Simpósio de violência sexual no HMI abre espaço para discussão sobre respeito ao corpo

Com o objetivo de evidenciar a discussão sobre violência sexual e de gênero como uma questão de saúde, o Hospital Materno Infantil (HMI) realizou no dia 12 de maio (sexta-feira), das 8h às 18h30min, o I Simpósio de Violência Sexual e de Gênero da unidade, que contou com mesas redondas e palestras ministradas por profissionais e militantes da causa em Goiás e em outros estados. Recepcionados pela diretora técnica do HMI, Sara Gardênia, e pelo psicólogo e organizador do evento, Ronaldo Celestino, os participantes puderam aproveitar vários debates que discutiram sobre atendimento clínico das vítimas de violência; acolhimento e atenção; aborto legal; assistência psicológica; além da humanização no atendimento às vítimas. Na abertura, a vereadora Cristina Lopes, que foi vítima de violência doméstica quando tinha 20 anos e teve 85% do seu corpo queimado por um ex-namorado, enfatizou como é importante promover espaços para discussão na área da saúde sobre respeito às escolhas e corpo das mulheres e comunidade LGBT. “Ser feminista é ter autonomia e escolher quem pode tocar ou não no seu corpo”, enfatizou a vereadora.

Em seguida, a pediatra e coordenadora do Ambulatório de Apoio de Vítimas de Violência Sexual (AAVVS) do HMI, Marce Divina, apresentou dados de uma pesquisa realizada no setor da unidade ao longo de 24 meses. Segundo a especialista, cerca de 80% dos casos de abusos sexuais registrados no hospital são abusos praticados por familiares e que não deixam vestígios biológicos para serem investigados. A médica ainda chamou atenção para a importância de não se fazer juízo de valor durante os atendimentos, visto que a Saúde representa acolhimento. Outro tema discutido foi o de que crianças e mulheres que são vítimas de abuso sexual podem sofrer consequências psicológicas e biológicas, como dificuldade de relacionamento e atrofia da genitália. A doutora e psicóloga do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Cida Alves, explicou que quando se negligencia ou abusa de uma criança, esta passa por mudanças em sua organização cerebral. “O primeiro objetivo do atendimento é tirar da vítima a ideia de que ela foi responsável. A responsabilidade é sempre do autor”, afirmou a doutora.

Dando continuidade, a mestre em Antropologia Social pela Universidade de Campinas (Unicamp), Ana Laura Lobato, baseou-se em estudos realizados por historiadores, antropólogos e sociólogos para explicar as diferenças dos conceitos de gênero, que diz respeito à representação do indivíduo na sociedade; de sexo, que caracteriza o corpo biológico; orientação sexual, que reflete o desejo sexual; e as convenções acerca dos estereótipos. “A violência contra mulher acontece, muitas vezes, como punição, quando ela não segue as convenções de gênero”, afirmou. Em 2017, o HMI subiu da 26º posição para o terceiro lugar no ranking brasileiro de serviço de AAVVS, sendo um entre os dois únicos lugares do país que possuem uma equipe multiprofissional específica para atendimento de vítimas de violência sexual. “Somente o HMI e o Hospital Pérola Byington, em São Paulo, referência no atendimento à saúde da mulher, possuem essa formatação neste sentido. Para nós, isso significa um grande passo para tratar as vítimas com respeito e humanização”, conta a diretora Sara Gardênia.

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