Caso de raiva felina confirmado em Goiânia
Em 27/02/2022, o Laboratório de Análise e Diagnóstico Veterinário – LABVET /Agrodefesa, laboratório de referência para o diagnóstico Raiva em Goiás, confirmou um caso de raiva em felino do município de Goiânia. A amostra suspeita deu entrada no laboratório da Agrodefesa, por meio da Unidade de Vigilância em Zoonones de Goiânia, órgão responsável pela vigilância de raiva em cães, gatos e animais silvestres no município. O felino diagnosticado com raiva era de vida livre, havia sido resgatado das ruas do Setor Mansões do Campus, região Norte de Goiânia, por uma família e encaminhado para uma clínica veterinária para atendimento. Antes de vir à óbito o animal agrediu cinco pessoas, a veterinária que o atendeu e quatro membros da família que o resgatou. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, todas as pessoas agredidas estão bem, realizando a profilaxia completa pós-exposição e sendo criteriosamente acompanhados pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Município.
A raiva é uma doença de grande importância para saúde pública e para economia do estado, ela pode acometer quaisquer mamíferos, sejam eles domésticos ou silvestres, é considerada uma antropozoonose, sendo transmitida ao homem através da inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal infectado por meio da mordedura, lambedura e arranhadura. No Brasil, o morcego é o principal responsável pela manutenção do vírus no ambiente, consequentemente, os animais que coabitam em áreas onde existem abrigos de morcegos estão mais expostos ao risco de infecção.
Duas situações epidemiológicas da raiva são descritas, a raiva urbana e a raiva silvestre, contudo, na atualidade, os morcegos são os principais transmissores. Nos centros urbanos os morcegos não hematófagos, aqueles que alimentam de insetos e frutas, são mais frequentemente infectados e na zona rural, os morcegos hematófagos, aqueles que alimentam de sangue, são os principais disseminadores da doença. Apesar dos morcegos hematófagos serem mais importantes na cadeia de transmissão da raiva para bovinos e equinos, atualmente, não pode excluir a importância dos morcegos não hematófagos na transmissão.
Embora todos os mamíferos sejam susceptíveis à raiva, os felinos, principalmente aqueles que vivem em vida livre próximos aos parques e matas, estão mais expostos ao risco, pois possuem o hábito de caçar os morcegos para se alimentar e nesse momento, caso o morcego esteja contaminado, esses animais também poderão ser infectados pelo vírus da raiva. Segundo o gerente do LABVET, o médico veterinário Rafael Costa Vieira, a partir da amostra do felino diagnosticado com raiva, serão realizados novos exames no Instituto Pasteur de São Paulo, a fim de identificar a variante do vírus rábico e comprovar se realmente o vírus teve origem em morcegos.
Após um longo período sem diagnósticos positivos para raiva em cães e gatos em Goiânia, desde o ano de 2011 uma sequência de novos eventos tem ocorrido no município e todos estavam relacionados à transmissão por morcegos. No ano de 2011 um felino encontrado nas proximidades do Parque Areião, no Setor Marista, apresentou diagnóstico positivo para raiva, posteriormente, em 2012 no mesmo bairro, um morcego foi diagnosticado positivo. Posteriormente, entre os anos de 2013 e 2021, foi diagnosticado um cão positivo em 2015 e mais oito morcegos positivos, em diferentes localidades do município. O aparecimento de mais um caso positivo de raiva em felino neste ano, acende um alerta sobre a necessidade de adoção de medidas de controle para evitar a ocorrência de novos casos.
O gerente do LABVET chama a atenção sobre a importância da vacinação tanto em animais de estimação como em animais de produção, pois a vacinação é a melhor forma de controle da doença: “A raiva apresenta letalidade de aproximadamente 100% daqueles que adoecem, portanto, a vacinação é essencial para aquisição de imunidade e proteção dos animais e humanos.”. Anualmente são realizadas campanhas de vacinação nos municípios, coordenadas pelas Secretarias Municipais de Saúde, para imunização de cães e gatos. “Goiânia por exemplo, anunciou a meta de vacinar cerca de 180 mil animais em 2021 para proteger contra a raiva animal e, consequentemente, contra a raiva humana”, disse o médico veterinário.
No campo, a raiva ocorre principalmente nos bovídeos, equídeos, caprinos e ovinos, sendo a Agrodefesa o órgão responsável por coordenar e fiscalizar a vacinação do rebanho, fazer o controle e monitoramento de morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus, o principal transmissor da raiva para os herbívoros. Em Goiás, com base em critérios epidemiológicos como a presença de colônias de morcegos, incidência de casos de raiva e condições geográficas, 121 municípios goianos são considerados de alto risco para ocorrência de raiva. Nesses municípios a vacinação ocorre de forma obrigatória simultaneamente à vacinação contra febre aftosa, nos meses de maio e novembro. Segundo o coordenador do Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros, da Gerência de Sanidade Animal da Agrodefesa, o médico veterinário Fernando Bosso, apenas no ano de 2021 quase 18 milhões de bovinos receberam a vacina contra raiva.
As unidades locais da Agrodefesa, no ano de 2021, receberam 45 notificações de suspeitas de raiva dos herbívoros em 29 municípios goianos, das quais 22 tiveram resultados positivos emitidos pelo LABVET para raiva. Nesses casos foram aplicadas as medidas preconizadas para controle do foco de raiva dos herbívoros, como a vacinação obrigatória, a captura de morcegos para realização de exames e a vigilância ativa nas propriedades próximas ao foco, a fim de dar a devida orientação aos produtores rurais. “Sem as devidas ações de controle promovidas pela Agrodefesa, a raiva pode causar grandes prejuízos aos pecuaristas, à economia do Estado e colocar em risco a saúde população da zona rural”, afirmou o coordenador do programa sanitário.
Segundo o presidente da Agrodefesa, José Essado, todos os casos suspeitos de raiva, sejam eles em animais da zona rural ou urbana, são diagnosticados no LABVET. “Esse laboratório pertence à rede de laboratórios da Agrodefesa e existe para realizar o diagnóstico de doenças infecciosas dos animais de produção para proteção do rebanho goiano, entretanto, por ser o laboratório de referência para o diagnóstico da doença, presta uma excelente colaboração às secretarias de saúde dos municípios, realizando o diagnóstico das amostras de cães, gatos e animais silvestres, provenientes das Unidades de Vigilância em Zoonoses dos municípios”, afirma o presidente da agência.
À população é importante informar que, todos os casos de sintomatologia nervosa em herbívoros devem ser comunicados à Agrodefesa, para que ela possa prestar o devido atendimento. Já os casos suspeitos de raiva em cães e gatos devem ser informados à secretaria de saúde dos municípios, bem como, a ocorrência de morcegos caídos no chão ou com comportamentos anormais devem ser encarados como suspeitos. Além disso, o serviço médico veterinário deve ser procurado sempre que houver animais com sinais ou sintomas da doença, os leigos devem evitar ao máximo o contato com os animais e em casos de acidentes com arranhadura ou mordedura, a população deve procurar imediatamente a Unidade de Saúde mais próxima.