Professores discutem uso da tecnologia para práticas autorais

Webinário dia 21Oportunidades tecnológicas para práticas autorais foi o tema da quarta mesa virtual do ciclo do webinário Caminhos para Educação 4.0: Desafios e Oportunidades que o Governo de Goiás, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) está realizando. Desta vez, os convidados foram a professora Grácia Lopes Lima, do Instituto Gens de Educação – SP, que falou sobre Educomunicação, formação de professores e processos de autoria; e o professor Hélvio Frank, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que colocou na pauta das discussões o tema Uso de tecnologias, linguagem e afetividade. O debate foi mediado pelo chefe de Gabinete da Fapeg e organizador do webinário, Diogo Mochcovitch, que é doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As palestras acontecem todas as terças-feiras e sextas-feiras deste mês de agosto, das 16 às 18 horas, com transmissão pelo canal oficial da Fapeg no Youtube. O webinário busca discutir novos caminhos para a educação reunindo especialistas de Goiás e de outros Estados para uma troca de experiências com a finalidade de mapear ações estratégicas no âmbito da educação e Webinário dia 21tecnologia e apontar novas direções metodológicas tanto para a formação dos professores quanto para o ensino dos estudantes. Os vídeos das apresentações estão disponíveis no canal oficial da Fapeg no Youtube.

Educomunicação
A professora Grácia Lopes, ao falar sobre Educomunicação deixou claro que o termo não se trata apenas de uma junção simples de Educação e Comunicação como a lógica nos remete a pensar à primeira vista. Educomunicação, segundo ela, é mais complexo e traz uma história por trás. Envolve um novo entendimento, uma nova leitura de saberes que vai além das salas de aula ou dos meios de comunicação. Trata-se, como deixou claro, de uma possibilidade de se ampliar o diálogo envolvendo a participação e a liberação da expressão dos alunos por meio de criatividade seja em espaços formais ou informais de aprendizagem. É uma possibilidade de produzir conteúdos informativos e de entretenimento utilizando meios de comunicação com uma perspectiva educativa e com a proposta de estimular a consciência crítica. Uma ação que dá o poder aos estudantes de serem autores de seus próprios conteúdos.

Deixando como provocação a fala do escritor Manoel de Barros “Tudo o que eu não invento é falso”, Grácia Lopes falou de seu incômodo enquanto professora de Língua Portuguesa: “Por que, mesmo após tantos anos na escola muitas pessoas continuam com dificuldade para escrever um texto ou fazer uma conversa sem ficar inseguro ou nervoso e não conseguem dar conta de seus projetos autorais?

Como pesquisadora, Grácia Lopes levantou duas hipóteses para a questão: a formação inicial de professores cujos cursos de Pedagogia, em sua maioria, não se pautam no exercício crítico do pensamento e trazem a linguagem escrita como a expressão de cultura certa e oficial, ignorando a riqueza da língua oral. Ainda nesta hipótese da formação inicial de professores, ela aponta a ausência da disciplina comunicação via tecnologias e tecnologias digitais na grade curricular dos cursos de formação, “quando muito, trazem a forma teórica e não vivencial”, ressaltando que hoje, as informações chegam também pela televisão, celular ou outros meios de comunicação.

A segunda hipótese levantada pela professora Grácia Lopes foi o que ela chama de escola paralela. São os meios de comunicação (rádio, internet, televisão) que não são considerados espaços para educar (como a escola) e que hoje estão influenciando, ditando valores, mudando a cultura das pessoas, formando pessoas, confundindo desejos como necessidade e, exercendo influência no cotidiano das pessoas, explica a professora. Dependendo dessa ascendência exercida pelos meios de comunicação, que influenciam na maneira de pensar, sentir e agir das pessoas é que se pode dizer que é uma escola paralela que está “educando” as pessoas. “E é essa escola que aponto como responsável pelas dificuldades das pessoas terem suas próprias palavras, pois acabam produzindo um perfil de pessoa treinada a reproduzir e não a criar. Aliado a isso, os cursos de formação dos professores”, analisa.

Lembrando o princípio da homeopatia: “as substâncias da natureza têm a potencialidade de curar os mesmos sintomas que são capazes de produzir”, Grácia Lopes citou o escritor e comunicador educador argentino Mário Kaplún, que incomodado com a massificação da comunicação na América Latina, em 1976 criou o método cassete-foro, via gravador e fita cassete (tecnologia da época), e por meio dele foi capaz de promover intercâmbio entre os trabalhadores, mesmo distantes geograficamente, que entenderam que viviam sob as mesmas condições de exploração.

Para Grácia Lopes, os meios de comunicação, quando utilizados para produção coletiva, com liberdade para que as pessoas possam dizer o que pensam ou sentem, participando das etapas de produção das mensagens podem ganhar força e se transformar em objetos para a conquista das pessoas como seres humanos, capazes de criar e serem autônomas. A professora entende que, “as escolas deveriam incluir os meios de comunicação na formação inicial não só como teoria, mas como processos coletivos que permitissem sentir na pele o que significa usar as tecnologias para produzir produtos em que a fala de cada um seja exercitada a ponto de reencontrar as falas de quando na infância conseguia com maior vigor e encantamento”.

Daí a importância da formação de um educomunicador, um profissional com conhecimento suficiente das teorias e práticas da educação e também dos modelos e procedimentos que envolvem o mundo da produção dos meios de comunicação e do uso das tecnologias, atuando na interface comunicação/educação.

Cognições e emoções
“A mudança abrupta das relações pedagógicas presenciais para remotas como medida para tentar reduzir a disseminação do novo coronavírus acabou interferindo nos domínios afetivos e nas relações sociais produzidas. Essa mudança afeta o trabalho do docente, que é totalmente alterado e mexe com a identidade dos profissionais. O vírus fez com que os professores desenvolvessem a condição de ensino remoto tendo que usar as tecnologias para as quais ainda não estavam preparados”, comenta o professor Hélvio Frank em sua fala, que teve como tema Uso de tecnologias, linguagem e afetividade.

“Professor, você está aí? Está me ouvindo?” Este questionamento, segundo o professor Hélvio Frank, foi vivenciado em muitas aulas remotas ministradas por ele no primeiro semestre deste ano, neste tempo de adaptações provocadas pela pandemia do novo coronavírus, e acabou embasando sua palestra no webinário. “Ainda estamos aprendendo as novas configurações no ensino. Estamos aprendendo, a cada dia, como lidar com essa configuração da afetividade nas novas formas de relações sociais em tela”.

“Este questionamento feito pelos alunos traz muitas provocações e eu destaco várias condições.” O professor aponta por exemplo, a condição corpórea em uma aula física, cuja compreensão da fala é potencializada por construções inteiradas na imagem corporal, como os gestos (corpo como performatividade), enquanto que com o uso da tela, no formato 3X4, inexiste esta situação, o que gera um desgaste psicológico para se concentrar e entender o que a pessoa do outro lado fala.

“O corpo presente já era por si só uma condição de sentimento de pertença. A noção do semicorpo, do meio corpo presente na tela convoca o discente para uma sensibilidade nas relações afetivas. O professor vai ter que construir uma nova relação pedagógica para produzir uma aprendizagem que dê entusiasmo, mais qualidade, que mobilize as emoções do aluno no sentido positivo de afetivamente levá-lo a desenvolver aquilo que lhe for proposto”.

Frank cita ainda a condição da autonomia do uso das tecnologias para o aprendizado; a condição do acesso aos equipamentos e das dificuldades técnicas de operacionalização da internet e dos processos que medeiam a informação até chegar na tela do outro com qualidade.

programação webinário
Programação do Webinário Desafios da Educação 4.0

Chamamento público
O resultado deste ciclo de debates vai compor subsídios estratégicos para a elaboração de um edital para pesquisa que a Fapeg pretende lançar em 2021 sobre a educação 4.0. Ao final, também será publicado um dossiê especial em parceria com a revista Plurais, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), vinculado à linha de pesquisa “Educação, Escola e Tecnologias”, do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT).

Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Governo na palma da mão

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