“Quem determina o preço da carne é o mercado”, diz secretário em entrevista ao jornal O Popular

Para o secretário da Agricultura, alta decorrente de variações no preço da arroba do boi são ajustes naturais do mercado; ele não arrisca prazo para equilíbrio nos preços

A acentuada alta no preço da arroba do boi, desde outubro, repercutiu nos açougues e na redução do consumo interno, enquanto as exportações da carne bovina em Goiás, principalmente para a China, aumentaram 43% em novembro, comparado ao mesmo mês de 2018. Em dezembro, houve recuo de até R$ 15 no preço da arroba, que ainda não se refletiu no varejo. Ao avaliar essas variações em curto prazo, o secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Carlos de Souza Lima Neto, diz tratar-se de ajustes naturais do mercado, sem apontar prazo para um equilíbrio nos preços.

É possível saber quando o consumidor pagará menos pela carne bovina? 
Isso tudo é uma situação momentânea. E quem determina essa regra toda é o mercado com a oferta e demanda. O que nós podemos realmente identificar neste momento é que tivemos um crescimento da participação nas exportações. Em novembro de 2019, comparado a novembro de 2018, houve incremento de 43%, principalmente devido a fatores sanitários na China, com o problema da peste suína que dizimou mais de 50% do seu rebanho suíno e puxou a demanda. O hábito de consumo naquele país também demonstra apreço pela carne bovina. E o Estado de Goiás, com o segundo maior rebanho bovino do País, tem resposta para atender esse mercado no momento. Agora, sobre o comportamento dos preços referenciados, ele reage a essa relação oferta/demanda e a um ajuste natural à própria margem dos pecuaristas, porque estamos identificando valores que estavam defasados nesses últimos anos e que, consequentemente, vão se ajustando para valores remuneratórios melhores.

O aumento das exportações de carne não acarreta risco de falta do produto no mercado interno? 
Não há nenhuma possibilidade disso acontecer. Temos capacidade de atender a toda essa demanda. O Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo. E o Estado de Goiás tem o segundo maior rebanho bovino do País. 

Os preços da carne bovina devem se manter elevados apesar da oferta garantida? E o que dizer da alegação dos varejistas de que é preciso restabelecer a margem perdida?
A expectativa é de que os preços se ajustem sem maiores impactos no preço ao consumidor final, porque é o consumidor final que puxa todo esse comportamento do momento, em que já há recuo da arroba do boi em dezembro, apesar das exportações maiores. Um momento como esse é muito favorável ao desenvolvimento do nosso Estado. Temos observado plantas frigoríficas que estavam fechadas e começaram a reabrir por toda uma sinalização positiva que começa a ser evidenciada. Teremos um ajuste, um equilíbrio nesses comportamentos dos preços da carne, seja no preço de remuneração ao pecuarista, seja no preço final ao consumidor e também no elo dos frigoríficos nessa distribuição. 

Reportagem do POPULAR mostra que o preço da arroba do boi teve recuo de até R$ 15 em dezembro, o que o presidente da Associação Goiana do Nelore (AGN), Eurico Valesco, atribui à pressão dos frigoríficos, por isso, ele chegou a falar em reter o gado. Como vê essa situação?
Como dissemos, quem determina esse comportamento é a oferta e a demanda pelo produto. A convicção que temos é de que os preços estavam defasados ao pecuarista e há uma recuperação a partir deste momento, que não pode alcançar patamares tão elevados ao consumidor final, porque ele retrai o consumo e isso impacta no mercado. Trata-se de um ajuste natural. Um fator determinante aí é a capacidade de fornecimento de proteína animal. 

Com a redução do consumo da carne bovina, nós temos crescimento no consumo de carnes de aves e suína. Quando virá esse ponto de equilíbrio para o preço da arroba e no mercado varejista?
Esses preços já estão se ajustando, não há como ter precisão sobre dias e meses exatos para esse mercado se ajustar. Se a gente lembrar que dias atrás saímos de valores de arroba de R$ 160 para R$ 230, e já temos uma sinalização de reduções, notamos que isso tudo vem do comportamento de quem demanda e de quem oferece. A expectativa é de um ajuste na cadeia como um todo, em que as margens e a rentabilidade sejam distribuídas entre pecuaristas e frigoríficos. Sem nenhum tipo de interferência de governo, pelo contrário, nossa participação é dar todo apoio para que o setor possa se desenvolver cada vez mais em Goiás. 

Prognóstico para a Safra Agrícola, divulgado na terça-feira, 10, indica recorde de 240,9 milhões de toneladas em 2020, 33,6 mil toneladas a mais que o desempenho do ano anterior. Qual a expectativa para Goiás? 
Estamos vindo de uma safra recorde 2018/2019 e com dados apontando a continuidade desse crescimento. São dados muito positivos, com expectativa favorável da grande participação da produção agropecuária, fator chave para o crescimento da nossa economia e desenvolvimento do nosso Estado.

Diante da importância da agropecuária para Goiás, quais as políticas públicas devem ser implementadas para o setor? 
Temos feito um trabalho fundamentado no desenvolvimento econômico e social, e fortalecimento das juridicionadas da Secretaria, que são Emater, Agrodefesa e Ceasa, junto com todos os demais parceiros. A concepção é de que o agro é de todos, seja nas ações prioritárias na competitividade, na infraestrutura. Tivemos este ano a concessão da Ferrovia Norte-Sul e que dentro de um ano deve começar a operar efetivamente. Em 2020, vamos ver essa ferrovia sendo percorrida.

A Assembleia deve aprovar a Lei Orçamentária para 2020. Qual a previsão de recursos para a Secretaria da Agricultura? 
Estamos trabalhando mais fortemente na captação de recursos com parceiros federais, principalmente no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Neste ano de 2019, tivemos R$ 133 milhões de emendas de bancada para adquirir tratores, caminhões, retroescavadeiras, motoniveladoras, distribuídas a municípios goianos. Temos projetos de irrigação em Luís Alves e Flores de Goiás em parceria com a Sudeco (Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste), que estavam paralisados e estamos retomando.

Mas o que está previsto de investimentos pelo próprio Estado no próximo ano? 
Ajustes estão acontecendo, certamente, em todo o governo, pelas necessidades com que estamos nos deparando. Mas todos os projetos dimensionados estão previstos no orçamento, entre eles os de fomento à agricultura familiar, produção artesanal, ao programa Produtor/Empreendedor, que vamos apresentar em parceria com a Goiás Fomento, de disponibilização de crédito aos produtores rurais, aos programas de sustentabilidade e conservação de mananciais. Daí nosso esforço em buscar parcerias, principalmente convênios com o governo federal, como os que já celebramos e estamos a celebrar para manter essas iniciativas.

No Congresso, a bancada ruralista pressiona o governo em reação a cortes de verbas para o Ministério da Agricultura no próximo ano. Essa perspectiva não dificulta a busca de recursos federais? 
Os parlamentares estão deliberando. Mas temos convicção de que os recursos para um importante setor que está dando certo e traz bons resultados não serão reduzidos. Acreditamos que os bons projetos e iniciativas vão ser fortalecidos também no nosso Estado.

Entrevista concedida à repórter Karla Jaime, do Jornal O Popular

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