Implantação de Enfermagem Obstétrica na MNSL aumenta taxa de partos normais

Um turbilhão de emoções, como medo e insegurança, tomam conta da cabeça de uma gestante no momento do parto, indicando a necessidade de apoio e cuidado especial para com a mulher.

Um turbilhão de emoções, como medo e insegurança, tomam conta da cabeça de uma gestante no momento do parto, indicando a necessidade de apoio e cuidado especial para com a mulher. O suporte emocional de um profissional da saúde momentos antes e durante o parto é determinante para que essa experiência seja positiva e ocorra da maneira mais natural possível, assim como indica a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Política Nacional de Humanização (PNH). Cumprindo esse papel de assistir às gestantes, parturientes e puérperas, os enfermeiros obstétricos, uma especialidade profissional que já é muito conhecida em todo o mundo, tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil, pelo fato de trabalhar com foco em uma boa evolução do parto, a fim de incentivar que as mulheres deem a luz sem intervenção cirúrgica.

Na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), o serviço foi implantado no primeiro semestre de 2017 e já repercute positivamente. Segundo dados do setor de Qualidade da Maternidade, o número de partos normais realizados entre março e outubro deste ano – período em que houve a atuação dos enfermeiros obstétricos – aumentou em 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Durante os oito meses, 1248 partos normais foram realizados. “É muito importante o suporte que esses profissionais oferecem às mulheres durante o processo do parto, mostrando-se próximos, preocupados e dispostos a cuidar e escutar a parturiente para a criação de laços de confiança e afeição. Isso resulta em maior facilidade na evolução do parto e redução de cesarianas desnecessárias, o que podemos confirmar com as taxas, que apontam o aumento de partos normais, conforme indica o Sistema Único de Saúde”, destaca a diretora operacional da MNSL, Ana Maria Caribé da S. Mello.

O resultado da implementação da Enfermagem Obstétrica na Maternidade não é medido apenas em números, mas também está associado à segurança e satisfação da parturiente. “O acompanhamento e a dedicação que recebi dos enfermeiros obstetras foi muito importante pra mim. Essa foi minha segunda gestação e como a primeira foi de gêmeos, o parto foi cesárea. Por isso, pensei que não conseguiria dar à luz sem cirurgia, mas consegui porque eles me incentivaram e me ajudaram até o fim”, relata Maria de Fátima Silva, que completa dizendo que a experiência do parto da filha caçula, que ocorreu em 18 julho deste ano, foi muito melhor do que a de sua primeira gravidez. Segundo o enfermeiro residente, Kauhan de Paula, que está graduando na especialidade de Enfermagem Obstétrica pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), é comum ouvir agradecimentos das pacientes. “Depois que realizamos o parto elas se mostram muito gratas e sempre falam sobre como o apoio que receberam foi fundamental. Chegam, inclusive, a dizer que se não fosse por nós não teriam conseguido”.

Rotina – A enfermeira obstetra da MNSL, Maria da Conceição Teles, explica que os enfermeiros estão aptos a realizar o parto quando a gestação está entre 37 e 41 semanas; quando a mãe e o bebê não apresentam doenças; e desde que o bebê não seja muito grande, pesando acima de 4 quilogramas, e nem muito pequeno, indicando problema de desenvolvimento. “Seguimos um protocolo do Ministério da Saúde e ele diz até onde podemos atuar e qual é o nosso limite. Por isso, trabalhamos sempre em parceria com os médicos”, afirma.

Mas o trabalho dos enfermeiros obstetras dentro da Maternidade vai muito além de realizar o parto. Os profissionais acompanham a parturiente desde a internação na unidade até a alta hospitalar. “A atuação da Enfermagem Obstétrica é considerada um dos pilares do processo de humanização do parto. Quando a paciente chega eles fazem a recepção e assumem o pré parto. Se estiver dentro do protocolo deles, eles realizam o parto e se não estiver, mesmo assim eles participam do processo junto com a equipe médica e depois também acompanham a alta do paciente. Tudo isso trabalhando em conjunto com os profissionais de outras áreas, como médicos, enfermeiros assistencialistas, fisioterapeutas, entre outros”, esclarece a gerente de Enfermagem da MNSL, Rosa Maria Bellucci.

“No geral, atendemos a todas as pacientes que entram na Sala de Pré Parto, tanto aquelas que vamos realizar o parto, quanto as que não vamos. Acolhemos, ajudamos nos exercícios facilitadores do trabalho de parto, damos apoio emocional, evoluímos e conduzimos todas as parturientes para o Centro Cirúrgico. Também evoluímos as puérperas dos dias anteriores e orientamos sobre a rotina depois da volta pra casa”, conta Maria Conceição, que é preceptora dos residentes na MNSL. Segundo Rosângela Farias, paciente que deu à luz na unidade no dia 14 de julho de 2017, o apoio é ainda mais amplo. “Meu marido não queria assistir o parto porque tinha medo, mas eles conversaram com ele, explicaram o quanto era importante ele ficar ao meu lado, e ele acompanhou tudo. Ficou comigo durante todo o trabalho de parto e ainda assistiu o nascimento da nossa filha. Sou muito grata a eles”.

Enfoque – Além do conhecimento adquirido na especialização, a diferença entre um enfermeiro obstetra e um generalista está no olhar focado na paciente que se prepara para dar a luz. De acordo a gerente Rosa Bellucci, o enfermeiro assistencialista cuida do paciente voltado à prescrição médica, além de ter outros afazeres burocráticos, já o enfermeiro obstetra concentra-se em ajudar no momento da dor e ajudar no trabalho de parto, além de ser habilitado para examinar a gestante, verificar contrações, dilatações e demais alterações no funcionamento do organismo feminino no momento do parto.

 “Desde que chegamos, em março, as portas estavam abertas. Estamos fazendo nosso papel, trabalhando em parceria com os médicos. Está tudo caminhando bem, como deve ser”, afirma a enfermeira obstétrica Maria Conceição. Mas nem sempre foi assim. Como toda novidade, em unidades que ainda não contam com esses profissionais, pode ser que, no início, haja uma resistência em aceitar a presença deles. A enfermeira  conta que há alguns anos esteve na unidade para tentar implementar o serviço, mas não teve abertura dar início ao trabalho. “Atualmente, nossa gestão é voltada para mudar paradigmas, em tornar o atendimento cada dia mais humanizado”, explica a gerente de Enfermagem. “Estamos trabalhando para alcançar o patamar que os países de primeiro mundo estão, onde o parto fisiológico já acontece com a enfermagem há muito tempo. Vamos chegar lá, mas para isso temos que formar mais especialistas, como temos feito aqui na MNSL. Os residentes são o futuro dessa profissão”, frisa Maria Conceição.

Histórico – No passado, o parto era realizado por parteiras, que conheciam o processo a partir de suas próprias experiências e o tratavam de forma humanitária. Depois da invenção do fórceps obstétrico, foi disseminada a ideia de que o parto era perigoso e de que o nascimento poderia ser comandado cirurgicamente. Então, a intervenção médica ascendeu e passou a existir uma especialidade dentro da Medicina com esse foco, chamada Obstetrícia. Porém, desde que a OMS difundiu a importância da humanização do parto, os enfermeiros passaram a ter espaço nesse processo e têm a oportunidade de também se especializarem em Obstetrícia, se tornando enfermeiros obstetras, habilitados para a realização de qualquer parto normal que não haja risco de complicação para a saúde da mãe e da criança.

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