Tese de doutorado resulta em jogo de tabuleiro e aproxima ciência da população

Pesquisador contemplado por edital de bolsas da Fapeg explica, de forma divertida, a importância da urina dos peixes e democratiza o acesso ao conhecimento científico atingindo diferentes públicos

                                                                                                                                                                                                                                        Letícia Santana, da Assessoria de Comunicação da Fapeg

 

Aprender brincando. Esta foi a intenção do pesquisador Ronny José de Morais ao criar um jogo didático para explicar a importância da urina dos peixes na manutenção dos ecossistemas aquáticos. Produto da tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Ronny foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) na Chamada Pública nº03/2016.

Segundo Ronny, o objetivo era transformar o conhecimento produzido de forma sistemática e científica em algo lúdico que pudesse atingir distintos públicos. “Na minha tese de doutorado, identificamos a importância dos peixes de riachos para a ciclagem de nutrientes. Em outras palavras, identificamos a importância do xixi dos peixes para a manutenção destes ecossistemas aquáticos ao contribuírem com a excreção de nitrogênio e fósforo. Assim, procurei, por meio desta proposta, traduzir a linguagem científica em algo acessível para contribuir com a divulgação científica”, explica.

Com o nome de Peixixi, o jogo de tabuleiro tem despertado a atenção por quem já teve acesso. Ronny ressalta que foi elaborado um protótipo do jogo para verificar a dinâmica e o aspecto visual de todos os elementos com intenção de garantir mais qualidade no material didático. O objetivo é estabelecer parcerias e/ou colaborações para distribuir o material. “Estamos também pensando em criar outras versões do jogo, uma versão simplificada e outra digital, para alcançar um público mais diversificado”, afirma.

O jogo

Em Peixixi, os jogadores controlam uma comunidade de peixes para explorar o riacho em busca de alimentos, precisam se desvencilhar das ameaças que surgem pelo caminho e ajudar o ambiente por meio da excreção. O pesquisador diz que os peixes podem fazer xixi no percurso e aumentar a sua área de excreção, deixando rastros pelo caminho. A urina liberada pelos peixes pode contribuir para o crescimento das algas e favorecer a diversidade de espécies. É preciso desenvolver estratégias para garantir a sobrevivência e a cada nova rodada novos objetivos podem surgir.

Cada peixe apresenta um conjunto de características particulares, como preferência alimentar, agilidade na locomoção e tamanho. E esta última interfere diretamente na taxa de metabolismo (o quanto ele consegue digerir) e consequentemente, na quantidade de nutrientes que consegue excretar. Essas características definirão grande parte das ações dos jogadores. Assim, cada jogador poderá escolher qual o melhor alimento para aquela espécie, acompanhar a pontuação dos dados adquiridos e definir a melhor ação a fazer no momento (nadar, alimentar ou excretar). O jogo possui um tabuleiro compartilhado que simula um ecossistema natural baseado na paisagem da Serra dos Pireneus, uma área de conservação situada entre os municípios de Pirenópolis, Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás.

Conforme explica Ronny, o ambiente do jogo mostra a paisagem de um riacho com a presença de cachoeira, com fundo (substrato) rochoso e com presença de algas e vegetação ao longo das margens. O jogo simula o movimento da água nas áreas de correnteza e a entrada de alimentos de origem terrestres, como frutos e insetos, no riacho. O jogador precisa ficar atento aos objetivos e alimentar bastante para liberar muitos nutrientes, ou seja, fazer muito xixi. Vence o jogador que cumprir mais objetivos e acumular mais pontos ao final das rodadas.

Divulgação científica

Pesquisador Ronny José de Morais. Doutor em Recursos Naturais do Cerrado

A divulgação científica tem o objetivo de transformar um conteúdo científico em uma linguagem simples, que seja de fácil entendimento e alcance diferentes públicos. Foi com esse objetivo que Ronny desenvolveu o Peixixi, para que pudesse ser consumido por pessoas de diferentes idades, levando o que foi aprendido dentro da academia para fora do ambiente de uma universidade e seus cientistas. Segundo o pesquisador, a proposta com este jogo é aproximar a ciência de jovens e adultos.

Para ele, já houve um avanço em relação à divulgação científica nos últimos tempos no Brasil. “Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. As atividades de pesquisa ainda tendem a ser restritas ao público acadêmico e há grupos esparsos de trabalho promovendo a divulgação científica. De fato, fazer divulgação científica requer muita dedicação e exige habilidades didáticas que precisam ser repensadas nos programas acadêmicos”.

Ronny destaca que a divulgação científica é uma importante ferramenta de sensibilização da sociedade. “Os pesquisadores não precisam possuir todas a habilidades necessárias para promover a divulgação científica, mas podem, por meio de parcerias e colaborações, estabelecer essa comunicação para que seus trabalhos científicos ganhem novas dimensões e alcancem públicos distintos”, afirma.

Além do investimento em divulgação científica, Ronny destaca a importância do fomento às pesquisas, em especial o papel da Fapeg na formação de recursos humanos por meio do incentivo à pesquisa, ciência e inovação. “A bolsa concedida pela Fapeg foi fundamental para a realização da minha pesquisa de Doutorado. Por meio dela, pude me dedicar exclusivamente às atividades de pesquisa, o que viabilizou a conclusão do Doutorado. A concessão de bolsas para pesquisas é sem dúvida uma importante ferramenta para o avanço da ciência no país, pois é uma forma de manter a qualificação e a permanência do aluno no curso”, finaliza.

Reconhecimento

Sob a orientação do professor Fabrício Barreto Teresa, a tese de Doutorado de Ronny, intitulada como “Ciclagem de nutrientes por peixes em riachos neotropicais” já recebeu dois prêmios. Em 2020, foi reconhecida no Prêmio da Sociedade Brasileira de Popularização da Ciência em Goiás (SBPC/GO) pela realização deste trabalho de divulgação científica. O trabalho foi publicado no e-book da SPBC. Em 2022, foi premiado pela apresentação do trabalho no XXIV Encontro de Brasileiro de Ictiologia (EBI 2022), congresso realizado entre os dias 18 e 23 de setembro de 2022 no Rio Grande do Sul.

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