Credeq estrutura rede de inclusão social dos pacientes
Foco é aumentar as probabilidades de sucesso do tratamento, antes e depois do doente passar pela instituição
Desde que foi inaugurado há quatro meses, o Centro de Referência e Excelência em Dependência Química, Aparecida de Goiânia (Credeq Prof. Jamil Issy), tem trabalhado para estruturar uma rede que amplifique as probabilidades dos seus pacientes obterem sucesso com a terapia contra a dependência química implementada pela instituição.
A estratégia é estabelecer parcerias com setores sociais de administrações municipais, que garantam acesso dos internos e de seus familiares, aos programas e projetos sociais durante e após o tratamento. A primeira parceria foi firmada com Aparecida de Goiânia e até o final deste mês estão agendadas reuniões com outros dois parceiros em potencial – Goiânia e Senador Canedo.
A meta inicial do trabalho – que está sendo desenvolvido pelos setores social e de planejamento – é articular pactos com os 16 municípios (Abadia, Aparecida de Goiânia, Aragarças, Caldas Novas, Goianésia, Goiânia, Goianira, Inhumas, Itaberaí, Ituaçu, Mineiros, Morrinhos, Rubiataba, Senador Canedo, Uruaçu e Uruana) que têm encaminhado pacientes para o Credeq Prof. Jamil Issy. Posteriormente, essa abrangência será ampliada.
Inaugurado em 23 de junho de 2016, o primeiro paciente foi internado no dia 27 de junho. A instituição, que é uma unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES), atendeu, até a primeira semana de novembro, 136 pacientes, sendo que 74 passaram pela internação e os outros 62 foram avaliados pela equipe multiprofissional (psiquiatra, psicólogos, assistente social e enfermeiro), mas não foram inseridos no protocolo terapêutico por não se adequaram ao perfil do Credeq Prof. Jamil Issy.
Referenciamento
Nesse período de atividades, o Credeq Prof. Jamil Issy recebeu dependentes químicos com idade entre 18 e 72 anos, sendo que a prevalência (81%) foi para pessoas com idade entre 18 e 43 anos de idade. Dentre os municípios que encaminharam pacientes, a capital goiana foi a que mais referenciou, com cerca de 65% dos encaminhamentos.
Atualmente, existem 30 pessoas em tratamento. Os pacientes do Credeq Prof. Jamil Issy são regulados por meio dos 11 Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), distribuídos por diferentes municípios goianos. A previsão é de que, ao atingir a sua capacidade plena, a instituição de saúde passe a prestar atendimento às pessoas referenciadas pelos 74 CAPS goianos e pelas unidades básicas de saúde dos municípios desprovidos de Caps.
Transtorno mental
O Credeq Prof. Jamil Issy é um hospital psiquiátrico, uma vez que a dependência química é resultante de transtorno mental, como qualquer outro problema psiquiátrico ou neurológico. De acordo com o diretor técnico da unidade de saúde, psiquiatra Tiago Oliveira, a dependência é uma enfermidade crônica, progressiva e fatal.
Como em outras patologias, a intensidade dos casos matiza entre leves e severos. Essas pessoas, tanto pacientes, como familiares, precisam de assistência extremamente especializada e qualificada. Algo até então disponível apenas em serviços particulares e a um custo inacessível para a maior parte da população.
Hospitalizar
Nesse contexto, o governo do estado de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, desenvolveu o projeto Credeq, cuja primeira unidade está em funcionamento desde junho deste ano. O Credeq Prof. Jamil Issy, em Aparecida de Goiânia, acolhe casos graves e severos de dependência, que exigem atendimento intensivo por parte de uma equipe especializada, com suporte para hospitalização.
Tiago Oliveira contesta o rótulo de manicômio atribuído por alguns setores da sociedade. “Quem classifica o Credeq como manicômio não enxerga a Psiquiatria como área da Medicina e a dependência como doença. Uma ótica sinuosa, cujo foco alcança apenas Credeq, mas se esquiva de permear as clínicas particulares que atuam na internação, compulsória ou não, de dependentes químicos”.
Tratamento
Fundamentado na humanização e no investimento com o bem-estar do paciente, o protocolo terapêutico do Credeq Prof. Jamil Issy considera as ferramentas científicas e emocionais para vencer a batalha contra a dependência química. Nesse cenário, o paciente no Credeq Prof. Jamil Issy não está preso a nenhum leito e os medicamentos são utilizados para tratar apenas sintomas nos processos de desintoxicação e terapêutico.
Quando é internada na unidade, a pessoa permanece no regime de desintoxicação (Detox), que dura sete dias. Em seguida, é incorporada ao grupo maior de pacientes, que obedecem a uma rotina que tem início às 7h30 (café da manhã) e finda às 18 horas (jantar). Nesse período, o paciente participa de terapia coletivas e individuais, como atividades esportivas (musculação, hidroginástica, aeróbica, jogos de quadra, jogos de mesa), ações psicológicas, musicoterapia e horticultura. No período matinal de sábado, acontece a visita dos familiares.
Em sua permanência no Credeq Prof. Jamil Issy, o paciente divide o seu quarto com um outro paciente. Cada uma das oito UTR (Unidade de Tratamento Residencial) tem seis suítes, com 12 leitos cada.
Esses espaços foram criados com a intenção de replicar um ambiente familiar e restituir o interno à rotina social de uma residência. A maior parte das pessoas que está em tratamento também reaprende higiene pessoal, como se alimentar em grupo e à mesa, além de rememorar meios para manter seus pertences limpos e em ordem.
“A dependência química não apenas desestrutura a parte fisiológica da pessoa, mas suas relações sociais e comportamentos básicos para se manter saudável”, esclarece o psiquiatra Tiago Oliveira.
Horticultura
Entre as inúmeras opções terapêuticas, o Credeq Prof. Jamil Issy, em parceria com o escritório local da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater de Aparecida de Goiânia), está disponibilizando tanto a formação teórica e prática em horticultura, quanto espaços físicos para formação dos canteiros.
Neste primeiro instante, estão sendo criadas duas hortas, com 12 canteiros, de aproximadamente quatro metros cada. As hortas serão cultivadas em função de cada UTR. A princípio serão plantadas hortaliças, tubérculos e plantas medicinais. A parceria com a Emater prevê, ainda, a viabilização de outros projetos, como o Pomar, a Lavoura Urbana e o Quintal Legal. A participação do paciente nessa terapia é opcional, pois é respeitada a restrição de cada um, fazendo com que o projeto terapêutico singular esteja em constante adaptação.
Fonte: Credeq