HGG é referência em tratamento da esclerose múltipla em Goiás

Unidade do Governo de Goiás é sede do Centro Goiano de Estudos da Esclerose Múltipla e já atendeu 144 pacientes com a doença em 2020

O Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG) sedia o Centro Goiano de Estudos da Esclerose Múltipla (Cegem) e centenas de pacientes já foram atendidas pela equipe de profissionais da unidade do Governo de Goiás que é referência em tratamento de esclerose múltipla (EM) no Estado. Segundo o coordenador do ambulatório e médico neurologista do HGG, Fernando Elias Borges, a manifestação mais comum da doença é em adultos jovens, com a faixa etária entre 20 e 40, mas a EM também pode aparecer na infância, por volta de 10 anos, ou mais tardiamente, aos 50 anos.

"Quando ela aparece precocemente, na infância, na maioria das vezes, são quadros inflamatórios mais exuberantes que não são diagnosticados como esclerose múltipla. Normalmente, você tem uma inflamação do sistema nervoso central, que é diagnosticada como encefalite ou encefalomielite disseminada aguda, e, mais tardiamente, o paciente volta a ter crises da doença, e é diagnosticado com esclerose múltipla", diz o médico. Ele explica que no caso do diagnóstico tardio, por volta dos 50 anos, na maioria das vezes o que se percebe na ressonância é que a doença já é crônica, ou seja, o paciente passou um período assintomático e a EM só veio a se manifestar tardiamente.

O neurologista explica que os sintomas mais comuns são a perda de visão (geralmente em um olho só, associada à dor na movimentação do olho), alterações motoras, sensitivas, de equilíbrio e de controle de esfíncter. "O paciente reclama de dor debaixo da cavidade visual por alguns dias até ele perder a visão por completo. Esses eventos inflamatórios podem durar por dias ou semanas e, depois, recuperar total ou parcialmente", afirma Fernando. O médico chama atenção para dificuldade de diagnóstico dos pacientes, uma vez que os sintomas são parecidos com os de outras doenças. "Por exemplo, é comum um paciente de esclerose múltipla ter crises de vertigem e ser diagnosticado como labirintite ou ter essa perda visual e procurar inicialmente um oftalmologista porque não está enxergando direito. Isso tudo atrasa do diagnóstico correto", ressalta.

Pesquisa
Um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2019, do qual o HGG participou fornecendo informações do Cegem, revelou que enquanto em Cuiabá (MT) a prevalência da doença, em 2015, era de quatro casos por 100 mil habitantes e em Brasília de cinco casos, Goiânia tinha 22 casos por 100 mil habitantes. Segundo Fernando, um dos motivos para o baixo número de diagnósticos na rede SUS é o número reduzido de neurologistas atuando na rede básica. "Hoje um paciente que procura a rede básica com sintomas neurológicos inespecíficos dificilmente será internado e encaminhado para um hospital terciário como o HGG, então, o que acontece muito é esse paciente ter várias crises ao longo da vida e ir recebendo outros diagnósticos em unidades básicas de saúde, até que ele seja encaminhado para uma unidade terciária", afirma.

Para o médico, seria necessário melhorar o atendimento na atenção básica para pacientes com suspeita de doença neurológica recorrente, com características que sugerem que ela pode ser inflamatória, para que eles fossem encaminhados diretamente para um hospital terciário. "O HGG recebe pacientes da rede básica, mas hoje se o paciente tem um diagnóstico ou suspeita de uma doença desmielinizante, esse encaminhamento não é feito especificamente para hospital terciário que acompanha doenças desse tipo. Ele acaba indo para qualquer hospital que tenha um neurologista e isso pode atrasar o início do tratamento", analisa.

Atendimento especializado
Embora a esclerose múltipla não tenha cura, o neurologista ressalta que hoje já é possível fazer um bom controle da doença. Segundo Fernando, o diagnóstico precoce e correto proporciona o uso de medicamentos que diminui a frequência dos surtos. "Se o paciente deixa de ter as crises com déficit neurológico, ele deixa de piorar clinicamente e a doença dele se estabiliza por anos. Aqui no HGG, por exemplo, nós temos pacientes que iniciaram o tratamento em 2000, 2001 e continuam funcionais, trabalhando, levando suas vidas normalmente 20 anos depois, porque eles seguem o tratamento desde o início do diagnóstico".

Mônica Calixto, de 61 anos, mora em Goiânia e conta que sentiu os primeiros sintomas da EM durante a gravidez da segunda filha. "Eu sofria muitas quedas, sentia muitas dores de cabeça e na coluna, e nesse período tive uma série de diagnósticos errados". A confirmação da esclerose múltipla veio após uma série de exames em 2001, quando ela iniciou o tratamento no HGG. Ela conta que no começo do tratamento ia com bastante frequência ao hospital, mas que com a evolução as idas foram diminuindo. Hoje ela faz consultas ambulatoriais a cada três meses e a medicação, a cada seis meses. "Logo que cheguei ao hospital eu tive a sorte de encontrar o Dr. Fernando que é um médico fantástico, e que me acompanha até hoje. Agora, 19 anos depois, eu só tenho elogios ao tratamento excelente que tive nesse período no HGG, onde sempre me tratei", disse.

Paciente há sete anos do HGG, Simone Macedo, 41 anos, mora em Trindade e passou dois anos em vários neurologistas investigando sintomas como paralisia do lado direito do corpo e dores de cabeça, até que veio o diagnóstico de EM. "Sempre diziam que eu estava com depressão, ansiedade, mas faltava eu encontrar o médico certo, especializado, porque quando eu consegui a consulta aqui no HGG, logo fiz os exames, a ressonância, o liquor e comecei o tratamento certo. Hoje, só de eu não estar em uma cadeira de rodas já é uma vitória". Simone faz acompanhamento mensal na unidade, onde também recebe medicação por meio de pulsoterapia.

O HGG oferece serviços ambulatoriais nas especialidades de neurologia (doenças desmielinizantes), urologia (bexiga neurogênica), fonoaudiologia, psicologia e psiquiatria, que atendem, de forma integrada aos pacientes. O hospital dispõe de sala de infusão para pulsoterapia ambulatorial, que proporciona maior conforto aos doentes e evita internações desnecessárias. Todos os exames laboratoriais e de imagem são realizados no hospital ou por meio de convênios.

Conscientização
No dia 30 de agosto é comemorado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. A data foi instituída por meio da Lei 11.303, em 11 de maio de 2006, para homenagear Ana Maria Amarante Levy, a mulher que levantou pela primeira vez, no Brasil, a bandeira da luta contra esta doença crônica, degenerativa e autoimune. Em 2020, mesmo com a redução dos atendimentos devido à pandemia da Covid-19, foram atendidos 276 pacientes no ambulatório de doenças desmielinizantes, dos quais 144 foram confirmados portadores de EM. O atendimento, multidisciplinar, é realizado sempre às quintas-feiras, a partir das 14 horas, mediante encaminhamento da rede básica de saúde.
 

Thalita Braga (texto)/Idtech
Foto: SES-GO

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