De agulha em agulha, Cremic leva qualidade de vida a pacientes

Especialidade terapêutica oferecida pelo SUS é aplicada a cerca de 300 pacientes por mês na unidade, que integra a rede de atendimento da SES

Alguém menos desavisado poderia até se assustar ao ver o autônomo Hulbertizane Antônio Silva, de 45 anos, deitado numa maca com pequenas agulhas espetadas na testa, no couro cabeludo, no cotovelo, e nos pés. “Deve doer”, imaginaria o espectador, se não conhecesse as técnicas e os benefícios da acupuntura, uma das terapias oferecidas pelo Centro Estadual de Referência em Medicina Integrativa e Complementar (Cremic). Outro aviso, para espantar o medo de agulhas: o procedimento não dói; pelo contrário, combate dores do corpo, oriundas de diversos problemas, como fibromialgia e polineuropatia, ansiedade, insônia e outros males emocionais.

Hulbertizane é um dos 300 pacientes que se beneficiam da acupuntura todos os meses no Cremic, uma das unidades da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES). Segundo dados da diretora da instituição, Mara Rúbia Ferreira, ele não faz parte do grupo maioritário entre os pacientes, atendidos no Cremic de segunda a quarta-feira, pela manhã, e na sexta-feira, nos dois períodos do dia. “A maioria são mulheres acima de 50 anos”, informa a diretora do Cremic, local onde a acupuntura é praticada há 25 anos.

É também o caso da aposentada Amarilda Abadia de Moura, 57, que busca na terapia um alívio para dores no quadril e na lombar, causadas por uma hérnia de disco que a acompanha por dez anos. Amarilda já passou também por fisioterapia, no próprio Cremic, natação e outra terapia, da qual não se recorda o nome. “Gostei mais da acupuntura”, revela. “Melhorei muito, tinha dor constante no ciático e até no pé, mas passou”, diz ela, que foi indicada ao Cremic, via regulação, por médico de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Goiânia.

Hulbertizane Silva, por sua vez, encontrou na acupuntura alívio para dores de cabeça constantes, resultado de uma enxaqueca crônica. “Graças a Deus, está dando uma diminuída bacana (na dor)”, relata o autônomo. “Quando ela vem, vem muito forte”, conta Hulbertizane, que é atendido no Cremic às quartas-feiras pela manhã. E os resultados já apareceram. “Setenta por cento das dores desapareceram”, compara, ao lembrar que está em sua quarta sessão.

Acupunturiatras

A melhora no quadro de Hulbertizane coincide com a definição das médicas acupunturiatras Tânia Mara Lourenço e Adriana Crispim de Azevedo Brito, do Cremic, cujo quadro conta ainda com outra médica e deve ser reforçado em breve por mais dois profissionais, segundo a diretora Mara Rúbia. “(Por volta da quinta sessão) Há alguma resposta, que sem mantém no organismo, mas menos de cinco não, exceto em casos de dor aguda, que pode ajudar a sair da crise de dor em uma sessão”, compara a Tânia.

Na mesma linha de raciocínio, Adriana acrescenta que são levados em conta, ainda, a idade do paciente, a causa e o tempo da doença e até mesmo a dedicação do paciente. “Tem aquele que se dedica mais, é mais cuidadoso e adere a tratamento de forma geral”, aconselha. E, claro, as sessões podem exceder as dez geralmente receitadas, conforme definição do Sistema Único de Saúde (SUS)

“Quando nos deparamos com pacientes portadores de doenças incuráveis ou degenerativas, que precisam de mais sessões, fazemos o relatório informando essa necessidade”, explica a médica. “Não objetivamos a cura, mas é um complemento, para ajudar a aliviar dores, a ansiedade que a doença provoca”, acrescenta Tânia, no caso, por exemplo, de pacientes com câncer. “A acupuntura contribui com o tratamento, sem excluir outros”, destaca. “O tratamento é complementar, não substitui outro medicamento ou tratamento, mas, nas práticas alternativas e complementares, reduz ingestão de medicamentos”, continua.

Adriana cita ainda casos de pacientes que têm alergia a algum medicamento, como anti-inflamatório, para os quais se torna uma das poucas alternativas. Nesses casos, reduzem-se os efeitos colaterais. Ela lembra ainda que, em alguns tipos de doença, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica a acupuntura como tratamento semelhante ao medicamento, sem efeitos colaterais. “Quando é possível substituir analgésicos, antidepressivos e anti-inflamatórios, por exemplo, a acupuntura se torna opção viável, por não ter efeitos colaterais, e muitos preferem isso”, garante.

Existe cura?

Mas existe cura na acupuntura? “Depende da causa”, respondem as médicas. Partes moles e inflamatórias, em casos como bursite, tendinites, em que não ocorre ruptura com indicação cirúrgica, por exemplo, podem ter boas respostas com a acupuntura. “Às vezes, o que levaria oito meses para curar sozinho, pode ser curado em dez sessões”, compara Adriana.

A médica ressalta, porém, que na acupuntura ou no tratamento medicamentoso é fundamental que o paciente busque hábitos saudáveis, sobretudo em casos de dores provocadas por atividades repetitivas. “É preciso fazer paradas regulares, exercícios, alongamentos. Da mesma forma que o tratamento com medicamento, se a pessoa não mudar os hábitos, o problema vai voltar”, alerta. Já a médica Tânia Mara Lourenço sugere ainda uma melhor alimentação, ingesta regular de água, acompanhamento psicológico e até mesmo outras terapias, como meditação, reike, auriculoterapia – disponíveis também no Cremic.

Você sabia:

– A acupuntura é uma terapia que integra a Medicina Tradicional Chinesa. Sofre, porém, adaptações ocidentais, introduzidas por estudos neuroendócrinos.

– A terapia é baseada na liberação de neurotransmissores. A agulha atinge o neurônio que faz as conexões, atingindo a medula espinhal, ascendendo até o sistema nervoso central, estimulando a liberação de dimorfina,  encefalinas e endorfinas, que, por sua vez, são liberadas no sistema nervoso central.

– A acupuntura ou acupunturiatria, pela legislação em vigor, é uma especialidade médica que exige formação em medicina e especialização com chancela do Conselho Regional de Medicina (CRM) e da Associação Médica Brasileira (AMB).

– Odontólogos e médicos veterinários com esses critérios atendidos podem atuar com acupuntura em suas respectivas áreas.

– As agulhas utilizadas na acupuntura são descartáveis – elas são vendidas em caixa com mil unidades.

– Não há um número nem locais fixos de aplicação das agulhas. O número de aplicações depende de cada caso e perfil de paciente. Uma pessoa que sofre de convulsões, por exemplo, terá todo um procedimento especial, o que também exige qualificação profissional.

– Antes de qualquer aplicação, o acupunturiatra sempre conversa com o paciente, em uma consulta detalhada, de até mais de uma hora, para definir a melhor forma de aplicar a terapia, inclusive o número de sessões.

José Carlos Araújo (texto); Erus Jhenner (fotos), da Comunicação Setorial

Foto capa: Bigstock

 

Tânia Mara Lourenço e Adriana Crispim de Azevedo Brito, médicas acupunturiatras do Cremic

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