Casos de câncer de mama não têm elo com césio-137, aponta estudo
Um estudo da Sociedade Brasileira de Mastologia mostra que os novos casos de câncer de mama em mulheres de Goiânia não têm relação com o acidente radiológico com o césio-137, ocorrido em setembro de 1987. Além disso, a pesquisa aponta que não há ligação entre a doença e níveis de renda ou adensamento populacional.
De acordo como presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Ruffo de Freitas Júnior, a pesquisa não foi motivada por um aumento no número de casos de câncer de mama na região. “Existe o aumento no número de casos, isso infelizmente acontece. Mas esse aumento em Goiânia tem a mesma proporção de outras cidades. Isso já mostra que não existe uma relação entre o césio e os tumores”, disse.
Durante o estudo, foram medidos, entre 2010 e 2014, os níveis de radiação em milhares de pontos na região central da cidade, local onde aconteceu o acidente radiológico, e não foi encontrado nenhum nível fora dos padrões estabelecidos nacional e internacionalmente. Além disso, foi feito um mapeamento de onde as mulheres que têm a doença moram.
“Colocando o mapa das medições da radiação e de onde as pacientes vivem, percebemos que não há qualquer ligação entre as duas análises”, esclareceu o presidente da entidade.
Diante dessas conclusões, Júnior destaca a importância do estudo. “Isso coloca uma pedra em cima da questão que todo o país questiona, que é sobre o acidente e as consequências. Isso tem uma implicação social, financeira e médica para toda a população. Podemos assegurar com muita tranquilidade que não há relação entre o césio e o câncer de mama”, explicou.
Ainda de acordo com o médico, grande parte da doença está ligada à mudança de vida, atividades físicas e consumo de hormônios pela população.
Câncer
O médico destacou que o principal fator para dar uma maior chance de cura para as pacientes é o diagnóstico no estágio inicial, possibilitado pelos exames de rotina. Atualmente, cerca de 50 mil novos casos são registrados anualmente em todo o Brasil.
Para a psicóloga Márcia de Faria Veloso, esses números estão ligados a vários fatores. “Falta de informação, de conscientização, medo de um diagnóstico de câncer, medo de dor ao realizar a mamografia e outras questões que impedem elas de chegar a tempo em um estágio inicial do câncer, que tem cura”, disse.
Para a pensionista Berenice Rosa Guimarães, a doença é muito chocante, mas participar de grupos de assistência aos pacientes ajuda no tratamento. “Você quer morrer, você acha que chegou no fundo do poço, que acabou a vida para você. Mas aí vem a força, a gente vira uma irmã, família”, disse.
Césio-137
A tragédia envolvendo o césio 137 matou 4 pessoas e deixou outras 12 com sequelas irreversíveis. O incidente teve início depois que dois jovens catadores de papel encontraram e abriram um aparelho contendo o elemento radioativo. A peça foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava uma clínica desativada.
Mesmo passadas mais de duas décadas da tragédia, o acidente ainda deixa resquícios de medo. Um exemplo é a situação do local onde morava uma das pessoas que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador foi demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o solo ter sido todo retirado e ter sido substituído por várias camadas de concreto, nunca mais qualquer tipo de construção foi feita no local.
Riscos
Segundo o supervisor de radiodivisão César Luis Vieira, que também trabalhou na época do acidente, o risco de contaminação em Goiânia foi praticamente extinto. “Se for comparar o resultado de hoje com o da época, é uma diferença [de radiação] quase mil vezes menor”, afirma.
César explica ainda que o nível de radiação da cidade é considerado dentro dos padrões normais. “Não há nenhum lugar que não tenha material radioativo, como, por exemplo, o urânio, que está no solo. É o que a gente chama de radiação natural, mas que não oferece risco”, complementa.
Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material com suspeita de contaminação foi levado para a unidade de do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capital, onde foi enterrado.
Passadas mais de duas décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo menos 275 anos.
Fonte: G1 Goiás