Pesquisadores do Polo de Inovação do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) descobrem nematoide gigante
O Tubixaba tuxaua é um nematoide gigante, que pode ser visto a olho nu, diferente de qualquer outro nematoide fitoparasita. Seu nome é de origem indígena e significa algo como “o maior entre os maiores” ou “o cacique dos caciques”, justamente em razão de seu tamanho.
Os fitonematoides são organismos que atacam as plantas em áreas relativamente concentradas, formando espécies de “buracos” nas plantações, as chamadas “reboleiras”. Esses parasitas prejudicam o crescimento das plantas e deixam suas folhas amareladas, afetando a produtividade das culturas.
No sudoeste goiano, que é uma das regiões que mais produz grãos no Brasil, os fitonematoides mais comuns são o Pratylenchus brachyurus, Heterodera glycines, que podem causar perdas de até 21% nas safras, e espécies do Meloidogyne, com potencial de danos ainda maior.
Segundo o pesquisador Alaerson Maia Geraldine, que coordena projeto de pesquisa onde o Tubixaba foi encontrado, mesmo sendo grande, ele provavelmente ainda não havia sido identificado porque o método tradicional de extração de nematoides não permite essa identificação. Na área em que a espécie foi encontrada, havia um histórico do nematoide do Heterodera glycines (nematoide do cisto da soja), e há pelo menos 7 anos apresentava reboleiras em sua decorrência. “Como os métodos de extração dos dois parasitas, Heterodera e Tubixaba, são similares, foi possível identificar esse novo nematoide na região”, explica Alaerson.
O processo de extração de cisto, como é chamado, começa com a coleta de amostras de solo e raiz que são homogeneizadas em água. Em seguida, essa suspensão passa por duas peneiras. O conteúdo que fica na peneira mais grossa é recolhido e observado em um microscópio do tipo estereoscópico, que é um equipamento mais simples pelo qual é possível visualizar objetos tridimensionais e opacos (por onde a luz não passa). Os fitonematoides encontrados foram transferidos para lâminas para que se pudesse identifica-los em um microscópio óptico, um tipo de microscópio mais “potente”. Neste equipamento foi identificado o Tubixaba, em uma média de 12 indivíduos a cada 100 cm³ de solo. No método tradicional de extração, esses materiais passariam por mais algumas peneiras e, como o Tubixaba é grande, ele acaba ficando nas primeiras, que são mais largas, e esse material é descartado.
Essa espécie de nematoide foi relatada pela primeira vez na década de 1980, no estado do Paraná. Em 2009 também foi detectada a presença do nematoide no Tocantins, em área de cultivo de soja onde as plantas apresentavam subdesenvolvimento, folhas amareladas e sistema de raízes “envassourado”. Esses sintomas foram observados em reboleiras, típicas da presença de nematoides.
É possível que o Tubixaba tenha chegado a Goiás em máquinas agrícolas alugadas que não foram devidamente limpas. Além disso, provavelmente já existe uma população considerável desse nematoide no sudoeste goiano. Mas como o método padrão de extração não o identifica, ainda não havia registros. Das 30 amostras coletadas em Montividiu, sete continham o Tubixaba, um indício de que não se trata de um caso isolado.
O pesquisador Leonardo de Castro Santos, um dos nematologistas que confirmou ser o Tubixaba, explica que se trata de um “ectoparasita”, isto é, um nematoide que não penetra na raiz da planta, mas estraga suas radículas e, por isso, pode causar danos à produtividade.
O pesquisador Cléber Furlanetto, da Universidade de Brasília (UnB) coordenou uma pesquisa recentemente em que foram relatadas perdas significativas nas culturas do milho e da soja em uma área do Paraná com infestação de Tubixaba. Por outro lado, segundo Leonardo, sabemos que eles se reproduzem lentamente: “enquanto outros nematoides como o Pratylenchus postam 500 ovos por vez, em média, o Tubixaba posta em torno de 80”, completa Leonardo. Apesar disso, segundo os pesquisadores, são necessários mais estudos para estimar o potencial de danos desse nematoide.
Atualmente, de acordo com o professor Leonardo, há poucos protocolos de manejo desse nematoide porque seu impacto ainda é pouco conhecido nas grandes culturas. Até o momento, sua presença pode ser indicada pelas reboleiras e o manejo envolve rotação de culturas, uso de materiais resistentes e controle biológico. “Produtos químicos não são recomendados porque não possuem viabilidade econômica, ambiental e técnica”, alerta o nematologista.
Nesse sentido, ainda que se saiba pouco sobre o Tubixaba, quando houver indícios de nematoides em determinadas áreas, é importante que seja feita uma extração adicional, pensando na sua possível presença. Isso porque se trata de uma espécie migradora, que consegue sair de uma raiz e ir para outra, além de atingir várias culturas, como soja, milho e trigo por exemplo.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Polo de Inovação/ IF Goiano