Pesquisadores da UFG descobrem micro-organismo e homenageiam Goiânia
Nova espécie detectada na capital pela primeira vez no mundo é achado biológico relevante e recebeu o nome de Babesia goianiaensis
Uma descoberta realizada recentemente por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) vem chamando a atenção da comunidade internacional. Em artigo publicado no mês de agosto, na importante revista científica Microorganisms, o grupo liderado pelo professor Felipe Krawczak, da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ/UFG), catalogou uma nova espécie de Babesia, gênero de protozoários encontrados em carrapatos parasitos de diversos animais e humanos, que foi nomeada de Babesia goianiaensis, em homenagem à capital goiana.
O achado, considerado de grande relevância para as áreas de parasitologia, doenças parasitárias e protozoologia, tem origem em uma pesquisa de mestrado orientada por Krawczak, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). O estudo teve início em 2019 e visava avaliar a circulação de bactérias do gênero Rickettsia, a mesma responsável por causar a febre maculosa em humanos, em Goiânia. Para isso, foi necessário analisar carrapatos extraídos de capivaras, cães, equinos e da vegetação de regiões sob vigilância epidemiológica na cidade.
Conforme explica o professor, que é docente da UFG desde 2018, em se tratando de trabalhos de pesquisa com animais, mesmo que haja um foco específico, todo o material coletado é alvo de várias análises. “Na minha principal linha de pesquisa, que é carrapatos e doenças transmitidas por carrapatos, realizamos as análises das amostras no intuito de maximizar o aproveitamento do trabalho e recursos financeiros destinados para a pesquisa, indo sempre além do objetivo proposto inicialmente. Foi essa dinâmica que nos permitiu chegar a esse resultado enquanto estudávamos bactérias causadoras de doenças como a febre maculosa”, esclarece.
Ainda que inicialmente o projeto tenha sido encampado por alunos de graduação, residência, mestrado e doutorado, do Laboratório de Doenças Parasitárias (LADOPAR) da EVZ/UFG, sob a coordenação e orientação de Krawczak, a investigação em torno da Babesia precisou de recursos disponíveis em outras instituições. Nesse sentido, as atividades de coleta, extração de DNA e PCRs ficaram sob responsabilidade dos pesquisadores do LADOPAR da UFG, ao passo que pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) contribuíram com as análises de sequenciamento genético.
A nova espécie de Babesia foi detectada em capivaras e em duas espécies de carrapato, sendo uma delas o chamado carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), principal espécie que parasita humanos no Brasil e transmissor da Rickettsia rickettsii, agente causador da febre maculosa brasileira. Apesar disso, o professor diz que não há o que temer. “Os animais parasitados não oferecem risco direto, visto que a infecção só ocorre a partir do contato com o sangue de bichos infectados ou pela picada do carrapato”, tranquiliza.
Por si só, a descrição de uma nova espécie de um micro-organismo é um feito científico notável, mas Krawczak ressalta que a descoberta cria também um novo clado filogenético (ramo evolutivo) para os piroplasmídeos. Na prática, isso significa dizer que a Babesia catalogada possui características únicas e, consequentemente, a descoberta contribuiu para desvendar a complexa história evolutiva dos piroplasmídeos, obrigando todos os estudos nessa área, daqui em diante, a citarem este artigo científico que a descreveu pela primeira vez.
Homenagem à Goiânia
Ao fator de ineditismo e impacto da descoberta, soma-se a curiosidade do nome científico escolhido para a espécie, Babesia goianiaensis, que presta tributo a Goiânia. O professor Krawczak, que é gaúcho e vive na capital há alguns anos, foi o autor da sugestão e diz ter seguido o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN, em inglês). “Queria homenagear nossa cidade e nosso povo, já que a detecção e a descrição da espécie foram feitas por aqui. Precisamos ter orgulho da nossa querida Goiânia”, afirma.
Atualmente, existem diversas espécies de Babesia mundo afora. No Brasil, as principais costumam acometer animais como cães, bovinos e equinos, sem oferecer risco aos humanos. Nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa, porém, há incidência de espécies de Babesia que acometem animais e ainda causam doenças em seres humanos. O potencial de patogenia da nova espécie de Babesia para humanos e animais permanece incerto, mas o professor já planeja um novo projeto de pesquisa a esse respeito e estima que os resultados sejam publicados em até cinco anos.
O artigo científico veiculado na Microorganisms também é assinado pelos pesquisadores Bianca Bárbara da Silva, Ennya Rafaella Cardoso, Daniel Graziani, Gracielle Pádua, Lucianne Neves, Luiza Gabriella de Paula, Mariana Tavares, Nicolas Jalowitzki, Sarah Dias e Warley Paula, da UFG; Ana Cláudia Calchi e Marcos André, da Unesp; e Filipe Dantas-Torres, da Fiocruz. Ele pode ser conferido na íntegra neste link.
O trabalho que resultou na descoberta é um exemplo vívido de como a pesquisa se articula na UFG, tendo papel decisivo para a sociedade. Afinal, a partir de um projeto financiado por uma agência de fomento do governo, foi possível desenvolver uma investigação de interesse público que tinha foco em saúde e, com a parceria de outras universidades do país, ainda chegar a uma façanha que engrandece toda a ciência brasileira.
Fonte: Setor de Comunicação e Eventos da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da UFG