Casal celebra união em meio aos cuidados de saúde no HGG

Equipe da unidade do Governo de Goiás prepara, em apenas 14 dias, celebração de casamento de paciente em cuidados paliativos e sua parceira, com quem soma 14 anos de relacionamento e dois filhos

Silvano Antônio e Luciane Moreira cortam bolo comemorativo, após o tão aguardado "sim"

Geralmente os casais planejam o casamento dos sonhos por meses, às vezes, até por anos. Mas a história do casal Silvano Antônio de Araújo, de 49 anos, e Luciane Moreira Pereira, 40, foi bem diferente. O pedido de casamento foi feito em um quarto do Núcleo de Apoio ao Paciente Paliativo (Napp) do Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG), em Goiânia, meio que por acaso. Para entender essa história, precisamos voltar um pouquinho no tempo, mais precisamente no dia 28 de junho.

Hospitalizado desde abril na unidade do Governo de Goiás para o tratamento de uma infecção causada por escaras, o paciente Silvano vivenciava uma sessão de musicoterapia, quando, por acaso tocou a música Quer casar comigo?, interpretada pela dupla sertaneja Bruno e Marrone. Foi quando o colega de quarto de Silvano brincou, dizendo que era a hora de oficializar a união dele e a companheira, que já existe há 14 anos.

O que motivou o pedido de casamento. O amor vivenciado pelo casal inspirou a equipe, que levou apenas 14 dias para mobilizaram parceiros que, voluntariamente, organizaram tudo, desde o vestido de noiva e o terno do noivo à decoração, músicos, mesa de doces e um dia especial de preparação em um salão de beleza.

A cerimônia ocorreu no Jardim da Solistência, e cerca de 150 pessoas assistiram ao acontecimento, até mesmo das janelas dos andares da unidade de saúde. Ao som de saxofone e aplausos, o noivo, com lágrimas nos olhos, seguiu em direção ao altar junto com a madrinha do casamento, a médica geriatra Ana Maria Porto Carvas, coordenadora do Napp. O silêncio, interrompido pela Marcha nupcial, anunciou a entrada da noiva, que também foi muito aplaudida.

O momento foi conduzido pelo ministro da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Saulo Silveira. Outro destaque foi o filho caçula do casal, Conrado Pereira de Araújo, de 5 anos. “Eu vou levar as alianças do casamento do meu pai e da minha mãe. Estou muito feliz”. E assim foi: o sorridente garoto entregou as alianças aos pais no altar e ainda acenou para as cinco equipes de imprensa que deram destaque ao enlace.

Com os olhos marejados e a voz embargada, Deusuita Moreira Pereira, de 68 anos, revelou o motivo de tanta emoção. "Ela é a filha que eu escolhi, Luciane é adotiva. Ela veio para somar na minha vida, trouxe o Silvano para a nossa família e ele sempre foi muito bom para ela. Graças a eles tenho dois netinhos que amo muito. Somos muito unidos, moramos no mesmo quintal. Desejo que sejam mais felizes ainda”, confessou a sogra.

Elenice Pacheco Ferreira, de 61 anos, aguardava por uma retirada de hérnia e era uma das emocionadas na plateia do casamento. “Fiquei viúva há nove meses, vivi uma linda história, e é impossível não me emocionar com o que esse casal está vivendo. Um casamento igual a esse eu nunca vi. É uma união que Deus preparou com muito amor, muito. Eles merecem”, considerou.

“Daqui para frente vai ser tudo de bom. Esse momento foi muito esperado por mim, por nós. Sou só alegria, cabeça erguida”, disse a noiva, com um grande sorriso, antes de subir ao altar. O noivo, tímido, agradeceu por toda dedicação do HGG, dizendo que estava tudo incrível, bonito e mais perfeito do que imaginava.

Fatalidade
Em 31 de dezembro de 2019, Silvano Antônio de Araújo aproveitava o dia de descanso com seu filho mais velho, Marcos Pereira de Araújo, em uma lagoa em Aparecida de Goiânia (GO). Após horas de diversão, Marcos, cansado, pediu ao pai para irem para casa. Silvano, atencioso, falou para o filho que daria apenas mais um mergulho. Mal sabia que essa decisão mudaria sua vida para sempre.

Ao mergulhar, o pedreiro bateu as pernas em pedras  no fundo  da lagoa e, naquele momento, já não conseguia mais movimentá-las. Ele foi prontamente socorrido e levado a uma unidade hospitalar, onde foram constatadas lesões na coluna que o impediram de andar para sempre. Seu estado de saúde foi grave, chegando a respirar com a ajuda de aparelhos. Sua alta hospitalar ocorreu sete meses depois do acidente. Atualmente, Silvano é atendimento pela equipe de cuidados paliativos do HGG.
 

"Acrescentamos vida"
Ana Maria Porto Carvas explicou que o cuidado paliativo não tem proposta de cuidar de pacientes em fim de vida. “O intuito do cuidado paliativo é cuidar da pessoa que enfrenta condições ameaçadoras de vida, independente da fase em que está. Acrescentamos vida, damos sentido, olhamos o ser humano como pessoa e não apenas como uma doença."

O médico residente Iuri Matias, que faz parte da equipe que acompanha o caso desde o início, completou: “Trabalhamos a parte emocional, social e espiritual de pessoas como o Silvano, um paciente acamado por lesão na coluna causada por um acidente. Isso não tem cura. Temos como oferecer controle para uma qualidade de vida”.

Iuri acrescentou que, dentro de 15 dias, Silvano vai receber alta hospitalar, dando prosseguimento ao tratamento em casa, com consultas periódicas ambulatoriais para acompanhamento do quadro de saúde.

Thais Beki (texto e foto)/Nayane Gama

 

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