Hugo se destaca no controle de Infecção de corrente sanguínea

Treinamento e educação continuada permitem que a unidade, que integra a rede da SES-GO, aponte índice 25% inferior à média nacional

Durante o 2º Congresso Goiano de Infectologia, Guillermo Sócrates, coordenador do Serviço de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (Sciras) do Hospital Estadual de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), apresentou indicadores que apontam os excelentes resultados obtidos pela instituição quanto ao controle de infecções da corrente sanguínea em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O levantamento demonstra que a unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SUS-GO) apresenta 25% menos episódios de hemoculturas positivas por Staphylococcus aureus – um dos principais agentes causadores de infecção de corrente sanguínea –, em relação à média nacional, como divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em análise da Anvisa, nota-se que, no País, há uma incidência de 4,3 episódios para cada mil pacientes internados/dia – números que vêm apresentando queda, em razão de melhorias implantadas nas unidades de saúde do Brasil. Em Goiânia, esse índice apresenta-se em valores muito menores, próximo à densidade de 2,3. “Para orgulho de todos que, empenhados, trabalham no Hugo, nossas UTIs alcançam períodos de seis meses sem apresentar episódios de infecção de corrente sanguínea”, relata Sócrates. A ocorrência desses eventos causados por Staphylococcus aureus no País gira em torno de 63%, enquanto no Hugo esse índice não ultrapassa 47%. Em números absolutos, isso corresponde a uma incidência de 25% a menos que a taxa nacional.

“Isso só é possível por conta de uma série de fatores adotados na instituição, como o sistema de higienização das mãos e dos ambientes; a utilização de instrumentos adequados para o laboratório coletar amostras clínicas; o uso racional de antimicrobianos e a manutenção de culturas de vigilância – que é o acompanhamento do paciente, para saber que tipo de bactéria ele apresenta”, alerta o coordenador. De acordo com a Anvisa, de 65% a 70% dos casos podem ser prevenidos com a adoção de medidas adequadas, tornando esse tipo de síndrome a de maior potencial preventivo que existe.

Por esse motivo, a Anvisa escolheu o parâmetro de infecção da corrente sanguínea como um dos principais indicadores no processo assistencial do paciente. Ele é monitorado de forma contundente para que, ao longo do tempo, as unidades de saúde possam reduzir, ao máximo, episódios dessa categoria no ambiente hospitalar. Para se ter uma ideia, no Brasil, de janeiro de 2014 a maio de 2019, a Anvisa recebeu 14.486 notificações de eventos relacionadas ao cateter venoso.

Esse tipo de infecção está associado a desfechos desfavoráveis na saúde, além de prolongar o tempo de internação. “Temos a consciência que, quando um hospital recebe o paciente, o principal objetivo da instituição, além de cuidar daquilo que o acomete, é garantir que ele não seja colocado em risco durante o período assistencial. Para evitar situações indesejadas, várias medidas são adotadas. No Hugo, investimos nos treinamentos e na educação continuada para garantir que o cidadão goiano que necessite dos nossos cuidados esteja em segurança”, pontua Sócrates.

Qualificação dos estabelecimentos

A segurança do paciente é um conjunto de ações promovidas pelas instituições de saúde para reduzir a um mínimo aceitável o risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde. Para qualificação dos estabelecimentos de saúde, no Brasil, o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), em 2013, cujos objetivos são, entre outros, propor medidas para reduzir os riscos e eventos adversos – incidentes que resultam em danos – e envolver pacientes e familiares no processo assistencial, para que possam auxiliar em práticas que diminuam ou eliminem os riscos durante a internação.

A partir do Programa Nacional, o Hugo implantou o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) na instituição em 2014 e, desde então, o setor adota medidas para auxiliar na prevenção de incidentes e, consequentemente, melhorar o serviço prestado. “Sabe-se que, quando conseguimos prevenir os eventos adversos, dentre eles as infecções, a qualidade da assistência entregue ao paciente aumenta consideravelmente. Por isso, o núcleo atua de forma conjunta com o Sciras e tantos outros departamentos. Afinal, o resultado de uma assistência de qualidade e segura é a soma do trabalho de todas as equipes envolvidas nesse processo de cuidado, seja ela direta ou indireta”, pontua Juliana Carvalho, coordenadora do NSP.

Em relatório divulgado pela Anvisa, de 4% a 17% de todos os pacientes admitidos em um serviço de saúde sofrem incidente relacionado à assistência à saúde. Com o objetivo de diminuir esses índices, a profissional explica a importância de as notificações dos incidentes/eventos adversos chegarem ao NSP. “A atuação no núcleo visa à investigação e prevenção das falhas no processo de trabalho que possuem potencial de causar um dano ao paciente, ou que geraram dano, não necessariamente significa que aconteceu um erro no processo que prejudicou o paciente. As notificações partem dos colaboradores que estão na assistência e demonstram o interesse em melhorar a qualidade da assistência prestada. No Hugo, temos boa adesão dos profissionais ao sistema de notificação, e a cultura de aprender com os erros também está presente nos hospitais de excelência”, observa.

Combate a infecções

Em 2017, o Ministério da Saúde lançou o projeto Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil, realizado pelo Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi/SUS), com a participação do Institute for Healthcare Improvement (IHI) e parceria dos hospitais brasileiros de excelência, como Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanês, Hospital do Coração de São Paulo, Hospital Moinhos de Ventos e o Hospital Alemão Osvaldo Cruz, que atua como tutor do Hugo. A ação tem o objetivo de reduzir os índices de infecções relacionadas à assistência à saúde: Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV), Infecções do Trato Urinário (ITU) e Infecções de Corrente Sanguínea Associada ao Cateter Venoso Central. O projeto conta com a participação de 120 hospitais públicos.

“Já tínhamos os bundles implantados no Hugo, mas participar desse programa proporcionou com que a gente tenha mais efetividade. Temos ações padronizadas e cientificamente comprovadas que auxiliam nesse processo de levar assistência ao paciente de maneira mais segura”, elucida Carvalho. “Ter um fluxo de atendimento alinhado é fundamental, pois, quando os profissionais têm um processo de trabalho mais seguro, a chance de ter erro é menor. Quem ganha com isso é a população”, acrescenta a coordenadora.

Jovana Colombo (texto e fotos), do Haver

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