Atenção às políticas de defesa sanitária animal e vegetal em Goiás
Em entrevista à Revista Campo, o presidente da Agrodefesa, José Ricardo Caixeta Ramos, destaca as ações da Agência e a importância da entidade para a defesa agropecuária em Goiás
No dia 22 de maio, o governador Ronaldo Caiado empossou o médico veterinário José Ricardo Caixeta Ramos como novo presidente da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). Ex-superintendente da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), José Ricardo Caixeta também foi instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás) e é produtor rural na região de Anápolis. Com o novo cargo, agora ele será responsável pela execução de políticas de defesa sanitária animal e vegetal, com olhar voltado para prevenção, vigilância, controle e erradicação de doenças em rebanhos goianos, de pragas e demais mazelas nas principais culturas comerciais, além de promover um trabalho de educação sanitária no Estado. Em entrevista para a Campo, o novo presidente da Agrodefesa explica qual é o papel da Agência, a importância do trabalho desenvolvido, os desafios que virão pela frente e como será a parceria com o Sistema Faeg/Senar/Ifag/Sindicatos Rurais. Confira!
1 – Qual é a atuação da Agrodefesa? Por que a Agência é tão importante para o agro goiano?
A Agrodefesa tem como missão executar a defesa agropecuária no Estado de Goiás através de três grandes áreas: implementação de programas sanitários para animais e vegetais; inspeção e fiscalização de produtos na indústria de alimentos de origem animal, estabelecimentos pecuários e agrícolas, trânsito de animais, vegetais; e laboratorial, para diagnóstico de doenças infecciosas de animais e análise da qualidade de sementes e de alimentos de origem animal para consumo humano. O agro, seja ele do grande ou do pequeno produtor rural, ganha mais credibilidade se for conduzido de forma sustentável, econômica, ambiental e socialmente. Então, nosso trabalho na Agrodefesa é executado para preservar o patrimônio do produtor rural, gerar riquezas e agregar valor aos produtos. Por meio do trabalho executado pela Agência nós atendemos às exigências internas e externas do mercado consumidor, afastamos as condições que possam trazer pragas e doenças que afetam tanto as diversas culturas, como soja, milho, citrus, algodão, tomate, banana, quanto as diferentes explorações pecuárias de bovinos, suínos, aves, equinos e outras. Ainda colaboramos na oferta de alimentos de origem animal e vegetal, não apenas em quantidade, mas também sanitariamente seguros para o consumo da população.
2 – Por que Goiás é hoje referência em inspeção e sanidade animal e vegetal?
Goiás é destaque nacional no volume de produção agropecuária. Somos destaque na produção de soja, milho, girassol, sorgo, carne bovina, suína e aves. Nossos rebanhos têm muita qualidade genética e sanitária, nossas lavouras batem recordes de produção. A economia do nosso Estado de Goiás caminha em franca ascensão. Boa parte desse sucesso se deve ao compromisso que o produtor rural assumiu, historicamente, com a qualidade dos produtos produzidos em suas propriedades. Nenhum órgão de defesa agropecuária geraria resultados no seu trabalho, se não houvesse o compromisso do produtor rural. Em sua maioria, ele sempre se comprometeu em vacinar o gado, declarar seu rebanho, em realizar os vazios sanitários necessários. O Governo do Estado, por meio da Agrodefesa, Seapa e Emater, complementa esse compromisso e atua para manter elevada a qualidade da nossa produção. Esse trabalho conjunto reflete em bons resultados e reconhecimento.
3 – Você recentemente foi empossado presidente da Agrodefesa. Quais serão suas metas de trabalho para a Agência?
Na Agrodefesa estou a serviço da sociedade, por indicação do governador Ronaldo Caiado e apoiado por entidades representativas do agronegócio. As metas não são apenas minhas, são metas de governo. Uma delas é oferecer o melhor serviço ao cidadão que necessita da Agrodefesa para o desenvolvimento do seu negócio. Vamos trabalhar para que o desempenho da agropecuária contribua para que Goiás tenha uma indústria de alimentos robusta, produzindo alimentos com qualidade higiênico-sanitária, gerando empregos e renda nos municípios goianos. Nosso foco também será na manutenção da recente conquista do estado livre de febre aftosa sem vacinação, ampliando a vigilância dos rebanhos e incentivando a rastreabilidade e certificação de propriedades. Entre as metas de gestão está o foco nas políticas públicas de compliance de gestão de risco, ética, transparência e responsabilização. Também vamos atuar com prioridade nos projetos de planejamento e inovação. Sempre com o cuidado de equilibrar o trabalho bem feito e a responsabilidade com as contas públicas.
4 – Quais são os desafios de atuar na Agrodefesa?
Encontrei na Agrodefesa uma equipe muito comprometida e consciente das competências da pasta. Mas a Agrodefesa, devido a sua grande área de atuação e alcance em quase todos os municípios goianos, requer muito planejamento das ações. São desafios de diversas naturezas: ameaças sanitárias, como a Influenza Aviária, desvios em usos de agrotóxicos, demandas variadas das indústrias, apreensões de produtos fora de padrões e diversos outros. Todas essas situações demandam muita cautela e habilidade para tomar decisões. Para gerir tudo isso precisamos de equipes capacitadas, estruturas físicas adequadas para receber a população, disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros e, claro, servidores motivados.
5 – Qual é a importância da figura do fiscal agropecuário estadual? Qual é o trabalho que ele desenvolve e que a população precisa ter consciência?
Como mencionado, nas três principais frentes de trabalho da Agrodefesa há fiscais estaduais agropecuários atuando. Esses servidores atuam diretamente nas atividades de campo, realizando vigilância em rebanhos, certificação de propriedade, levantamentos e monitoramentos em culturas. Atuam na fiscalização de trânsito de animais e vegetais, fiscalização de estabelecimentos agropecuários, indústrias e eventos pecuários, na inspeção de produtos de origem animal em laticínios e abatedouros. Também atuam em laboratórios de qualidade de alimentos, diagnóstico de doenças infecciosas de animais e análise de qualidade de sementes e mudas. Além disso, fazem frente em diversas outras áreas, promovendo a educação sanitária, compondo comitês de gestão municipal, promovendo eventos voltados para defesa agropecuária nos municípios. Essa equipe de fiscais é composta por médicos-veterinários, zootecnistas, engenheiros agrônomos e de alimentos com alto nível de capacidade técnica e que colaboram ativamente para que a agropecuária de Goiás mantenha o nível de excelência que nossa população merece. Sem o trabalho desempenhado pela defesa sanitária, não alcançaríamos mercados externos, não teríamos produtos seguros para o consumo, perderíamos em produtividade e aumentaríamos o risco de disseminação de doenças, algumas delas inclusive de interesse para saúde humana.
6 – Uma das principais conquistas da Agrodefesa foi o trabalho para tornar Goiás zona livre de aftosa sem vacinação. O que isso significa para o agro goiano e para a sociedade? E de que forma impacta a economia do nosso estado?
O mercado externo sempre olhou para o Brasil com uma certa ressalva a respeito da febre aftosa. Para eles havia sempre a questão: “Se o Brasil é zona livre de febre aftosa, porque ainda mantém a vacinação?” Chegou um momento em que nosso País deixou de expandir seus mercados, principalmente em relação ao comércio de carne bovina, e houve então a necessidade de demonstrar ao mundo a qualidade sanitária do nosso rebanho. O último foco de febre aftosa em Goiás ocorreu em 1995, há quase 28 anos. Goiás sempre alcançou níveis excelentes de cobertura vacinal, também foram realizados vários inquéritos epidemiológicos que constataram não haver a circulação do vírus da febre aftosa no rebanho goiano. Diante de tantos resultados que demonstravam a segurança para retirar a vacina, não havia motivo para manter essa medida sanitária. Então, em novembro de 2022, depois de um trabalho árduo da defesa sanitária, foi realizada a última etapa de vacinação no nosso Estado. O novo status em breve deve ser reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e a condição, que por muitos anos foi gozada apenas pelo estado de Santa Catarina, também será experimentada por Goiás e outros estados brasileiros. Espera-se que o novo status permita a abertura de novos mercados e agregue ainda mais valor ao nosso produto. Recentemente, uma missão técnica mexicana esteve em Goiás para avaliar plantas frigoríficas, conhecer os sistemas de produção de bovinos a campo e avaliar as medidas de prevenção de febre aftosa realizadas pela Agrodefesa, com o objetivo de colher informações para futura importação de carne.
7 – Que outras atividades hoje integram o calendário da Agrodefesa e que demandam atenção, especialmente do produtor rural?
Obviamente, a retirada da vacina abre também um novo desafio: redobrar a vigilância para afastar as chances de um novo foco. Como não temos vacina, perdemos uma das nossas barreiras de proteção e precisaremos intensificar nosso trabalho nas outras formas de evitar a disseminação da doença. Ações de vigilância nas propriedades, atendimento imediato de denúncias, estimular a notificação de suspeitas da doença, promover educação sanitária em todos os elos da cadeia produtiva, são algumas das medidas que precisarão ser redobradas em relação à febre aftosa. Além disso, o mercado hoje exige transparência nas informações e outro ponto de atenção é conhecer a realidade das nossas propriedades rurais por meio do cadastro, georreferenciamento, declaração de rebanho, pois sem esses dados as medidas de controle e o planejamento de ações de defesa tornam-se bem mais complicadas. A raiva dos herbívoros, o controle de brucelose e tuberculose também são demandas urgentes, afinal tratam-se de zoonoses e temos como missão cuidar também da saúde das pessoas. Nesse sentido, também não podemos deixar de lado todas as medidas de verificação do uso de agrotóxicos nas nossas lavouras, o monitoramento fitossanitário do Cancro Cítrico nas áreas cultivadas com citrus e a fiscalização do vazio sanitário da soja para prevenir a infestação do fungo causador da ferrugem asiática. Essas medidas reduzem problemas, trazem ganhos econômicos, fitossanitários, sociais e ambientais para os produtores.
8 – Que medidas o Governo de Goiás está tomando como forma de prevenção mais rigorosa contra a gripe aviária?
Além das diversas capacitações dos técnicos da Agrodefesa para que todos estejam preparados para atuar em um possível foco, estão sendo realizadas diversas ações de educação sanitária com profissionais de integradoras, médicos-veterinários da rede privada, indústrias e lideranças políticas. Recentemente, também foi editada a Portaria nº 121/2023 da Agrodefesa que inclui a suspensão da participação de quaisquer espécies de aves em eventos agropecuários, bem como aglomerações, encontros, torneios e exposições de passeriformes nativos ou exóticos e o cancelamento de todos os eventos que já estavam registrados. Além disso, proibiu que aves que participarem de eventos agropecuários em outras unidades da Federação retornem para Goiás. Os fiscais da Agrodefesa também intensificaram a fiscalização em granjas avícolas, do trânsito das aves e estão realizando o monitoramento soroepidemiológicos em aves de granjas comerciais visando a identificação precoce da doença.
9 – Por que é importante ter o envolvimento de parceiros nesse trabalho de prevenção à gripe aviária e outras doenças que podem ocorrer na pecuária no Estado?
Toda a ação de vigilância de doença é mais eficaz se a doença for detectada precocemente. Então, quanto mais pessoas comprometidas com a sanidade do rebanho, mais chance de sucesso teremos caso ocorra algum caso de doença, essencialmente, doenças que não são endêmicas no nosso Estado. A notificação da suspeita é essencial para que o serviço de defesa possa agir com velocidade. Portanto, não deve esconder as suspeitas, pelo contrário, deve notificar à Agrodefesa para que ela coloque seus técnicos em ação. Em relação à gripe aviária, além da importância da notificação, medidas de biosseguridade corriqueiras, como manter as aves domésticas em ambientes telados e afastadas de aves silvestres já é uma excelente medida de controle.
10 – Como será a parceria da Agrodefesa com o Sistema Faeg/Senar/Ifag/Sindicatos Rurais?
O Sistema Faeg/Senar/Ifag/Sindicatos Rurais é a maior e mais importante entidade representativa do setor agropecuário e sempre foram entidades parceiras da Agrodefesa. Diversas ações são realizadas em conjunto e na nossa gestão queremos que essas parcerias sejam ainda mais sólidas. Temos a compreensão que não faremos defesa sanitária somente na Agrodefesa. As parcerias público-privadas, o envolvimento dos Sindicatos Rurais e instituições que buscam o fortalecimento da agropecuária são necessárias para que todos os atores da cadeia produtiva compreendam a importância da manutenção da sanidade animal e vegetal no nosso Estado. O objetivo de todos é um só: manter o agronegócio pujante e produzir alimento de qualidade para o mundo.
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