Projeto fomentado pela Fapeg ganha prêmio em Congresso Brasileiro de Olericultura

A doutoranda Mylla Criysthian Ribeiro Ávila e a professora Abadia dos Reis Nascimento em frente à estação experimental da UFG, com o certificado da premiação no 55º Congresso Brasileiro de Olericultura (Foto: Ascom Fapeg)

Julie Tsukada, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

O trabalho Avaliação de sistema de alerta fitossanitário de mancha-de-septoria em tomateiro para mesa em Goiás, desenvolvido pela equipe de pesquisadores do projeto Sistema de Previsão de Requeima e Mancha-de-Septoria em Tomateiro para reduzir aplicação de agrotóxicos em Goiás, fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), foi premiado como a Melhor Apresentação Oral no 55º Congresso Brasileiro de Olericultura e Encontro Latino-Americano de Horticultura.

Realizado de 6 a 10 de agosto de 2018, em Bonito (MS), o evento foi organizado pela Associação Brasileira de Horticultura (ABH). No congresso, foram apresentados os resultados parciais quanto a parte da pesquisa relacionada à septoria, desenvolvida na Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Além da apresentação oral, o conteúdo do estudo e o projeto em si foram também avaliados para a escolha do trabalho premiado.

A equipe do projeto é composta por Mylla Criysthian Ribeiro Ávila, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG); Abadia dos Reis Nascimento, professora da Pós-Graduação da Produção Vegetal e Agronegócio da UFG e pesquisadora proponente do projeto fomentado pela Fapeg; Alice Maria Quezado Duval e Valdir Lourenço Júnior, fitopatologistas da Embrapa Hortaliças; Walter Ferreira Becker, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); e Lino Carlos Borges, pesquisador da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater).

Projeto

Aprovada na Chamada Pública 3/2015, pelo Programa Primeiros Projetos (PPP), a pesquisa Sistema de Previsão de Requeima e Mancha-de-Septoria em Tomateiro para reduzir aplicação de agrotóxicos em Goiás tem como objetivo validar sistemas de previsão de requeima e mancha-de-septoria em tomateiro, de forma a reduzir a aplicação de fungicidas em Goiás. Desenvolvido desde 2017, é liderado por Abadia Nascimento, professora da Pós-Graduação da Produção Vegetal e Agronegócio da UFG.

Principais doenças do tomateiro, a requeima e a mancha-de-septoria foram escolhidas como foco do projeto por seu poder altamente destrutivo na planta. Causadas por fungos, ambas mancham as folhas do vegetal: a requeima causa manchas grandes e escuras, enquanto a septoria origina manchas menores, marrons, com o contorno amarelo.

Pioneira em Goiás, a pesquisa é feita com o híbrido Tomate Predador, o mais plantado atualmente no estado, segundo Abadia. O sistema de previsão o qual se busca validar é baseado em condições climáticas, já que por serem causadas por fungos, as doenças se desenvolvem a partir de circunstâncias específicas: a requeima em um clima mais seco, com temperaturas menores, e a septoria em um clima mais úmido, com temperaturas maiores. Sem essa conjuntura, não há como as patologias, extremamente graves para o tomateiro, se disseminarem na lavoura.

Entretanto, os produtores, temendo por sua lavoura, passam a aplicar os defensivos químicos sem as doenças aparecerem, como uma forma de prevenção. A prática, no entanto, é ineficaz. “Se não tem a condição climática, que é um ponto muito importante para o desenvolvimento de qualquer doença fúngica, o fungo não vai disseminar se não tiver essas circunstâncias específicas. Todas essas aplicações “preventivas” que eles fazem acabam aumentando o custo da lavoura e não têm finalidade, porque não há o risco de ocorrência da doença”, alerta Abadia.

Experimentos

Na estação experimental da UFG, é realizado o experimento do Tomate Dominador com a septoria (Foto: Ascom Fapeg)

Como a requeima e a septoria se desenvolvem em condições climáticas distintas, os experimentos foram realizados em dois locais diferentes: o da primeira doença foi conduzido na estação experimental da Biosolo em Goianápolis, em uma altitude de 1000 metros, e o da segunda, na área experimental da Escola de Agronomia da UFG.

Também pelas condições climáticas, cada experimento foi realizado em períodos específicos. O da requeima, em Goianápolis, foi conduzido durante o outono e o inverno de 2017. Já o da septoria, em Goiânia, também foi executado em 2017, mas durante a primavera e o verão. Com duração de cerca de quatro meses, em 2018, as experiências foram repetidas, a fim de aumentar a confiabilidade dos dados.

Para que os experimentos pudessem ser iniciados, foram instaladas as estações meteorológicas, que monitoram dados como temperatura, molhamento foliar, umidade e precipitação. Em Goianápolis, a Embrapa Hortaliças cedeu o equipamento; já na Escola de Agronomia da UFG, o instrumento foi provido pela Fapeg.

Após serem instaladas as estações, foi preparado o solo conforme o determinado para o cultivo de tomate para mesa. Depois de adubado e encanteirado, é utilizado o mulching, técnica na qual o solo é coberto com um material plástico. Com este procedimento, evita-se ervas daninhas e a incidência de pragas, além de ajudar a controlar a umidade e a temperatura da terra.
Colocado o mulching, é feito um furo para o plantio das mudas. Para o experimento, foram utilizadas as produzidas e mantidas em viveiro comercial credenciado pela Agrodefesa. Depois do cultivo, é feito o acompanhamento diário, para que nada possa comprometer a pesquisa.

“O tomateiro exige muito esforço e dedicação. A planta cresce muito rápido, tem brotinhos no lado, o que é indesejável. Precisamos tirá-los sempre, até quase perto do ciclo final da planta. Outro cuidado necessário é com a adubação de cobertura. O tomateiro é muito sensível à deficiência de nutriente, e por isso, precisa ter as adubações corretas. A gente trabalha inicialmente com adubação de plantio, e caso seja preciso, entramos com adubação folhear. Também é necessário cautela com tutoramento. É preciso ir circulando a planta no fitilho, para ela ir acompanhando e ficando ereta”, salienta a professora.

Além de todo esse preparo, a doutoranda Mylla Ávila participou de vários treinamentos com os pesquisadores da Embrapa Hortaliças. Com eles, a estudante aprendeu como funciona a estação meteorológica, instrumento essencial na pesquisa. “Eu faço a leitura dos dados que a estação envia todos os dias. A partir das informações coletadas, eu faço a análise das condições climáticas para aquele dia. Se somarem dez dias seguidos com as condições para o desenvolvimento do fungo, devemos tomar a decisão de fazer ou não a aplicação do defensivo químico”, explica a doutoranda. A análise é sempre feita no mesmo horário, entre as 10 e 11 horas, após o período do orvalho.

Mylla também aprendeu com os pesquisadores como fazer o diagnóstico da severidade da doença realizando a avaliação por terço. “A folha do tomate é composta por vários folíolos. Nós separamos a planta em terços – inferior, médio e superior – e fazemos a avaliação de dois folíolos de cada planta, para quantificar essa severidade diferencial nos terços da planta, já que os sintomas iniciais das doenças começam na parte inferior e depois vão subindo pela folha”, elucida.

Resultados

Em Goianápolis, a requeima não apareceu, já que nesses dois anos não houve as condições climáticas para tal – temperaturas menores e umidade relativa acima de 85%. Este resultado valida o sistema de previsão, já que não houve emissão de alerta, e assim, não foi necessário aplicar o produto para tratamento.

Já em Goiânia, houve ocorrência da septoria. Foram feitas aplicações de defensivos químicos de acordo com os alertas do sistema de previsão, o que resultou no uso de menos agrotóxicos na lavoura, em comparação com a quantidade utilizada pelos produtores, e não houve redução da produtividade.

Os resultados preliminares do projeto serão apresentados em reunião aberta ao público no dia 6 de dezembro, com a presença da equipe do estudo. Durante o evento, será oferecido um treinamento pela Emater sobre o uso do sistema de previsão no tratamento das duas doenças. Profissionais de agronomia e áreas afins, de entidades públicas e privadas, estão convidados a participar.

Para Mylla, a partir dos resultados da pesquisa, poderão ser desencadeados outros estudos. “A Fapeg possibilitou que fizéssemos uma pesquisa longa com dois anos de trabalho intenso. Sem o apoio da fundação, nada disso teria acontecido. Eu acredito que é uma pesquisa de base ainda e que a professora Abadia vai continuar com essa linha, porque ainda tem muito a ser estudado”, observa.

Após a finalização do estudo, Abadia Nascimento destaca a importância de se realizar um trabalho cultural e educativo ao lado do produtor, para que boas práticas de uso de defensivos químicos, baseadas no sistema de previsão, sejam disseminadas. “O produtor não vai jogar dinheiro fora, pois vai aplicar o produto quando realmente há o risco de ocorrência da doença. É uma cadeia produtiva que vai ganhando, porque o fungo pode ganhar resistência a esses fungicidas. Para a empresa que os produz, isso também não é interessante. Não estamos pensando em um só viés, mas no tomate que chega ao consumidor”, ressalta.

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