Apoio psicológico a familiares diminui o impacto da hospitalização de pacientes em UTI
Impotência mesclada a desespero, angústia e apreensão. O misto de sensações é um resumo de relatos de qualquer acompanhante ou familiar de um paciente hospitalizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Literalmente frio, o lugar assusta por ser palco de histórias tristes de pessoas que são obrigadas a se despedirem inesperadamente de entes queridos.
Nessas horas, apoio e conforto fazem toda a diferença. Diante do momento vivenciado, a família também precisa de cuidados intensivos. A assistência psicológica tem papel fundamental ao contribuir com o equilíbrio emocional dos envolvidos, que também inspiram cuidados. Uma simples conversa com o psicólogo torna- se uma experiência única. É com diálogo e sensatez que os profissionais ganham nova roupagem ao cruzar o status de estranho para o de amigo.
Porém, não basta oferecer o ombro para consolar. A aproximação, técnica e sensibilidade dos profissionais dão ao acompanhante a oportunidade da expressão dos conflitos, fantasias e temores. Em troca, eles recebem atenção e compreensão, o que resulta em alívio e tranquilidade.
Há dois meses, a dona de casa Maura Ramos passa os dias na UTI Pediátrica do Hospital Materno Infantil (HMI). Ela acompanha o filho que está internado, desde o nascimento, devido a uma má-formação do intestino. Natural de Caçu (GO), ela encontra apoio junto às psicólogas da unidade. O marido e pai da criança visita a dona de casa e o filho de vez em quando, pois trabalha e cuida dos outros dois filhos do casal na cidade do interior.
Maura descobriu o problema da criança aos cinco meses de gestação e desde então luta pela vida do filho. Na época, a família morava em Altamira, no Pará, de onde partiram de volta à cidade natal para conseguir tratamento adequado ao bebê. De lá, foram encaminhados para o HMI. O pequeno João Victor nasceu no hospital e, da sala de parto, foi encaminhado para a UTI.
“Ainda em Altamira, me disseram que ele tinha obstrução do intestino, mas o médico do HMI confirmou que se tratava de uma má formação do órgão. Quando ele me deu a notícia foi muito difícil. Entrei em desespero e chorei bastante”, disse Maura. Com a assistência recebida na unidade, a dona de casa já se sente mais confiante e tranquila. “Na UTI, comecei a receber visitas das psicólogas do hospital. Elas conversavam comigo e me auxiliaram bastante. Hoje eu consigo até ajudar os outros da mesma forma que fui ajudada”, diz ela.
A interação com a equipe de Psicologia favorece a elevação da autoestima e autoconfiança. “A aceitação dos próprios sentimentos é o primeiro passo para aprender a lidar com eles”, destaca a coordenadora de Psicologia do Hospital Materno Infantil, Suely Faria.
Segundo a especialista, os acompanhantes são capazes de desempenhar um papel vital e terapêutico junto ao doente. “Os membros de uma família são interdependentes, por isso, o problema de um afeta os outros. Dessa forma, a atenção voltada ao núcleo familiar resulta em melhor qualidade na assistência, pois leva força, superação, confiança e racionalidade ao paciente”, acrescenta.
De acordo com a dona de casa, Maura Ramos, nos dias em que tudo parece mais complicado, o apoio psicológico é ainda mais importante. “Às vezes a gente desaba, mas as psicólogas vêm e nos acalmam. Sou muito ansiosa. Elas me ajudam a relaxar e eu consigo passar isso para meu filho.” A mãe de João Victor conta como aprendeu a lidar com a vontade de chorar. “Me orientaram assim: se eu quiser chorar, não tem problema, mas que seja longe dele, e ao retornar sorrindo, contribuo indiretamente com a sua recuperação.”
Ponto de Vista – De acordo com a coordenadora de Psicologia do HMI, uma das abordagens utilizadas pela equipe é a de que a UTI não representa o término de uma viagem, mas pode ser o recomeço dela, pois ressignifica as relações entre as pessoas. Outros aspectos trabalhados pelos psicólogos nesse contexto incluem a reflexão sobre a vida e a morte e o enfrentamento a situações emocionalmente traumáticas vividas pelos próprios acompanhantes e familiares. “Nosso objetivo é diminuir o impacto sofrido com a doença e a internação. Podemos fazer com que os acompanhantes e a família sejam moderadores do processo, já que são importantes fontes de informação para o paciente”, afirma Suely Faria.