UFG desenvolve procedimento de análise da qualidade do álcool gel 70%
Pesquisa do LAMES verificou que 40% das amostras do produto vendido na região estão com qualidade inadequada
O Laboratório de Métodos de Extração e Separação da Universidade Federal de Goiás (LAMES-UFG) desenvolveu um procedimento para atestar a qualidade do álcool gel 70%, largamente utilizado devido a pandemia de Covid-19. De acordo com o coordenador-geral do LAMES, professor Nelson Roberto Antoniosi Filho, já existiam normas de controle de qualidade para se produzir álcool 70% em sua forma líquida, que é a mistura do etanol com água, mas ainda não havia nenhum procedimento de controle de qualidade para o álcool gel, que é o etanol misturado com água, seguido da adição do espessante.
A ideia surgiu em março de 2020 quando, com o surgimento da pandemia da Covid, a equipe do LAMES-UFG decidiu colaborar com os trabalhadores que atuavam na linha de frente no combate à doença. A proposta era preparar amostras de álcool gel para fornecer a hospitais públicos. O professor Nelson Antoniosi explicou que dois problemas se apresentaram para a execução da ideia: “primeiro, para se fazer álcool gel, é preciso adquirir um polímero que dá consistência de gel ao produto e isso estava em falta no mercado. E quando você encontrava o produto, o preço estava muito alto. O segundo entrave era que não havia procedimento de controle de qualidade para o produto acabado”.
Diante da impossibilidade de preparar o produto e também verificar a qualidade da produção, a equipe se empenhou em fazer apenas o álcool 70% em sua forma líquida e distribuir para o Hospital das Clínicas da UFG e o Hospital Araújo Jorge. “Mas sempre que a gente encontra uma dificuldade, eu costumo dizer que isso é uma oportunidade para se fazer pesquisa. Então, nós fizemos uma proposta de projeto de pesquisa para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e para a Fundação de Amparo à Pesquisa em Goiás (FAPEG) e os dois órgãos aprovaram essa atividade de pesquisa. Essa pesquisa se tornou o tema do mestrado em Química do aluno Leonardo Alves Carvalho Rodrigues, com a participação da pesquisadora Lilian Ribeiro Batista”.
Lames UFG
“Assim, começamos e continuamos ainda a desenvolver polímeros nacionais em substituição aos importados para funcionar como o gelificante para o álcool gel. Nesse período, também concluímos o desenvolvimento e a validação de um procedimento (ensaio) de controle de qualidade para álcool gel 70%”, explicou Antoniosi.
Após o desenvolvimento do ensaio, a equipe do LAMES coletou 70 amostras de álcool gel 70% vendidos em mercados de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. Dessas 70 amostras, 28 estavam com padrões de qualidade inadequados para uso, o que representa 40% do total coletado. “Segundo a OMS, um álcool gel que tenha concentração de etanol na faixa de 60 a 80% está adequado para se fazer assepsia microbiológica, o que inclui o combate a vírus como o coronavírus. A Anvisa, com base nessa faixa de 60 a 80%, estabeleceu que toda amostra comercial de álcool gel deveria ter concentração de etanol na faixa de 63 a 77%. A questão é que 40% das amostras estavam com conteúdo abaixo disso”, relatou Antoniosi.
A forma do produto disponível para venda é o álcool gel sanitizante de mãos e, com concentração de etanol abaixo de 63%, apresenta uma qualidade muito inferior ou até mesmo ineficaz no combate de alguns microrganismos. “Se 40% dos produtos vendidos estão com conteúdo inadequado de etanol, isso significa que boa parte do nosso mercado está fornecendo à população um produto que não tem eficácia adequada para o combate à Covid. Apesar de sermos o segundo maior produtor de etanol no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, nós temos uma das maiores taxas de disseminação do coronavírus e uma das razões para que isso esteja ocorrendo pode ser o conteúdo inadequado de etanol no álcool gel 70%”, destaca o coordenador do LAMES-UFG.
Fonte: Secom UFG – Texto: Luciana Santal