Romão da Cunha Nunes: Ações e perspectivas para ciência, tecnologia e inovações em Goiás

Foto: Ascom Fapeg.

Por Romão da Cunha Nunes*

A Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – Secretaria Regional (SBPC/GO) vem trabalhando de maneira articulada desde a elaboração da constituição do estado de Goiás, aprovada dia 05 de outubro de 1989.

Os resultados foram considerados excelentes, pois conseguimos aprovar um percentual de 3% para as ações de ciência e tecnologia. Naquela época poucas nações destinavam um percentual tão alto. Depois de alguns anos não conseguimos que o preceito constitucional de 3% fosse respeitado, sempre com a alegação de que era muito elevado.

Diante deste problema a SBPC/GO intensificou o seu trabalho de articulação e convencimento junto às autoridades constituídas e para tanto contou com a participação decisiva da então Associação dos Docentes da Universidade Federal de Goiás (Adufg), e da Associação dos Professores da Universidade Católica de Goiás (APUC), realizando dezenas de reuniões, em Goiânia e no interior do estado.

No decorrer do ano de 2000, estas instituições desenvolveram documentos mostrando o acerto da PEC do deputado Ubiratam Aguiar, que destinava 40% dos recursos da ciência e tecnologia para as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, objetivando a redução dos contrastes e desigualdades regionais.

Posteriormente foram elaborados documentos e enviados em 07 de fevereiro de 2000 para o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, deputado Luiz Piauilino. Em 20 de março, um outro documento para o novo presidente da Comissão, deputado Santos Filho, os quais contribuiram para que fossem destinados 30% dos recursos dos Fundos Setoriais para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Em julho de 2004 foi realizada a Reunião Anual da SBPC, em Goiânia, quando governador Marconi Perillo comprometeu-se a criar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), mas como até o início de 2003 ainda não tinha sido enviada matéria para a Assembleia Legislativa, a SBPC/GO resolveu visitar todas a unidades da UFG, bem como universidades e intuições de ensino sediadas no interior do estado, colhendo nove mil assinaturas, que foram entregues ao governador Marconi Perillo no dia 13 de julho de 2003, oportunidade em que este se comprometeu a enviar a proposta para criar a Fundação.

A comunidade científica voltou a se mobilizar em 2005 depois da posse da professora Raquel Teixeira na Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás. Pela primeira vez alguém ligado à academia assumiu tal posto e já em 12 de dezembro a Fapeg foi criada.

A demora na alocacão de recursos desgastou a imagem da fundação, mas depois da destinação de 0,5% para os fins da Fapeg a mesma foi se firmando perante a opinião pública, graças às diversas modalidades de auxílios: Edital Universal, Primeiros Projetos, Pronex Pq1, para bolsistas Nível 1 do Conselho Nacional de Desenvolvimentos Científico e Tecnológico (CNPq), apoio aos estudos de Combate às Drogas Ilícitas e Lícitas como o alcool, apoio a Programas de Pós-graduação, em conjunto com a Comissão de Aperfeicoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A Fapeg atua também na difusão do conhecimento com auxílios para realizações e participações em eventos. Aportou recursos para inovação da micro e pequena empresa, tem atendimento no balcão, mais voltado para ações emergenciais como para o combate da Helicoverpa armigera que atacou a soja, algodão e hortaliças.

Recentemente a Fapeg firmou convênio com o município de Rio Verde /Instituto Federal de Goiânia para desenvolver pesquisas sobre temas que estão entravando o município de Rio Verde-Go. Neste convênio, a Fapeg destinará R$ 4 milhões, o município de Rio Verde e o IF-GO, R$ 1 milhão.
A Fundação também vem atuando na área internacional com a França, por meio de convênios como o feito com Inria para a automação e informática. Com o CNRS para ações na área de matemática.

Com o Reino Unido, os convênios foram com o Conselho Britânico e Fundação Newton, em várias áreas do conhecimento.

Nos dois últimos anos houve uma redução na destinação de recursos para pesquisa no país, mas os docentes da UFG captaram cerca de R$ 30 milhões, o que representa 30% do total dos recursos conseguidos neste período, demandando nos diversos editais da Fapeg. Em 2015, ocorreu uma captação significativa de empresas privadas. Este dado evidencia a importância da Fapeg para todas a instituições de ensino e pesquisa do estado de Goiás.

Tudo isto só foi possível graças a uma gerência ágil e eficiente que colocou a Fapeg entre os órgãos que mais captam recursos externos no Estado de Goiás e hoje tem grande credibilidade entre os pesquisadores goianos. Patrimônio tão precioso precisa ser preservado e uma estratégia eficiente é a aprovação de mecanismos permanentes para liberação de recursos na forma de duodécimo.

A UFG foi fundada em 1960 pelo presidente Juscelino Kubistchek e o Estado foi o grande beneficiado com a transferência da capital da república do Rio de Janeiro para o Planalto Central goiano. A expansão da universidade foi relativamente lenta, mas na última década passou por crescimento acelerado, praticamente duplicando o número de professores e alunos. A grande maioria dos professores contratados neste período já tinha qualificação de doutorado. Com pessoal qualificado viabilizou a criação de diversos programas de pós-graduação. A produção científica também cresceu bastante, pois houve disponibilização de recursos, mas nos últimos anos ocorreu redução motivada pela transferência de verbas do Fundo Nacional de Desenvovimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para bancar as despesas do programa Ciência sem Fronteiras, que apesar do grande mérito, acarretou reduções orçamentárias que estão refletindo em diversas áreas do conhecimento.

Um fato que chamou atenção foi que pouco mais de 30% dos docentes da UFG são responsáveis pela quase totalidade dos trabalhos publicados nos últimos dois anos, evidenciando a falta de uma distribuição mais homogênea.

Os dirigentes da UFG precisam entender, analisar e estabelecer linhas prioritárias de ações com acompanhamento e reorientação, sempre que necessário, para que a Universidade seja referência em pesquisa de qualidade na região Centro-Oeste. A inobservância deste norte pode comprometer o crescimento recente e deixar de contribuir decisivamente no desenvolvimento científico, tecnológico, economômico, e social do estado de Goiás.

*Romão da Cunha Nunes é professor da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ/UFG) e secretário Regional Adjunto da SBPC/GO.

(Artigo publicado originalmente no Jornal do Professor da Adufg.)

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