Especial PPSUS: Projeto estuda inclusão de dois novos exames no Teste do Pezinho

TEste do Pezinho
Teste do Pezinho. Foto: Ministério da Saúde / Blog da Saúde.

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Incluir a sorologia para toxoplasmose e Doença de Chagas no Teste do Pezinho básico, ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi a proposta de pesquisa apresentada pela professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dra Ana Maria de Castro, selecionada pela Chamada Pública nº 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada. A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto contou com recursos da ordem de R$ 79.400,00 para sua execução.

A professora Dra. Ana Maria de Castro e sua equipe desenvolveram a pesquisa de novembro de 2014 a abril deste ano em três instituições públicas de referência no Estado de Goiás: Maternidade do Hospital das Clínicas e Maternidade Dona Iris, em Goiânia, e no Cais Nova Era, em Aparecida de Goiânia.

O Teste do Pezinho é realizado pela análise de amostra de sangue coletada por meio de uma picada de agulha no calcanhar do recém-nascido até o 10º dia de vida visando à detecção precoce de várias doenças. As gotas de sangue são colhidas em papel filtro e encaminhadas ao laboratório para o Teste de Triagem Neonatal (Teste do Pezinho).

Atualmente, em Goiás, o teste básico oferecido na rede pública de saúde (SUS) pode detectar precocemente, doenças genéticas, infecciosas e metabólicas graves, que podem causar sequelas irreparáveis no desenvolvimento mental e físico da criança, se não tratadas rapidamente. Ele investiga a fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito (TSH), doenças falciformes e outras hemoglobinopatias, hiperplasia adrenal congênita, fibrose cística e deficiência de biotinadase. Ainda não inclui doenças parasitárias como a toxoplasmose e Doença de Chagas congênitas.

equipe da professora ana - teste do pezinho
Professora Ana Maria e equipe. Foto: Arquivo pessoal.

Coleta
Foram realizadas reações sorológicas para toxoplasmose em 1.524 amostras de sangue coletadas em papel filtro e para Chagas em 20 amostras provenientes dos recém-nascidos de mães que se autodeclararam portadoras da Doença de Chagas – critério este utilizado para a pesquisa da infecção pelo Trypanosoma cruzi. O relatório final desta estratégia em busca da melhoria na qualidade da atenção materno-infantil em Goiás oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) será apresentado ao Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

A coordenadora do projeto espera que os exames sejam incluídos no Teste do Pezinho básico oferecido pela rede pública do SUS para assim proporcionar um atendimento mais completo e com qualidade à saúde da mulher e seus recém-nascidos. Segundo a pesquisadora, a detecção precoce das doenças nos recém-nascidos é fundamental para a eficácia terapêutica. “Somente com a triagem precoce dos recém-nascidos, será possível tratamento e um bom prognóstico a estas crianças”, analisa.

Para a coordenadora, programas de atenção à gestante e ao recém-nascido são importantes e devem ser padronizados em todo o Brasil. “Diante dos resultados obtidos nesta pesquisa, a adição da sorologia para toxoplasmose ao Teste do Pezinho se mostrou eficaz na detecção precoce de recém-nascidos infectados pelo T. gondii”, recomenda.  Ana Maria salienta que, para obter êxito na triagem dos recém-nascidos infectados, vários critérios devem ser considerados e exames complementares são essenciais na conclusão diagnóstica.

Toxoplasma
Toxoplasma gondii. Foto: DPDx – Laboratory Identification of Parasitic Diseases of Public Health Concern.

Toxoplasmose congênita
A toxoplasmose é uma infecção causada por um parasita intracelular, o protozoário Toxoplasma gondii. A prevalência de pessoas infectadas é de 65% a 90%, na população, sendo assintomática em quase 90% dos casos em adultos. A infecção se torna preocupante nos indivíduos imunocomprometidos e durante a gestação, uma vez que pode ser transmitida congenitamente. Conforme explica a pesquisadora, se a mãe é cronicamente infectada e/ou adquire a infecção durante a gestação ela pode transmitir a doença para o feto, ocorrendo assim a toxoplasmose congênita, que é uma das principais causas de aborto, no início da gestação. Em outros casos, causa graves sequelas ao feto: mesmo crianças que nascem “aparentemente saudáveis” podem apresentar. nos primeiros meses ou anos de vida, icterícia (que é a pele amarelada), cegueira e alterações motoras e neurológicas como convulsões ou retardo mental.

A professora explica que o diagnóstico da toxoplasmose congênita é complexo e depende de vários fatores, principalmente os relacionados à idade de infecção fetal. A gravidade também é maior quando a infecção materna é adquirida durante o primeiro trimestre da gravidez. “A maioria dos recém-nascidos infectados congenitamente não apresenta sintomatologia, o que dificulta ainda mais a identificação”, explica ela, “daí a importância do Teste, porque se ela não for detectada e nem tratada, o recém-nascido pode sofrer lesões de retina e alterações neurológicas e motoras ao longo do seu desenvolver”, complementa.

Resultados da pesquisa para toxoplasmose
Segundo a Dra. Ana Maria, pelo projeto foi possível demonstrar que a triagem de recém-nascidos com suspeita de infecção congênita pode ser realizada. A triagem de RN pela inclusão da sorologia para toxoplasmose se mostrou eficiente, pois foi possível detectar a presença de anticorpos IgM/IgG (0,13%) e IgG (45,52%) anti-T. gondii em amostras coletadas em papel filtro. Segundo ela, a sensibilidade da sorologia utilizando papel filtro é semelhante à da realizada no sangue circulante, como demonstrado pela comparação dos resultados sorológicos obtidos em amostras de sangue em papel filtro e com sangue periférico (91,11%) constatando eficiência na reprodução técnica.

Como ressaltado pela professora Ana Maria, a confirmação da infecção congênita é complexa, pois o recém-nascido recebe anticorpos IgG maternos, dificultando assim o diagnóstico. Uma das estratégias utilizadas atualmente é teste de avidez de IgG, pois quando o resultado demonstra baixa avidez da IgG, indica infecção recente. “Nesta pesquisa este teste se mostrou eficiente na triagem de crianças com suspeita de infecção, pois foi possível detectar duas crianças com baixa avidez de IgG”, comenta.

Segundo ela, um resultado relevante do projeto, apesar de não ter sido objetivo, foi a padronização do teste de avidez IgG em papel filtro. “Além disso, observou-se uma concordância de 100% de resultados do teste de avidez de IgG realizado em soro e em papel filtro evidenciando que a técnica de avidez de IgG pode ser empregada em amostras coletadas em papel filtro aprimorando assim o diagnóstico de toxoplasmose”, analisa.

Utilizando-se a técnica de PCR foi possível detectar material genético (DNA) do parasito em uma das amostras de sangue periférico de criança, que apresentava elevada concentração de anticorpos anti-T. gondii, demonstrando que as técnicas complementares devem ser utilizadas quando há suspeita de infecção congênita.

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Trypanosoma causador da Doença de Chagas. Foto: Centers for Disease Control and Prevention’s Public Health Image Library (PHIL).

Doença de Chagas
A Doença de Chagas afeta cerca de 10 milhões de pessoas na América Latina. Com alta morbidade e letalidade, o T. cruzi pode ser adquirido por via vetorial, transfusões de sangue, transplantes de órgãos, acidente laboratorial, oral e transmissão congênita. A prevalência varia, conforme explica a coordenadora do projeto, de acordo com a região e a metodologia usada no estudo – de 1% no Brasil e de 4 a 12% em Países do Cone Sul , dependendo de fatores ligados ao parasita e ao hospedeiro.

A professora ressalta que o diagnóstico precoce é fundamental para uma sobrevida com qualidade do infectado congenitamente e contribui na redução da morbi-mortalidade materno-fetal. “Como ainda não há uma forma de prevenir a transmissão vertical da doença de Chagas, faz-se necessário o diagnóstico precoce nos nascidos de mães sabidamente infectadas pelo T. cruzi, visando o seu tratamento o quanto mais cedo possível. Tal diagnóstico influenciaria na eficácia da terapia, a qual está diretamente relacionada ao tempo da infecção, sendo efetivo nas fases iniciais e muito pouco benéfico nas formas crônicas avançadas”, explica.

Resultado da pesquisa para Chagas
Apesar de não ter sido detectado nenhum recém-nascido congenitamente infectado, conforme explica a professora, a triagem sorológica em papel filtro poderá ser uma estratégia utilizada. Segundo ela, “foi notório que a sensibilidade da sorologia utilizando papel filtro é a mesma observada no sangue circulante, como ficou demonstrado ao fazer a comparação, apresentando eficiência e determinando a validação da reprodução da técnica”.

A professora Dra. Ana Maria comenta que, em relação à inclusão da sorologia para triagem de infectados pelo T. cruzi, “foi possível observar que o maior investimento de prevenção deverá ser feito durante o pré-natal, pois ficou claro que as gestantes não possuem conhecimento satisfatório sobre as infecções de transmissão congênita, no caso a doença de Chagas, pois a maioria das gestantes que se autodeclararam infectadas eram soronegativas”.

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