isso, lidamos com uma nova realidade, a de pessoas envelhecendo com AIDS”, disse.
O envelhecimento, naturalmente, implica no surgimento de doenças e na perda do vigor físico e, no caso dos portadores de HIV, a situação fica ainda mais delicada. A boa notícia é que os medicamentos provocam cada vez menos efeitos colaterais e são cada vez mais eficientes no controle da carga viral e na prevenção de doenças oportunistas.
A superintendente da Superintendência de Política de Atenção Integral à Saúde (SPAIS), Evanildes Fernandes, alertou para o fato que, apesar desses avanços, o estigma “infelizmente ainda existe”, mas as políticas de atenção aos portadores contemplam a conscientização da população, em geral, no sentindo de acolher e respeitar o doente de HIV. Ela lembrou que o HDT (Hospital de Doenças Tropicais) e o Condomínio Solidariedade são referências de tratamento e que a tendência sempre é de ampliação da oferta de serviços. “Não podemos ficar numa situação confortável, temos sempre que buscar o aperfeiçoamento e a superação”, afirmou.
Os dados mais recentes apontam crescimento da doença entre jovens gays e mulheres casadas e, segundo os palestrantes, o assunto precisa ser colocado em discussão dentro das casas. Segundo o pastor Edson Santana, do Conselho Municipal de Saúde, ainda é grande o número de “viúvas da AIDS”, mulheres que descobriram o HIV após o adoecimento dos maridos. Quase sempre, eles contraíram o vírus em relações extraconjugais sem proteção.
“Ao contrário do que vigora no imaginário popular, as mulheres casadas ou em relações estáveis, são mais vulneráveis que as profissionais do sexo”, esclarece o conselheiro. Quanto aos jovens homossexuais, ainda é comum que eles sejam rejeitados pelas famílias e tenham que viver sem orientações. “Quando não é isso, a falta de prevenção se dá pelo fato de que a AIDS não parece mais tão assustadora”, acrescenta.
Edson Santana acredita que hoje é o dia de todos os envolvidos na prevenção e controle da AIDS se perguntarem onde estão errando. “Temos o que comemorar mas temos que nos perguntar: o que precisamos fazer ? Como podemos proteger aquele que ainda está se contaminando ? O Dia de Luta é, sobretudo, um dia de reflexão”.
O palestrante João Alves falou dos desafios das novas tendências da infecção pelo HIV/AIDS e informou que os grupos de mais difícil tratamento são os moradores de rua e os encarcerados. Os motivos são diferentes e as estratégias de adesão também precisam ser. “As causas mudam e temos que estar atentos às peculiaridades de cada grupo. Só assim vamos evitar que abandonem o tratamento”.
O portador Normando Carvalho, 43, não tem medo de revelar o nome nem o rosto. Ele convive com o vírus há 24 anos e já esteve à beira da morte diversas vezes. Por experiência própria, sabe o quanto os medicamentos melhoraram, o quanto o Condomínio Solidariedade se revitalizou nos últimos dois anos e as peculiaridades de quem vive com AIDS. “Quem tem e finge que não sabe, não tem chance de melhorar. A gente pode sofrer, chorar, mas tem que reagir e escolher viver. Foi o que eu fiz e vou continuar fazendo. Quero envelhecer e dizer que conseguir viver com AIDS”, ensina.