Pesquisadores de Goiás e São Paulo avançam na consolidação de tecnologia para controle do Aedes aegypti
Os estudos estão na fase de validação em campo do larvicida que utiliza a curcumina como um fotolarvicida para produção em larga escala. O estudo promete resultados de alto impacto em saúde pública e meio ambiente que vão posicionar Goiás e a UniEvangélica/AEE como referências emergentes em inovação ambiental aplicada ao controle de arboviroses
Os estados de Goiás e de São Paulo estão unindo esforços em busca da solução de um problema de saúde pública no Brasil e no mundo: o Aedes aegypti , mosquito vetor de arboviroses como dengue, chikungunya, zica e febre amarela. Pesquisadores da Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica) e da Universidade de São Paulo (Campus São Carlos) estão trabalhando com o objetivo de disponibilizar, no menor tempo possível, um fotolarvicida à base de curcumina para auxiliar no combate e controle ambiental de larvas do mosquito.
O fotolarvicida é uma formulação que combina um fotossensibilizador (uma molécula que absorve luz) para gerar espécies reativas de oxigênio (EROs) capazes de oxidar estruturas vitais e promover a mortalidade das larvas, sem deixar resíduos tóxicos no ambiente.
Em Goiás, o projeto foi selecionado por meio de um edital de apoio à pesquisa – Inovações Tecnológicas para o Controle Vetorial de Arboviroses, lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde (SES). O projeto intitulado “Fotolarvicida à Base de Curcumina contra o Aedes aegypti : Produção em Larga Escala, Avaliação Ambiental e Aplicação em Campo no Município de Anápolis/GO, está recebendo apoio financeiro de R$ 600 mil, para a execução da fase 3.
Os cientistas estão realizando um estudo-piloto em Anápolis para a validação em campo do larvicida, sob a coordenação do professor do curso de Farmácia da UniEvangélica, doutor Lucas Danilo Dias. “Após a coleta e análise dos dados, avançaremos para a próxima fase, voltada à inserção do produto no mercado, condicionada às aprovações ambientais e sanitárias”, explica ele. Os pesquisadores vão trabalhar, nesta fase da pesquisa, para otimizar a estabilidade da formulação; padronizar o protocolo de aplicação em campo sob luz solar; e avaliar o desempenho ecotoxicológico e a eficácia em condições reais. Serão realizados ensaios de desempenho, toxicidade e eficiência em ambientes controlados e, na sequência, em criadouros naturais, incluindo avaliação de aceitação comunitária.
A parceria
A formulação foi desenvolvida e estabelecida em estudos anteriores pelo Grupo de Óptica da Universidade de São Paulo (Campus São Carlos) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), coordenado pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato. Esta nova etapa, conduzida em parceria com a Universidade Evangélica de Goiás (UniEVANGÉLICA) visa ampliar a aplicação para estudos em campo no município de Anápolis, com apoio da Associação Educativa Evangélica (AEE), Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), Fundação Universitária Evangélica (FUNEV) e da Diretoria de Vigilância em Saúde da Prefeitura Municipal de Anápolis.
O coordenador do projeto explica que, embora a curcumina seja um composto de fonte natural, presente no rizoma de Curcuma longa (açafrão-da-terra) e abundante no Brasil, a extração a partir da planta enfrenta limitações estruturais como baixo rendimento, contaminação por curcuminoides e outros extratos vegetais, variabilidade de lote e custo elevado para purificação. Esses fatores tornam a escala industrial e a transferência para a sociedade impraticáveis quando se depende exclusivamente do extrato natural.
Para superar essas barreiras, o Grupo de Óptica do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF), da Universidade de São Paulo – São Carlos com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) estabeleceu um processo sintético de curcumina com alto desempenho, sustentável e custo competitivo, permitindo produção em lote e em grande escala com controle de pureza e reprodutibilidade. “Essa rota sustentável e escalável é a base que possibilita implementar, em Anápolis (GO), em parceria com a UniEVANGÉLICA, a etapa de aplicação em campo deste fotolarvicida, garantindo fornecimento contínuo, qualidade farmacotécnica e viabilidade econômica para uso em programas de saúde pública”, explica o professor Lucas Dias.
Vantagens do produto
O pesquisador relata que o fotolarvicida à base de curcumina apresenta vantagens ambientais, tecnológicas e de saúde pública, citando a baixa toxicidade ambiental, pois a curcumina é um pigmento natural, biodegradável e fotossensível, degradando-se completamente sob luz solar em menos de 24 horas, o que reduz impactos sobre organismos não-alvo. Diferente de larvicidas convencionais, o fotolarvicida não apresenta resíduos persistentes, não acumulando compostos tóxicos no ecossistema.
Baixo risco de resistência é outra vantagem do produto, destaca o professor, pois o mecanismo fotodinâmico atua em múltiplos alvos celulares, dificultando o surgimento de resistência nas populações de mosquitos.
Outras vantagens citadas pelo pesquisador advêm do uso de luz solar: o processo não exige fontes artificiais de iluminação, tornando o método economicamente viável e sustentável; e compatibilidade com programas de saúde pública: “por ser natural e de fácil aplicação, pode ser integrado a campanhas de controle vetorial sem riscos adicionais”.
Importância do apoio da Fapeg
O professor Lucas Dias ressalta que “o fomento da Fapeg/SES está sendo determinante para consolidar uma tecnologia inovadora, de alto impacto em saúde pública e meio ambiente, viabilizando a transição da bancada para o campo e fortalecendo a ponte entre pesquisa acadêmica e aplicação social”. Com o apoio da Fapeg, o pesquisador explica que será possível, também, formar recursos humanos em áreas estratégicas (biotecnologia, fotônica e saúde ambiental), com foco em capacitações, iniciações científicas e pós-graduação da UniEvangélica.
Possibilitará, ainda, acelerar a transferência de tecnologia entre instituições de excelência, com a USP e UniEvangélica liderando os estudos em Goiás e a AEE assegurando a governança acadêmico-institucional e a difusão do conhecimento; além de impulsionar o avanço científico regional, posicionando Goiás e a UniEvangélica/AEE como referências emergentes em inovação ambiental aplicada ao controle de arboviroses.
Cita ainda que o fomento vai amparar políticas públicas sustentáveis, gerando evidências para programas de vigilância em saúde, com potencial de escalabilidade estadual e nacional; e ampliar a visibilidade institucional (papers, relatórios técnicos, protocolos abertos, workshops, mídia e ações de extensão), reforçando a marca UniEvangélica/AEE como agente de transformação social.
Os recursos da Fapeg serão aplicados na aquisição de reagentes e insumos para otimização da formulação; aquisição de equipamentos; materiais para experimentos ecotoxicológicos e de campo; custos logísticos e de infraestrutura para os ensaios em Anápolis (GO); apoio à produção de relatórios técnicos e publicações científicas conjuntas entre UniEvangélica e USP.
O edital
O edital 18/2025, de Apoio à Pesquisa – “Inovações Tecnológicas para o Controle Vetorial de Arboviroses” foi realizado pela Fapeg em parceria com a SES. Foram investidos R$ 1.981.266,00, o que possibilitou apoiar um total de oito projetos. A chamada foi lançada com o objetivo de apoiar projetos de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação voltados à geração de evidências acerca da eficácia de tecnologias existentes de controle vetorial, bem como ao desenvolvimento de soluções inovadoras, sustentáveis e eficazes contra o Aedes aegypti, considerando, especialmente, o aumento da resistência a inseticidas e os impactos das mudanças climáticas.
Equipe do projeto
Vanderlei Salvador Bagnato, Lucas Danilo Dias, Alessandra Ramos Lima, Giovanni de Araujo Boggione, Mariana de Souza, Sandro Dutra e Silva, Natalia Mayumi Inada, Matheus Garbuio, Taina Cruz de Souza Cappellini, Osmar Vieira da Silva.
O professor doutor Lucas Danilo Dias é graduado em Farmácia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), doutor em Química pela Universidade de Coimbra (Portugal) e realizou pós-doutorado em Física Aplicada na Universidade de São Paulo (USP). Atuou como pesquisador visitante na University of Liverpool (Inglaterra) e na Universidad Rovira i Virgili (Espanha).
Atualmente, coordena o Centro de Excelência de Pesquisa e Inovação Tecnológica em Saúde (CEPInova-UniEVANGÉLICA), além do Grupo de Pesquisa CNPq Biotecnologia Molecular e do Curso de Farmácia da UniEVANGÉLICA. É Pesquisador de Produtividade do CNPq.
Suas pesquisas concentram-se em síntese orgânica e catálise aplicada às áreas médica e ambiental, com forte interface entre ciência básica e aplicação prática. Mantém parcerias consolidadas com o setor produtivo.





