Veterinários promovem ligação entre animais, homem e meio ambiente

Desde 1998, a Medicina Veterinária é reconhecida pelo Conselho Nacional de Saúde como profissão da área de saúde

O trabalho dos médicos-veterinários vai muito além das clínicas, dos consultórios e hospitais destinados ao atendimento de animais. Esses profissionais são importantes na manutenção da saúde humana e qualidade de vida das pessoas. Eles atuam em atividades ligadas à produção dos alimentos de origem animal que chegam à mesa do consumidor; exercem atividades em laboratórios para análise de solo, análise da água e domissanitários (saneantes destinados ao uso domiciliar); realizam pesquisas em alimentos; participam da produção de vacinas e de medicamentos de uso animal; e do controle de doenças transmitidas do animal para o ser humano, entre outros.

Esse trabalho tão importante é lembrado nesta segunda-feira, 9 de setembro, data em que se celebra o Dia do Médico-Veterinário. Foi exatamente nessa data, em 1933, que o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto Lei nº 23.133, que regulariza a profissão e o ensino da Medicina Veterinária no País. No caso da saúde pública, por exemplo, a categoria foi integrada, em 2011, às equipes multiprofissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Desde então, os médicos-veterinários têm a chancela do governo federal para atuar ao lado de outros profissionais que trabalham pela qualidade da atenção básica à saúde nos municípios brasileiros. Desde 1998 a Medicina Veterinária é reconhecida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) como profissão da área de saúde.

Em Goiás, existem 9.023 profissionais inscritos, dos quais 6.038 estão ativos junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-GO). O quadro da Secretaria do Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) conta com 16 profissionais efetivos. Na pasta, o médico-veterinário atua em três eixos principais: vigilância epidemiológica, na prevenção de doenças transmitidas do animal para o homem; vigilância sanitária, no controle, produção e comercialização de alimentos de origem animal; e no controle, prevenção e orientação sobre acidentes com animais peçonhentos e uso de soro antiofídico.

Do animal para o homem

São conhecidas atualmente mais de 200 doenças transmitidas naturalmente entre os animais e os seres humanos. Denominadas zoonoses, elas representam uma alta parcela das doenças que acometem a população. Assim, atuando em seu papel primordial de preservar a saúde animal, o profissional de veterinária promove diretamente a preservação da saúde humana, uma vez que propicia a redução dos riscos de transmissão de doenças do animal ao homem.

A afirmação é do médico-veterinário Fabrício Augusto de Sousa, de 46 anos, formado pela Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e atualmente coordenador Estadual de Zoonoses da Superintendência de Vigilância em Saúde da SES-GO. Este setor tem como funções coordenar, normatizar e executar as ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e de acidentes causados por animais de relevância para a saúde pública.

Dentre as doenças e agravos monitorados pela Coordenação de Zoonoses, fazem parte a raiva, febre amarela, leishmaniose, leptospirose, hantavirose, brucelose, doença de Chagas, febre maculosa, malária, febre do Mayaro e febre do Nilo Ocidental. Outra função importante é o controle de epizootias, que é quando um animal ou grupo de animais são encontrados doentes ou mortos, incluindo ossadas, sem causa definida, podendo preceder a ocorrência de doenças em humanos.

Fabrício relembra um fato importante na história da saúde pública goiana que mostra a importância do trabalho do médico-veterinário. Nos anos de 1996 e 1997, Goiás registrou, respectivamente, 443 e 299 casos de raiva canina e 40 e 25 casos de raiva felina.

Diante desse quadro de epidemia, o trabalho dos profissionais de veterinária da SES-GO e das Secretarias Municipais de Saúde conseguiu controlar e reverter o perfil da raiva de cães e gatos no território goiano. “É gratificante saber que os últimos casos de raiva canina e felina transmitidos pela variante 2 (cão) foram registrados em 2002, há 17 anos. E que o último caso da doença em uma pessoa, transmitida por um cachorro ocorreu há 18 anos, em 2001”, diz Fabrício.

Qualidade alimentar

Os médicos-veterinários também são responsáveis pela procedência e qualidade de alimentos, como leite, carnes e seus derivados, que chegam à mesa dos brasileiros. A fiscalização de produtos de origem animal é desenvolvida por órgãos da Saúde e da Agricultura. A veterinária Natália Gonçalves Pessoa, de 30 anos, trabalha nessa área, na Coordenação de Alimentos da Gerência de Vigilância Sanitária de Produtos e Serviços de Saúde da SES-GO.

Natália. que sempre quis ser médica veterinária para cuidar de animais, se formou em 2012. Em seguida fez especialização em cirurgia torácica em animais. “Depois de formada, a nossa realidade é outra. Percebemos que, na verdade, o veterinário tem um grande envolvimento na saúde das pessoas e, assim, passei a participar do setor de fiscalização”, diz a jovem de sorriso largo.

Ela conta que, na SES-GO, trabalha no combate ao abate clandestino da carne. “Essa ainda é nossa realidade em alguns locais”, diz.  O trabalho consiste tanto na apreensão quanto na orientação aos estabelecimentos que manipulam e comercializam esse produto, como açougues. “Assim o veterinário atua prevenindo o surgimento de doenças que podem acometer a população”, afirma Natália.

Proteção ao homem

Veruska Castilho de Oliveira Neve, formada em Medicina Veterinária em 2002 pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e analista em saúde da SES-GO desde 2005, atua hoje no Centro de Informação Toxicológica, o CIT. Essa unidade realiza diversas atividades preventivas e de vigilância aos acidentes por animais peçonhentos, orientando a população por meio de telefone, material educativo e palestras sobre os riscos e cuidados no contato com cobras, escorpiões, aranhas e outros.

O CIT também orienta médicos sobre medidas terapêuticas e é responsável pela distribuição de soros antiveneno. O Centro ainda mantém um cadastro com os vários tipos de acidentes, por data e região, para orientar os gestores estaduais e municipais no controle e manejo com animais venenosos.

Veruska Castilho conta que o seu plano para a vida adulta era o de ser médica veterinária epidemiologista e servidora pública. “Perguntam se não sinto falta do trabalho com animais e respondo: exerço diariamente minhas funções utilizando conhecimentos técnicos. Nem só de clínica e/ou cirurgia se fazem médicos-veterinários. No CIT ajudo as pessoas a conviverem pacificamente com o meio ambiente, sem correr riscos e preservando a natureza”, declara Veruska, especialista em epidemiologia e em vigilância em saúde, atuando na área de saúde pública.

Maria Vitória (texto) e Erus Jenner (fotos), da Comunicação Setorial – com informações do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-GO)

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