Projeto Geoaves: ecoturismo, geologia e observação de pássaros em Goiás

Trabalho é apoiado pela Fapeg e pela Fundação Grupo Boticário, por meio da Chamada para Fortalecimento das Áreas Naturais Protegidas no Nordeste Goiano.

Juliana Diniz, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Fotografias: Arquivo da pesquisadora Joana Paula Sanchez

Desbravar a natureza com respeito, percorrer trilhas entre parques preservando o meio ambiente, reconectar-se à exuberância das paisagens naturais e à sabedoria das comunidades locais. O ecoturismo, segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva a conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista, além de promover o bem-estar das populações.

O Boletim do Turismo Doméstico Brasileiro, publicado pelo Ministério do Turismo e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), revela que o ecoturismo foi o principal motivo de uma em cada quatro viagens domésticas realizadas a lazer no país em 2021. O segmento também está na lista de motivos que ampliaram as viagens pelo país, com acréscimo de 5% em relação ao ano anterior (2020).

E não são apenas os brasileiros que estão apaixonados pelo ecoturismo: a atividade foi responsável pela atração de 18,6% turistas estrangeiros que vieram ao país em 2019 em busca de lazer, segundo dados do Ministério do Turismo. Entre as principais nacionalidades que optaram por este tipo de atração estão China, México e Japão. Os números revelam a potência da atividade, que tem no Brasil cenários para todos os gostos, uma vez que o país é um dos mais ricos em biodiversidade graças aos grandes biomas nacionais: Amazônia, Mata Atlântica, Campos Sulinos, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Zona Costeira e Marítima.

Outro fator positivo fomentando pela prática é o desenvolvimento sustentável. O turismo ecológico procura aliar crescimento econômico com promoção de igualdade social e preservação do patrimônio natural. Assim, é possível garantir que as necessidades das atuais gerações sejam satisfeitas sem comprometer, no entanto, as necessidades de gerações futuras.

Em Goiás, um dos destinos preferidos pelos amantes do ecoturismo é o Parque Estadual de Terra Ronca (PETER), com sítios de cavernas e grutas, incluindo formações geológicas únicas. A 641 quilômetros de Goiânia, o parque está localizado na região Nordeste de Goiás, região contemplada com a Chamada Pública 04/2021 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) em parceria com a Fundação Grupo Boticário. O projeto GeoAves nas Unidades de Conservação do Nordeste Goiano foi um dos selecionados no edital e tem como objetivo geral fortalecer o sistema de turismo sustentável como ação econômica para o PETER, para Reserva Extrativista de Recanto das Araras de Terra Ronca (RESEX de Recanto das Araras de Terra Ronca) e para o município de Nova Roma, no entorno do parque. O trabalho dos pesquisadores pretende atuar na promoção e no desenvolvimento dos atrativos naturais, na capacitação de condutores e guias, na conscientização dos usuários e na geração de renda para a comunidade local.

GEOLOGIA E BIOLOGIA EM PROL DO ECOTURISMO

O projeto coordenado pela pós-doutora Joana Paula Sanchez segue em duas direções. A primeira está direcionada às unidades de conservação, priorizando levantamento e valorização de aspectos geológicos e da biodiversidade, com ênfase na avifauna local. A segunda parte está direcionada a condutores e guias especializados, promovendo capacitação para o turismo em diferentes atrativos. Isso porque os atrativos geológicos (geossítios) são a base para a biodiversidade e permitem o desenvolvimento socioeconômico a partir do turismo.

A estratégia de desenvolvimento sustentável se assenta em três componentes principais: a geoconservação, a educação e o geoturismo. Trazer aspectos biológicos aos passeios na região aumentam as possibilidades para aspectos como educação, conservação e turismo de observação da natureza. Como atrativo biológico, o trabalho destaca a observação das aves ou aviturismo. “A fusão destes componentes em uma única proposta de desenvolvimento sustentável melhora a relação custo-benefício ao praticante e a alocação de recursos por parte dos organizadores. Assim, o mapeamento geográfico torna-se fundamental, reconhecendo variáveis físicas desses ambientes e especializando as informações dos atrativos geológicos, junto com as informações biológicas”, explica a pesquisadora.

Esse conhecimento contribui com o planejamento de ações voltadas à preservação de espécies e habitats e de ações voltadas à observação de aves como fonte de desenvolvimento sustentável local. Entender o padrão de riqueza e distribuição de espécies de aves da região, com a presença específica em unidades de conservação ou áreas com outros atrativos, otimiza o direcionamento de recursos e viabiliza o desenvolvimento de atividades locais.

Para ampliar a demanda por trilhas e rotas na região, o projeto GeoAves vai incentivar, gerar possibilidades e dar apoio para a sociedade participar da observação de aves e da geologia na região. De acordo com Sanchez, o conhecimento sobre a avifauna local é escasso e em muitos casos não é consolidado. “Ao gerar um produto com essas informações, possibilitaremos o diagnóstico de áreas de interesse prioritário para a observação de aves e a caracterização da avifauna dos roteiros definidos nas regiões iniciais”, explica.

O projeto ainda vai oferecer curso de capacitação em Geologia básica e Biodiversidade como forma de incentivar o aumento na demanda turística e a presença de profissionais capacitados para atender de forma qualificada o turista durante a prática de observação da natureza. Com a capacitação, espera-se ainda alavancar o avanço social das comunidades com essa nova estratégia profissional e econômica, fortalecendo os municípios e a rede local com a presença do turista de natureza.

Outro curso previsto no trabalho é de capacitação em gestão do turismo de conservação. Em um primeiro momento, os pesquisadores vão fazer um mapeamento das práticas utilizadas atualmente na oferta do turismo na região. Depois, será criado um comitê de turismo para analisar e propor soluções para região. Em seguida, serão elaboradas e ofertadas capacitações com o intuito de qualificar a prestação de serviços por meio da proposta de melhoria em serviços de hospedagem, alimentação, transporte, serviços básicos de pronto atendimento, ponto de apoio ao turista (centro de informações turísticas), entre outros.

Levando profissionalização para o turismo local, o grupo ajuda a agregar valor ao ecoturismo no nordeste goiano. “Isso envolve o aprimoramento da promoção da experiência de turismo de observação de estruturas geológicas e aves, no que tange a: canais de comunicação virtuais, desenvolvimento e manutenção das redes sociais, ponto de apoio aos profissionais e turistas, oferta de hospedagem adequada ao tipo de turismo. Além disso, é objetivo do projeto promover parcerias com colégios, universidades, prefeituras, órgãos públicos”, finaliza Sanchez.

EQUIPE

A proposta deve receber um investimento da Fapeg no valor de R$ 161.430,00 para realizar todo trabalho, que deve ser encerrado até o final de 2024. “Acho importantíssimo ter editais para áreas naturais. Pois são áreas que ficam negligenciadas das pesquisas pela dificuldade para ter dinheiro e para conseguir autorização”, comenta Joana Paula Sanchez. O biólogo Arthur Ângelo Bispo de Oliveira e o engenheiro Maico Roris Severino são vice-coordenadores da pesquisa. Junto a eles, integram a equipe Marcelo Nunes Fonseca, que trabalha com Engenharia. Renato Caparroz é da área de Genética e Conservação da Biodiversidade. Pedro Henrique Vogeley C. S. de Cerqueira, Paola Freitas de Oliveira e Melissa Panhol Bayma são biólogos, enquanto Fernanda Maciel Canile vem da Geologia. Aristônio Magalhães Teles também integra a equipe, ao lado de Carlos Abs da Cruz Bianchi e Rayssa Milena de Souza Costa, que é assessora de comunicação.

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