Resposta ao zika colocou a ciência brasileira na vanguarda das pesquisas sobre o vírus

Epidemiologista Celina Turchi
A epidemiologista Celina Turchi participou do 1º Simpósio Cabbio de Termas Atuais em Biotecnologia, no MCTIC.
Crédito: Ascom/MCTIC

A resposta ao surto de microcefalia em bebês, provocado pelo zika, colocou a ciência brasileira na liderança mundial das pesquisas sobre o vírus. O assunto foi discutido nesta quinta-feira (22), no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, durante o 1º Simpósio Cabbio de Termas Atuais em Biotecnologia, evento que marca os 30 anos do Centro Brasileiro-Argentino de Biotecnologia (Cabbio, na sigla em espanhol).

A epidemiologista Celina Turchi destacou que os pesquisadores brasileiros tiveram que desbravar um novo campo do conhecimento, uma vez que a literatura sobre as infecções humanas por zika eram raras. O homem, segundo ela, era considerado um “hospedeiro acidental”.

“Tivemos que responder rapidamente a uma situação que se configurou no país e em que não se havia uma construção de conhecimento prévio desenvolvida. Era muito raro qualquer relato de zika na literatura mundial. A ciência brasileira, com o apoio de diversos centros de pesquisa internacionais, conseguiu avançar muito em um curto período de tempo. Agora, conhecemos o vírus e como ele age”, ressaltou Celina.

Em 2016, ela foi apontada como uma das dez cientistas mais importantes do mundo pela revista Nature e entre as cem personalidades mais influentes da Time por seu trabalho dedicado a comprovar a associação entre a microcefalia e a infecção pelo vírus, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco.

De acordo com a epidemiologista, principal efeito do vírus sobre os recém-nascidos, a microcefalia é apenas a consequência mais notória de uma série de ações do zika nos bebês. Por isso, Celina Turchi defende a continuidade do esforço da comunidade científica brasileira.

“A microcefalia é a ponta do iceberg. Há um complexo de anomalias que não foram catalogadas. Espero que em um ou dois anos possamos ter respostas mais claras sobre a evolução para o quadro de microcefalia em neonatos. Por isso, temos que manter as pesquisas”, defendeu.

Na visão do coordenador do Laboratório de Modificação do Genoma do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), José Xavier Neto, o problema vai além da microcefalia. Ele defende, inclusive, que a condição não seja considerada uma questão primária dos danos causados pela infecção. A preocupação principal, segundo ele, deve ser com as anomalias de formação do sistema nervoso e neural dos bebês.

“Nosso modelo reproduz a hidrocefalia, que é representada em 94% das crianças microcefálicas. Então, ela talvez seja bem mais significativa do que a própria microcefalia”, disse. “Nós descrevemos, no LNBio, uma sequência de alterações que estão envolvidas nas manifestações do zika neural. É um processo que engloba o defeito de fechamento do tubo neural, a hidrocefalia, a microencefalia e a microcefalia. Na nossa opinião, a microcefalia é rara e não deve ser considerada como dano primário”, completou.

Remédios
O próximo passo da pesquisa brasileira é descobrir medicamentos capazes de inibir os efeitos do zika em gestantes e, consequentemente, nos embriões. Uma das substâncias utilizadas é a cloroquina, que funciona como um bloqueador da fusão da membrana do vírus e impede que ele acione seu mecanismo de entrada nas células humanas. Os primeiros testes, desenvolvidos por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentaram resultados animadores.

“Vimos que as crianças nascem com o vírus ainda ativo. Se a mãe tiver um sintoma de zika na gravidez e tratar com uma droga que bloqueia a replicação do vírus, podemos mitigar as lesões na criança. A cloroquina já tinha sido usada com insucesso na dengue em parte clínica, mas sempre funcionou para zika. E ela pega qualquer cepa e variante do zika”, enfatizou o professor do Departamento de Genética da UFRJ e especialista em genética molecular e de microorganismos, Amilcar Tanuri.

Investimentos
Para que o Brasil continue na vanguarda, é preciso manter os investimentos nas pesquisas já desenvolvidas e em novas ações. “Gostaria de dizer que o ministério vai continuar o seu apoio aos projetos de pesquisa, para que esses trabalhos possam desenvolver cada vez mais respostas a essa problemática”, afirmou o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, no evento.

Fonte: MCTIC

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