Governo de Goiás alerta sobre alto risco de letalidade da leishmaniose

Em sua forma mais grave (o tipo visceral), doença causada por protozoários e transmitida por mosquito ameaça, principalmente, crianças, idosos e pessoas debilitadas

Médica veterinária da SES-GO coloca coleira especial em cão, para repelir vetor da leishmaniose

O Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), alerta a população sobre a importância da prevenção durante a Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose, que ocorre entre os dias e 15 deste mês. As leishmanioses são doenças zoonóticas, ou seja, transmitidas dos animais para o homem, causadas por protozoários do gênero leishmania e são divididas em dois tipos: leishmaniose tegumentar (atinge pele e mucosas) e leishmaniose visceral (atinge órgãos internos). 

O segundo tipo é considerado mais grave e é um dos principais focos da campanha. “A leishmaniose visceral, dentre as leishmanioses, é a doença que a gente tem a maior preocupação, porque ela pode causar formas graves e, inclusive, levar a óbito crianças, idosos e pessoas debilitadas. É uma doença que a prevenção é possível, e o controle também. Mas pra que isso seja possível, precisamos da colaboração das Secretarias Municipais de Saúde do Estado e, principalmente, da população”, ressaltou a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim.  

Entre 2019 e 2022, foram registrados em Goiás 166 casos de leishmaniose visceral, com um total de 11 mortes. Neste ano, ainda não há óbitos pela doença. Já no caso da leishmaniose tegumentar, foi verificada, nesse mesmo período, uma média anual de 491 casos. Nos primeiros seis meses deste ano, já foram 138 registros da doença, a maioria deles nos municípios de Santa Helena de Goiás (11), Goiânia (9), Cavalcante (08), Aragarças (7) e Alto Paraíso de Goiás (6). Os dados foram tabulados por município de residência. 

A médica veterinária responsável pelo Programa de Leishmaniose Visceral da SES-GO, Larissa Araújo, destaca que, mesmo sem o registro de óbitos em 2023, a prevenção ainda é o melhor caminho. “No Estado, a gente tem uma média de 40 casos ano, mas quando a gente pega o número de óbitos, de dois a quatro por ano, temos uma taxa de letalidade alta, chegando até 10% em anos anteriores, acima da nacional, que é próxima a 8%”, explicou. 

A doença
As leishmanioses são doenças parasitárias infecciosas não contagiosas, transmitidas pela picada de mosquitos do gênero Lutzomyia, também chamados de mosquito-palha, birigui e cangalhinha. O processo de transmissão ocorre quando uma fêmea do vetor pica cães ou outros animais infectados, e depois, pica os seres humanos. 

“Alguns artigos trazem que o cão atua como reservatório, servindo como fonte de infecção pro vetor. Muitos municípios que possuíam somente casos caninos, começaram a ter casos humanos, o que reforça essa correlação. Por conta disso que a gente faz a vigilância do cão, visando a saúde humana”, pontuou Larissa. 

Segundo a técnica responsável pelo Programa da Leishmaniose Tegumentar, Liliane Siriano, o mosquito tem hábito crepuscular, com maior incidência no fim da tarde e em regiões com acúmulo de matéria orgânica (folhas, fezes de animais, restos de comida). 

“Ele é muito ligado à região de florestas, mas à medida em que o homem também foi morando nas regiões periurbanas, que pega um pouco de mata, o mosquito também foi se adaptando. Por isso, a doença, que era muito centrada na zona rural, foi também se urbanizando”, esclareceu Liliane.

Sintomas
Cada um dos tipos da leishmaniose tem sintomas diferentes. No caso da visceral, os sintomas incluem febre de longa duração, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular e anemia. Já a leishmaniose tegumentar é a responsável pelo surgimento de lesões na pele e/ou mucosas que apresentam aspecto de úlceras arredondadas, com bordas elevadas e avermelhadas. Os ferimentos surgem, na maioria das vezes, em locais como o rosto, mãos, braços, pernas e pés. 

A prevenção para moradores próximos a áreas de mata inclui, por exemplo, o uso de repelente, mosquiteiro, evitar exposição em horários de maior atividade do mosquito, uso de roupas de manga comprida, poda de árvores para manter o ambiente com luminosidade e limpeza de lixo nos quintais. 

“Assim como a doença de Chagas, a leishmaniose tegumentar é uma doença que atinge a população mais vulnerável e é estigmatizante, porque a ferida desenvolve as vezes nas áreas mais expostas do corpo. Por isso a importância de falar sobre a doença e a prevenção, não apenas esta semana, mas durante todo o ano”, reforçou. 
      
Ações da SES-GO
Atualmente, o Estado disponibiliza, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), de testes diagnósticos para a detecção das leishmanioses. No caso da leishmaniose tegumentar, o diagnóstico é feito por meio do raspado da lesão. Já para a leishmaniose visceral, é realizado o teste rápido, que pode ser feito no próprio leito do paciente. 

“O Lacen (Laboratório Estadual de Saúde Pública Dr. Giovanni Lili) realiza os exames para diagnóstico das leishmanioses e também disponibiliza aos municípios os testes rápidos. Além do diagnóstico, o tratamento também é fornecido pelo SUS. A SES tem orientado sobre a importância do diagnóstico e tratamento oportunos para as leishmanioses aos municípios, principalmente aqueles endêmicos, reforçando sobre a necessidade de terem teste rápido disponível”, pontuou a médica veterinária Larissa Araújo.

Além da distribuição dos kits, a pasta atua no monitoramento da doença, com a elaboração de estratégias, bem como de capacitação técnica junto aos profissionais das Secretarias Municipais de Saúde. Ao todo, 17 das 18 Regionais de Saúde de Goiás já passaram pelo treinamento, executado por equipes da Coordenação de Zoonoses e do Lacen, ambos ligados à Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa). Quando necessário, a SES-GO atua na realização do inquérito para leishmaniose visceral canina, com auxílio da unidade móvel de zoonoses, e da instalação de armadilhas e captura do vetor.

Coleiras
Desde 2021, o Ministério da Saúde (MS) incorporou ao SUS coleiras impregnadas com inseticidas como ferramenta adicional no controle e prevenção da leishmaniose visceral. A estratégia é baseada em estudos que comprovaram a redução de 50% da prevalência da doença em cães e consequente, dos casos em humanos, nos locais onde a ferramenta foi utilizada. As coleiras repelem o mosquito-palha e são ofertadas aos municípios considerados prioritários, com troca prevista para cada seis meses. 

Em Goiás, foram três municípios selecionados para receberem as coleiras: Teresina de Goiás, Monte Alegre e Cavalcante, todos da região nordeste. A previsão é que o projeto seja expandido para Buritinópolis, Colinas do Sul e Trombas. 

“O Ministério publica, no segundo semestre, uma lista de municípios prioritários. Mas tem uma série de pré-requisitos que o município precisa para participar, incluindo a elaboração de um projeto escrito”, detalhou Larissa Araújo. 

Em Goiás, entre 2019 e o primeiro semestre deste ano, foram registrados 3.242 casos de leishmaniose visceral canina. Devido ao elevado número de casos, a SES-GO também implementou a distribuição das coleiras nos municípios de Caldas Novas e Pirenópolis. 

A iniciativa da pasta é baseada no projeto do MS e leva em consideração o número de casos caninos, humanos e a presença do vetor. “A população tem aceitado bastante este trabalho nessas regiões, tem entendido a prevenção, como ela é realmente importante”, finalizou. 

Aline Rodrigues (texto)/Comunicação Setorial

Foto: arquivos SES-GO

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