Artigo – Uso da água na irrigação: desmistificando preconceitos
Alisson Luis Ferreira*
A demanda mundial de alimentos aumenta na mesma proporção do crescimento da população mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população estimada em 2020 era de, aproximadamente, 7,7 bilhões de pessoas, com a expectativa de se alcançar 9,7 bilhões em 2050. Estima-se que a produção mundial de alimentos deveria crescer em 70% para acompanhar o ritmo de crescimento populacional do planeta.
Para alcançar essa alta na produção com menor impacto ao meio ambiente, propõe-se que cerca de 90% desse crescimento deveria ser através do aumento da produtividade e apenas 10% de abertura de novas áreas de cultivo. Uma das ferramentas para se obter esse acréscimo consiste no uso da irrigação, uma vez que ela pode aumentar de duas a três vezes a produção agrícola em relação às áreas que dependem de chuvas, podendo contribuir de forma determinante nesse objetivo.
O Governo de Goiás trabalha, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), desenvolvendo projetos públicos de irrigação e de reservação de água. Podemos citar casos de sucesso como na cidade de São Miguel do Araguaia (distrito de Luís Alves), onde está o Projeto de Irrigação Luis Alves do Araguaia, com mais de 2.800 hectares de área irrigada. Tem-se, ainda, mais de 13 mil hectares no cultivo de arroz na cidade de Flores de Goiás, atuando de forma específica na garantia do fornecimento de água por meio da perenização do Rio Paranã, graças a um complexo de barragens instaladas naquela região.
Outra iniciativa dessa administração foi o recente criado Conselho Estadual de Irrigação, por iniciativa da Seapa, reunindo órgãos e entidades do setor para a realização de políticas públicas capazes de direcionar ações para o desenvolvimento das regiões mais carentes do Estado, bem como desenvolver ainda mais regiões com Polos de Agricultura Irrigada já estabelecidos, como no Vale do Araguaia e na cidade de Cristalina, hoje tida como uma das maiores e mais bem sucedidas regiões agrícolas irrigadas no País.
A agricultura irrigada é responsável por cerca de 40% da produção brasileira de alimentos e corresponde por cerca de 8% da área agrícola no País. Porém, é importante lembrar que no momento da irrigação, parte da água é perdida por infiltração no solo, parte por evaporação para atmosfera e outra parte assimilada pela planta. Da fração assimilada pela planta, há o retorno de 95% para a atmosfera na forma de vapor d’água, fenômeno esse conhecido por transpiração, com origem nos estômatos, durante o processo fotossintético.
Esse fato nos leva a concluir que o volume de água realmente consumido pela cultura é pequeno, uma vez que a sua grande maioria permanece no ambiente retroalimentando o ‘Ciclo da Água’. Mesmo assim, é preciso reconhecer que a captação de água proveniente dos cursos naturais destinada à agricultura irrigada pode impactar na economia e no abastecimento urbano, sendo necessário que os sistemas e métodos de irrigação se tornem cada vez mais eficientes, para que nos possibilite aumentar as áreas irrigadas sem ou impactando o menos possível na oferta hídrica atual.
*Alisson Luis Ferreira é Engenheiro Agrônomo e Técnico em Gestão Pública da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa)
(Artigo publicado originalmente no jornal Diário da Manhã, em 29 de março de 2022).