Dia do motociclista: paixão e riscos sobre duas rodas

Com 876 mil motocicletas, Goiás é o nono Estado com maior frota de motos. Em 2019, somente o Hugo atendeu mais de 1,9 mil acidentados

“Sensação de liberdade com vento no rosto”. É assim que motociclistas descrevem o que sentem ao pilotarem uma moto, tanto nas cidades como nas estradas, durante viagens. E foi a partir daí que a Associação Brasileira de Motociclistas (Abram) decidiu definir uma data para homenagear os apaixonados por motos, estipulando, em 27 de Julho de 1984, o Dia Nacional do Motociclista, em homenagem à Marcus Bernardi, que morreu na mesma data, em 1974.

O 27 de julho celebra a paixão por esses veículos que, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em 2018, já são mais de 22 milhões de unidades por todo o País, utilizados para trabalho, hobbie e diversão. O baixo custo de manutenção e consumo de combustível, a agilidade e o valor de compra até cinco vezes menor que o de um carro popular estimulam os habilitados para a aquisição desse tipo de veículo.

Ainda de acordo com o Denatran, em 2018 Goiás apresentou a nona maior frota de motocicletas do Brasil, com 876.554 unidades. Consequentemente ao número de veículos, também são altos os números de acidentes. No Hospital Estadual de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), unidade da Secretaria de Estado da Saúde (SES), principal unidade de urgência e emergência a vítimas de acidentes de trânsito, mais de 3,6 mil pessoas foram atendidas em 2018, após sofrerem acidentes de moto em serviço, no trajeto do serviço ou no lazer.

Este ano, já são mais de 1,9 mil vítimas atendidas no Hugo. Segundo dados da Coordenação de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) da Superintendência de Vigilância em Saúde da SES, no ano passado registradas 558 mortes por acidentes de motos.

Promovendo a prevenção

Os dados revelam ainda que a maioria dos acidentes acontecem com pessoas de idades entre 20 e 39 anos. Para a coordenadora do Viva, Maria de Fátima Rodrigues, os fatores sociais são as chaves para a maior incidência desses acidentes nessa fase adulto-jovem. “A irreverência na juventude com a pouca preocupação em relação à segurança, aliada ao consumo de álcool e o desrespeito as leis de trânsito, são alguns fatores que propiciam esses acidentes nessa faixa etária”, avalia.

A coordenadora esclarece que são realizados trabalhos educativos em parceria com os órgãos de trânsito estadual e municipais, com a realização de palestras e orientações de prevenção para promover a segurança no trânsito e reduzir os riscos. “Os motociclistas são os mais vulneráveis no trânsito, devido a própria estrutura do veículo, que não traz proteção em possíveis quedas. Com isso, se faz fundamental o uso correto dos equipamentos de proteção”, lembra.

Riscos nos caminhos

No dia 9 de julho, a dona de casa Deises de Fátima Ribeiro Santos, 54, seguia na garupa da moto que o marido, Romildo Alves de Araújo, 47, pilotava rumo ao supermercado, quando foram surpreendidos em um acidente de trânsito. Moradora do Setor Perim, em Goiânia, ela conta que já estava anoitecendo. “Íamos comprar carne no supermercado e uma van parou rápido na nossa frente, meu marido desviou e acertou em cheio um carro que vinha no outro lado da rua”, relembra.

Segundo ela, a experiência do marido, que está acostumado à moto desde os 17 anos de idade, não foi suficiente para evitar o acidente. “Foi algo de surpresa, e quando vi, meu marido já estava no chão e eu passando por cima do carro, naquela velocidade”, lembra. De lá pra cá, a dona de casa, que sofreu escoriações leves, acompanha o marido no Hugo. “No dia do acidente fomos para o Crof (Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia) e, no dia 16 de julho, fomos encaminhados aqui para o Hugo”, conta.

Segundo ela, o marido, que aguarda cirurgia no joelho, se sente aliviado por não ter sofrido nada mais grave. Ela ainda avalia que a atenção e prudência no trânsito são fundamentais para evitar ao máximo acidentes como esses. “Os motoristas não prestaram socorro e fugiram. Percebemos que todos estamos sujeitos aos acidentes, e é preciso cautela sempre que estiver em moto ou carro”, aconselha.

Novo começo

Após um acidente de moto em 29 de dezembro de 2018, em Itumbiara, o vigilante Edgar de Freitas, de 73 anos, passa por atendimento de reabilitação no Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), também unidade da SES. O vigilante conta que é hipertenso e faz uso de medicamentos para controlar a pressão arterial. Após uma longa jornada de trabalho, ele voltava para casa quando sentiu uma tontura enquanto pilotava a moto, e acabou acertando em cheio um poste ao lado da via. “Estava cansado, mas dirigia devagar, quando de repente fiquei tonto e senti que a moto estava rodando. Quando percebi, já estava passando por cima do meio-fio e, em seguida, bati no poste. Após isso, fiquei quase um dia desacordado”, lembra.

O acidente causou uma fratura na coluna e a perda dos movimentos dos braços e pernas. Após cirurgia realizada no Hugo, Edgar de Freitas realiza terapias ao menos três vezes por dia, no Crer, na busca dos movimentos dos membros. Para ele, estar vivo já é um motivo para agradecer e a esperança é na volta de todos os movimentos, para que consiga andar e fazer algumas atividades diárias. “Já recuperei alguns movimentos, mas sei que ainda é pouco e preciso seguir à risca as terapias para ter a possibilidade de andar novamente, mesmo que seja com a ajuda de uma muleta”, diz. Edgar de Freitas está internado no Crer desde o dia 27 de junho e passa por atendimento multiprofissional para reabilitação.

Sensação de liberdade

O médico Elisandro da Cunha Sousa, de 43 anos, se identifica como um apaixonado por motos. Ele diz que tem essa paixão desde criança, mas os perigos do veículo impediam que seus pais incentivassem o uso e, só após sua independência financeira, comprou a sua primeira moto. Elisandro da Cunha utiliza o veículo como hobbie para encontros de motoqueiros em Goiás ou em cidades mais próximas, como Brasília. “Participo de dois grupos que realizam encontros e sempre que dá me reúno a eles para contemplar as motos e trocar experiências e novidades sobre elas”. conta.

Ele define o hobbie como uma “sensação de liberdade”, podendo sentir a natureza com mais intensidade, tornando as viagens mais prazerosas. “A viagem na moto me permite um contato mais próximo à natureza, uma percepção externa mais viva com os cheiros, os sons, o vento e os animais que estão no ambiente”, pontua.

Para sentir essas sensações e manter uma viagem tranquila, Elisandro da Cunha lembra que é fundamental investir em segurança, para não ter dor de cabeça, fazendo as revisões de mecânica para que o veículo não acabe estragando durante os passeios. “Em uma moto não temos um pneu reserva nem outros itens como os disponíveis nos automóveis, e isso torna ainda mais fundamental que se confira toda a parte mecânica antes de pegar a estrada”, avalia.

Outro ponto citado por ele é a necessidade de prevenção aos acidentes, com uma direção segura para o motociclista e para os outros que fazem parte do trânsito. “Usar um bom capacete, investir em equipamentos de proteção individual são tão necessários, como os cuidados com a moto”, lembra. Elisandro Cunha finaliza dizendo que seus dois filhos, de 4 e 6 anos, já demonstram prazer pelas motos e que se, no futuro, demonstrarem responsabilidade para pilotar, ele não irá se opor, desde que mantenham os cuidados necessários para a segurança.

Felipe Cordeiro, da Comunicação Setorial 

Foto: Divulgação EBC

 

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