Professora da UFG vence prêmio nacional para mulheres cientistas
Por Gabriela Louredo
A professora doutora em Química Medicinal da Universidade Federal de Goiás (UFG) Carolina Horta Andrade, de 31 anos, será a primeira goiana a receber o prêmio nacional Para Mulheres na Ciência, promovido pela empresa L´Oreal Brasil em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura (Unesco) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), que está na nona edição. Carolina é uma das sete vencedoras e foi selecionada entre 312 inscritas no Brasil. As demais são dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Ceará.
Há quatro anos, ela iniciou a pesquisa científica intitulada Busca e planejamento de novos candidatos a fármacos (princípios ativos) para a Leishmaniose. A ideia é descobrir novos medicamentos de baixo custo para a população e eficazes para o tratamento da doença, que acomete atualmente cerca de 12 milhões de pessoas em todo o mundo e é responsável pelo surgimento de dois milhões de novos casos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Carolina diz que a leishmaniose é um mal negligenciado pela indústria farmacêutica. “Trata-se de um grave problema de saúde pública, principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil e que causa um elevado número de mortes por ano. O atual tratamento não é eficaz, pois os medicamentos utilizados pelo mercado foram desenvolvidos há 50 anos e são muito tóxicos, causam efeitos colaterais nos pacientes”, critica.
Pesquisa
O desenvolvimento da pesquisa científica é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além da colaboração de outros pesquisadores e instituições como o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública/UFG (IPTSP/UFG) e Instituto Adolfo Lutz de São Paulo.
Na fase inicial do projeto, a computação é uma grande aliada. A equipe composta pela cientista realizou uma série de simulações utilizando softwares de última geração para saber como os compostos químicos reagiriam no organismo humano. O uso da tecnologia possibilita a visualização da interação das moléculas dos fármacos com as proteínas e o DNA. “Desta forma, aceleramos o processo de desenvolvimento de novos princípios ativos e reduzimos o número de experiências a serem realizadas posteriormente com animais vivos. Nos estudos computacionais, eliminamos os compostos que não se mostraram promissores”, destaca.
Após a triagem virtual, 12 compostos foram selecionados e testados in vitro em laboratório. O resultado foi considerado surpreendente. Três deles foram mais potentes contra o parasita leishmania infantum, responsável pela forma mais grave do mal – em comparação ao medicamento-padrão existente no mercado. O caminho pela frente ainda é longo, pois leva-se, em média, de 10 a 15 anos para que um novo remédio chegue às prateleiras das farmácias e esteja disponível à população, após uma sequência de experimentos de praxe.
Incentivo
Carolina será premiada com US$ 20 mil, que serão investidos nos estudos. A pesquisadora avalia que o Prêmio Para Mulheres Cientistas é um incentivo ao trabalho que vem sendo desenvolvido na universidade. “Fiquei muito honrada de ter sido selecionada e por conquistar esse reconhecimento científico da pesquisa realizada em Goiás. Este prêmio é motivo de orgulho e uma alegria muito grande. Ele vai trazer não só um incentivo financeiro para continuarmos as experiências, como também irá estimular todos os meus colegas e alunos que optaram por esta carreira”, conclui. A cerimônia de premiação será no dia 21 de outubro às 19 horas, no Hotel Copacabana Palace no Rio de Janeiro.
Leishmaniose
A leishmaniose é uma doença causada por protozoários e transmitida aos humanos pela picada do mosquito-palha. O cão é o hospedeiro intermediário do parasita. As enfermidades se dividem em leishmaniose tegumentar, cujos sintomas são lesões na pele e mucosas, e a visceral, que acarreta o comprometimento de órgãos como o fígado e o baço e provoca hemorragias, o que pode levar à morte.