Projeto contribui para a geração de conhecimento no formato audiovisual

Luppa prepara o lançamento de documentário sobre o Grupo de Escritores Novos, movimento cultural de Goiás da década de 1960

Laboratório Luppa
Imagem do vídeo “(Des)encanto: o sagrado e o profano” produzido pela mestranda do TECCER Nélia Cristina Pinheiro Finotti

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação da Fapeg

Montar um centro de produção audiovisual para o estudo dos saberes e expressões culturais do Cerrado goiano. Esta ideia do professor do curso de graduação em História e da pós-graduação stricto-sensu da Universidade Estadual de Goiás (UEG Anápolis), Eliezer Cardoso de Oliveira, começou a ganhar vida em 2018 com a aprovação de sua proposta apresentada à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), por meio do edital Universal.

O centro foi estruturado e funciona com o nome de Laboratório Universitário de Pesquisa e Produção Audiovisual (Luppa), vinculado ao Mestrado Interdisciplinar em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (Teccer), nas dependências da Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas, da UEG/Anápolis.

O edital
O edital foi lançado pela Fapeg com o objetivo de selecionar propostas de pesquisadores doutores para apoio financeiro a projetos que contribuíssem para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do Estado de Goiás, em qualquer área do conhecimento. O projeto recebeu R$ 78.500,00 para sua execução. Foram adquiridos vários equipamentos essenciais para a produção e visualização audiovisual: notebooks para edição de vídeos, software para edição de imagens, filmadoras, projetores, caixas de som, tela de projeção e 20 cadeiras para atender as turmas do mestrado durante exibições de vídeos.

“Acreditamos que o custo-benefício foi muito bom. Hoje o Luppa contribui, sem a menor sombra de dúvida, para a democratização do acesso à cultura goiana”, comenta o professor. “Independente do seu formato escrito, sonoro ou visual, o conhecimento requer pesquisas e leituras e o Luppa pretende ser esse espaço de produção de conhecimento. Goiás possui uma riqueza de expressões culturais e saberes que precisam ser estudadas e divulgadas,” destaca Eliezer de Oliveira. Para ele, o apoio financeiro da Fapeg foi fundamental para a operacionalização do laboratório e a geração de conhecimento no formato audiovisual.

Segundo o professor, o Laboratório abriu oportunidade para o desenvolvimento de produtos e pesquisas audiovisuais por alunos e professores do Teccer. “Hoje é cada vez mais comum a gravação de entrevistas para subsidiar a pesquisa nas dissertações de mestrado, para documentar a especificidade da flora e fauna, para documentar as manifestações culturais populares (como o artesanato, as festas religiosas e folclóricas) e as manifestações sociais (protestos urbanos, conflitos rurais etc) com equipamentos e técnicas capazes de gerar um produto audiovisual de qualidade,” destaca o professor.

Luppa no YouTube

Laboratório Luppa
Imagem do vídeo “bois de carro”, produzido por Arnaldo Salu e Ademir Luiz

Eliezer de Oliveira conta que a disciplina Literatura, História e Cinema no Cerrado, ministrada na UEG,  substituiu o trabalho final escrito por uma produção audiovisual. O resultado é uma grande quantidade de vídeos que podem ser visualizados no canal do Luppa no Youtube. Eliezer recomenda que professores do Ensino Fundamental utilizem esta ferramenta como estratégia didática nas salas de aula de modo complementar.

Produção de conhecimento
No Laboratório está sendo editada a Revista Nós: cultura, estética & linguagens, criada em parceria com um Grupo de Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG), e que vem publicando artigos de várias regiões do Brasil e do exterior.

Com os recursos do edital, Eliezer de Oliveira relata que também foi organizado o livro “Goiânia: fundações da modernidade literária no Cerrado”, dividido em três partes: a primeira aborda artigos sobre o “GEN: Grupo de Escritores Novos”; a segunda parte analisa “Eventos e instituições literárias modernas em Goiás” e a terceira, discorre sobre “Goiânia e a modernidade literária”.

“Poucos sabem que houve uma modernidade literária em Goiás que ganhou força com o chamado Grupo de Escritores Novos (GEN), que mudou a cara da literatura produzida no Estado”, comenta o professor. Com seu propósito original de valorizar as formas audiovisuais, o Luppa produziu um documentário sobre o GEN, de cerca de 30 minutos, com entrevistas com os integrantes do Grupo e especialistas. O objetivo é divulgar esse importante movimento cultural de Goiás. A disponibilização do documentário do GEN no YouTube estava prevista para o final de abril, mas por causa da pandemia do coronavírus o projeto foi adiado.

Oliveira comenta que o modernismo literário é uma das mais influentes mudanças que afetou a cultura no século XX, possibilitando o surgimento de produções literárias mais críticas, mas próximas das necessidades das pessoas. “E, surpreendentemente, o público em geral conhece mais a modernidade literária europeia por meio das vanguardas literárias, e paulista por meio da Semana de 1922, assuntos muito estudados no Ensino Básico, do que o advento do modernismo em Goiás”, analisa o professor.

Importância para Goiás e para a UEG
Para o professor, o Luppa tem se mostrado muito importante também para o contexto da UEG e do Mestrado em Territórios e Expressões Culturais do Cerrado, “talvez seja o programa de pós-graduação mais próximo da cultura goiana”, analisa. Várias  oficinas de edição de vídeos foram realizadas para atender alunos dos cursos de graduação (Pedagogia, Letras, História e Geografia) e produzidos vídeos institucionais. Neste momento de pandemia o acesso ao laboratório está proibido, mas normalmente o acervo de filmes em DVDs do Laboratório é aberto para uso dos alunos e professores. Palestras que acontecem na Unidade são filmadas com os equipamentos do Luppa.

“A produção de um documentário é cara e só conseguimos efetivá-la com esses recursos por causa dos equipamentos existentes no Luppa que permitiram que os próprios professores envolvidos no projeto e seus alunos captassem imagens e sons, barateando consideravelmente os custos de produção”, explica Eliezer de Oliveira.

Investimento em cultura
“Muitos acham que investir nas produções culturais é desperdiçar recursos. Nada mais equivocado. Só para ter uma ideia, os filmes da Marvel de super-heróis produziram uma receita de mais de 20 bilhões de dólares. As pessoas pagaram esse alto valor porque estavam interessadas numa narrativa audiovisual. E Os Vingadores não surgiram do nada: ele tem a ver com os estudos de mitologia aplicada, os estudos de antropologia, os estudos de história, com o modernismo nas formas de narrativa que são ensinados nas universidades norte-americanas. O estudo das expressões culturais pode gerar recursos, pois são fontes de inspiração de produção de narrativas contemporâneas”, analisa o professor.

Oliveira cita ainda, o caso da Coreia do Sul, que gerou uma grande receita e uma grande visibilidade no mundo por meio do K pop, uma junção entre a música e o audiovisual. “Goiás possui uma riqueza de expressões culturais e saberes que precisam ser estudadas e divulgadas. O apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa é essencial para isso”.

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