Seminário Estratégico Finep reúne governo, academia e indústria e discute o desenvolvimento brasileiro
Aconteceu no dia 30/01, a primeira parte do Seminário Estratégico Finep 2020-2030, evento organizado pela financiadora para debater o Sistema Nacional de CT&I e ajudar a pavimentar o desenvolvimento econômico brasileiro via Pesquisa & Desenvolvimento. Como a maior instituição de interface pública entre universidades e empresas – e indutora de projetos estratégicos que garantem a soberania nacional – a Finep entende que é fundamental o debate com diversos atores do ecossistema de inovação. Sinaliza com a iniciativa, portanto, as bases do seu futuro e o do próprio Brasil.
Na fala de abertura, o presidente da agência, general Waldemar Barroso, lembrou que, às vésperas de completar um ano no cargo, constata que “a esperança que sentia à época agora se renova. Porque a empresa já abraçou esforços importantes e, agora, cada vez mais, estamos empenhados para fazer a Finep e o país melhores”. Barroso também afirmou que o evento representa uma grande oportunidade para ouvir o que o ambiente de Ciência, Tecnologia e Inovação está pensando e o quanto isto condiciona ações da Finep. “Só conseguimos atingir objetivos de desenvolvimento com a colaboração de todos, tantos atores externos quanto internos, e sempre alinhados com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)”, frisou.
Como representante do ministro Marcos Pontes, do MCTIC, o secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas, Marcelo Morales, parabenizou a Finep pela organização do seminário e pela “superação de vários esforços para ajustar a casa”. Morales afirmou que o ministério se encontra, mais do que nunca, empenhado na formação de pesquisadores, o que está claro com o recente lançamento do Programa Ciência na Escola. “Não há desenvolvimento, em nenhum país do mundo, sem investimento em ciência e educação. Com a colaboração de todos os órgãos vinculados ao MCTIC, vamos seguir com os ajustes no sistema. A ideia é que todos caminhem juntos e a Finep é parte essencial na estrutura”, disse.
Painel 1
O primeiro painel do dia – “Tendências globais e o papel do Estado na definição das políticas de financiamento para C,T&I” – reuniu os convidados Giovanni Cordeiro, economista chefe da Deloitte (empresa de auditoria e consultoria empresarial); Paulo Barone, assessor parlamentar, representante da Frente do Congresso em C,T&I; e o embaixador Achilles Zaluar, do Ministério das Relações Exteriores. O painel foi moderado pelo presidente Finep.
Cordeiro apresentou dados de recente pesquisa da Deloitte com empresários brasileiros que correspondem a cerca de 50% da riqueza gerada no Brasil. Os números demonstram que eles estão otimistas e pretendem investir maciçamente em novas tecnologias e na qualificação de empregados, em 2020. “A preocupação com as transformações disruptivas está no radar das empresas; investir em tecnologia é prioritário, independente do cenário econômico”, afirmou o executivo.
Para Barone, a interação da Finep e de outras instituições do sistema com o Parlamento é cada vez mais estratégica. “Quanto mais os parlamentares estiverem esclarecidos sobre as questões importantes em que a Finep e instituições co-irmãs estão envolvidas, mais eficaz será a discussão e mais próxima estará a solução de problemas. Precisamos ir além do discurso de defesa e dar prioridade ao assunto da escassez de recursos”.
Já o embaixador Achilles Zaluar falou da necessidade de o Brasil sair da estagnação econômica que, segundo ele, nos impacta desde os anos 1980. “Temos uma base respeitável de ciência e tecnologia, produzimos muita ciência de qualidade, mas esta pouco se transforma em inovação. Falta investir em um ingrediente – o empreendedorismo”, afirmou. De acordo com Zaluar, não é possível opção diferente de “inserir o DNA da inovação em nosso sistema urgentemente, sob risco de perdermos o bonde do desenvolvimento contemporâneo”. E acrescentou: “um país de 200 milhões de habitantes não consegue viver apenas de exportação de matérias-primas. Temos de embarcar agora na revolução da Indústria 4.0, já iniciada. É uma questão de sobrevivência”.
MCTIC e CNI
No painel 2 – com o título “Investimento em P&D: o papel da estratégia de P&D para a competitividade das empresas brasileiras” – a moderação ficou a cargo do diretor de inovação da Finep, Alberto Dantas. Como convidados, Jorge Mario Campagnolo (diretor do Departamento de Apoio à Inovação, da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação do MCTIC– SEMPI) e Gianna Sagazio (diretora de inovação da CNI).
De acordo com Dantas, o grande desafio do Brasil é aproximar suas posições mundiais nos rankings de publicações científicas (o país está no 14º lugar, classificação considerada boa) e de inovação (66º lugar, muito atrasado com relação a grande parte do globo). “Estamos aqui debatendo tendências do ecossistema para refinar nossas iniciativas e fazer com que estes dois números se encontrem”.
Campagnolo apresentou as iniciativas atuais do Ministério da Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações, que tem se esforçado para dinamizar o financiamento público a CT&I e também ampliar os investimentos do setor privado em P&D: “inovação pressupõe riscos e se dá no setor privado. Precisamos trazer mais recursos do setor produtivo, mas sempre lembrando que eles precisam de alavancas públicas – sobretudo, a Finep e sua missão única”, explicou.
Ele enfatizou que o ministério tem se esforçado para a excelência de uma Política Nacional de Inovação, que trabalha com um horizonte de 20 anos para entregar, calçada em incremento tecnológico, força à nossa economia. O radar do MCTIC, segundo Campagnolo, também mira uma Política Nacional de Materiais Avançados, como, por exemplo, nióbio e grafeno.
Por apresentar características de material mais forte, leve, fino, transparente, com maior condutividade térmica e grande condutor de eletricidade, o grafeno desponta como a melhor alternativa para a solução de problemas tecnológicos em diferentes áreas do conhecimento, entre elas, a indústria automobilística.
Para esta área, aliás, o MCTIC está debruçado em uma inciativa considerada estratégica: o Rota 2030. Como agência habilitada a operar os recursos deste programa de incentivos fiscais do governo federal que estabelece as bases de uma política industrial do setor automobilístico, a Finep apoiará o desenvolvimento de soluções baseadas – justamente – em grafeno e seus materiais relacionados.
Ao todo, serão ofertados pela Financiadora R$ 200 milhões do Rota 2030, e mais R$ 70 milhões em recursos próprios, ao longo de cinco anos. O Programa Prioritário Finep 2030 será caracterizado pela grande abrangência nas modalidades de instrumentos, desde recursos não-reembolsáveis a ICTs e empresas até investimentos em startups e Fundos de Investimentos e Participações (FIPs).
Camagnolo também citou iniciativas como o Centelha (voltado ao empreendedorismo inovador), a Câmara da indústria 4.0, a Câmara da agricultura 4,0 e a Câmara da saúde 4.0, cujo lançamento ocorreu também na quinta (30/01), em Brasília, com a presença dos ministros Marcos Pontes e Henrique Mandetta, e do diretor da Finep Adriano Lattarulo.
Representante da CNI, Gianna Sagazio afirmou que os países que mais exportam têm maior investimento em P&D: “os Estados Unidos, por exemplo, respondem por cerca de 12,5% das exportações do planeta. Já o Brasil, 0,95%”. Não à toa a colossal diferença – em torno de 500 bilhões de dólares – entre ambos no que tange a recursos gerais aplicados em inovação.
Citou, ainda, a subvenção econômica como um dos mais importantes recursos do Mundo para alavancar C,T&I. No Brasil, a instituição autorizada a operar esta linha (dinheiro não reembolsável para companhias) é a Finep. “A queda do orçamento da subvenção contraria a tendência das nações desenvolvidas. É um dinheiro que vale ouro para o desenvolvimento brasileiro via tecnologia de ponta, e denota o valor único da financiadora e do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)”, completou.
A executiva da CNI também elogiou os dados relativos a empresas que receberam crédito da financiadora. Os empréstimos a condições especiais elevaram, em média, 76% da contratação de pessoal ocupado em áreas científicas e tecnológicas. Tantos apontamentos da Confederação merecem olhar com lupa por quem respira o ecossistema de inovação: a indústria contribui com 1,3 trilhão de reais para a economia brasileira e tem 22% de participação no PIB.
Infraestrutura de pesquisa
O papel da infraestrutura de pesquisa para a implementação da agenda de C,T&I no Brasil foi o tema do terceiro painel, que fechou a programação do primeiro dia do Seminário Estratégico Finep 2020-2030.
Moderada pelo diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep, Marcelo Bortolini, a mesa contou com a presença de Marcelo Morales; do representante do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e também diretor de CT&I da Fapemig, professor Paulo Beirão; e do representante da SBPC e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sidarta Ribeiro.
O debate teve como foco a infraestrutura hoje existente no país para atividades de pesquisa. Os palestrantes foram unânimes ao reconhecer o papel estratégico e fundamental da Finep no apoio à consolidação dos laboratórios. Quando provocados a apontar um aspecto negativo na atuação da Finep, todos concordaram que a redução da disponibilidade de recursos para financiar o sistema de C,T&I, provocada pelo contingenciamento dos recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), é o grande entrave na atual conjuntura.
Marcelo Morales defendeu o alinhamento das Instituições de Pesquisa para que atuem em parceria, de forma que os recursos sejam melhor utilizados. Ele anunciou o lançamento em breve, pelo MCTIC, de uma plataforma Nacional de Pesquisa na área de infraestrutura, onde serão disponibilizadas informações sobre todos os laboratórios e equipamentos disponíveis no País. “Essa infraestrutura ficará à disposição dos pesquisadores e também das empresas nacionais”, afirmou.
O representante do Confap elogiou a iniciativa da Finep de discutir questões estratégicas, tendo como convidados todos os integrantes do sistema. Segundo ele, a economia brasileira está baseada em dados primários – metade da nossa exportação vem de produtos de baixo valor agregado (commodities). Por outro lado, temos um sistema robusto de C,T&I, que hoje está sob forte ameaça no aspecto do financiamento, não só na esfera federal mas também estadual. “O grande desafio é convencer a sociedade e o governo que C,T&I é o caminho para a superação da crise.
Nós temos capacidade de gerar projetos estratégicos e de grande impacto. Vários países, entre eles a Coréia do Sul e a Finlândia superaram as suas crises e se tornaram potências com investimento em tecnologia. O Brasil já mostrou que também é capaz, afirmou Beirão. Ele citou como exemplo três iniciativas em C,T&I que mudaram cenários de crise. “Na década de 60, importávamos alimento, enquanto boa parte da população estava no campo. Com investimento em tecnologias, que fizeram a terra mais produtiva, nos tornamos os maiores exportadores de gêneros alimentícios. Na crise do petróleo, na década de 70, criamos o Pró-álcool e, anos depois, formos pioneiros em tecnologia de prospecção em águas profundas”, completou Beirão.
O professor Sidarta Ribeiro complementou a fala ao ressaltar que o Brasil já deu certo várias vezes, e que existe um discurso derrotista que o assusta. “Já provamos que para cada um real investido no sistema de CT&I, o Brasil ganhou quinze, e citou o esforço recentemente empreendido pela comunidade científica, por ocasião da epidemia de Zika. “Tínhamos apenas uma pesquisadora com conhecimento nessa área e, em quatro meses, juntamos esforços e desenvolvemos a vacina. Nós temos muita gente qualificada, mas estamos entregando os nossos melhores cérebros para outros países”, frisou.
Ribeiro também declarou que, atualmente, todos os pesquisadores próximos a ele retiram dinheiro do próprio bolso para pagar insumos e bolsa de alunos em atividade de pesquisa. “Como manter a infraestrutura se 88% dos recursos do FNDCT estão na reserva de contingência”?, indagou o professor ao apresentar uma lista de prioridades que será tema de reunião da SBPC com a equipe do MCTIC. Os dois primeiros itens do documento apontam para a necessidade de um investimento da ordem de 3% do PIB em C,T&I, e do fortalecimento da Finep.
O diretor da Finep, Marcelo Bortolini, encerrou o Seminário com um balanço das ações da Companhia em 2019. “Assinamos 156 convênios na área de infraestrutura, que totalizam R$ 145 milhões, e concluímos 68 projetos do setor que se encontravam em execução.