Especial PPSUS: Pesquisa apresenta filme educativo como intervenção para pacientes com Leucemia Mieloide Crônica

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Um dos principais fatores influentes no tratamento da Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é a adesão do paciente ao medicamento indicado. O tratamento da doença mudou radicalmente com o advento do mesilato de imatinibe. Além da comodidade do uso oral, outros benefícios foram alcançados com o novo fármaco, como respostas terapêuticas mais rápidas e aumento da sobrevida, dando à LMC, características semelhantes às de doenças crônicas. Neste cenário, surgiu outro desafio, a adesão medicamentosa, pois uma proporção significativa de pacientes deixa de ingerir a dose prescrita de imatinibe.

A preocupação em otimizar a adesão dos pacientes com LMC, do Ambulatório de Hematologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), motivou uma equipe de pesquisadores e alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG), sob a coordenação do professor Luiz Carlos da Cunha e da Dra. Adriana do Prado Barbosa, a apresentarem uma proposta de pesquisa pela Chamada Pública nº 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada. Intitulada Intervenção educativa pró-adesão farmacológica em pacientes com leucemia mieloide crônica tratados com mesilato de imatinibe em Goiânia, a pesquisa é uma entre os 29 projetos apresentados por meio da chamada.

O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS. A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

leucemia mieloide crônica
Foto: Divulgação.

A doença
A leucemia mieloide crônica (LMC) é um tipo de câncer que afeta as células mieloides presentes na medula óssea, caracterizada por uma anormalidade cromossômica específica. A doença se distingue dos outros tipos de leucemia pela presença de uma anormalidade genética nos glóbulos brancos, denominada cromossomo Philadelphia (Ph+). Os cromossomos das células humanas compreendem 22 pares (numerados de 1 a 22 e dois cromossomos sexuais), num total de 46 cromossomos. Nos pacientes com a doença, estudos mostraram que existe uma translocação (fusão de uma parte de um cromossomo em outro cromossomo) em dois cromossomos, os de número 9 e 22, caracterizando assim a leucemia mieloide crônica.

Adriana do Prado Barbosa, Marcelo Rodrigues Martins, Nathalie Dewulf, Wilsione José Carneiro, Tereza Cristina de Deus Honório, Ramias Calixto Vieira Freire, sob a coordenação do professor Luiz Carlos da Cunha desenvolveram a pesquisa. Um filme em desenho animado (https://vimeo.com/120786469), como modelo de intervenção educativa pró-adesão foi criado. A pesquisa se propôs a investigar a eficácia deste novo material educativo, empregando, em 65 pacientes, três medidas de adesão, duas indiretas (Teste de Morisky e Resposta Molecular [RM]) e uma direta (dosagem plasmática do MI – Mesilato de Imatinibe), antes e depois da exibição do filme.

Após a análise, os pesquisadores concluíram que o filme é um modelo eficaz de intervenção educativa pró-adesão medicamentosa e, “neste estudo, mostrou-se impactante para o maior grupo de pacientes. A educação continuada, com novos filmes, poderia manter ou ampliar os benefícios conquistados”, avalia o professor Luiz Carlos da Cunha. Ele justifica que, o filme pode ser facilmente exibido na sala de espera ambulatorial, enquanto os pacientes aguardam a consulta médica. “Assim, todos obtêm a mesma informação, clara e objetivamente. Além disto, a adesão ao tratamento de outras doenças crônicas também pode melhorar, com a utilização desta ferramenta educacional, criando-se filmes específicos para cada enfermidade”, aconselha.

O filme foi apresentado no ano passado, pela Dra. Adriana do Prado Barbosa, durante a realização do seminário parcial do PPSUS. Segundo o coordenador da pesquisa, “a representante do Ministério da Saúde gostou muito da ideia e demos liberdade para utilizar nossos resultados e produzir, até, outros vídeos explicativos sobre tratamentos de doenças crônicas, tais como diabetes, aids e outras. Agora, quanto à utilização, dependerá do próprio Ministério da Saúde que, em última instância, é o proprietário final dos produtos financiados pelo PPSUS”.

A pesquisa
A análise dos dados obtidos demonstrou que a adesão dos pacientes ao tratamento com imatinibe influenciou na resposta ao tratamento. Em análise univariada, pelo teste de Morisky, o filme foi impactante, com aumento dos pacientes aderentes, que passaram de 15 (23,1%) para 43 (66,1%). Os resultados da RM (Resposta Molecular) indicaram uma tendência de melhora após o filme, pois a resposta molecular positiva (RM maior ou RM completa) passou de 81,5% para 86,1%.

Em relação à dosagem sérica do mesilato de imatinibe, com doses diárias entre 400-800 mg do medicamento, as amostras pré-filme apresentaram média superior às do pós-filme (2.473,16  1.049,55 ng/ml versus 1.414,72  715,73 ng/ml), com coeficientes de variação interpaciente de 43,4% e 50,6%, respectivamente. Este elevado índice de dispersão encontrado tem sido relatado por outros autores.

Pela análise multivariada, os pacientes foram separados em três grupos. O primeiro, reuniu os pacientes aderentes antes e após o filme e com boa resposta terapêutica (RM maior) após a intervenção. Foram eles: os doentes maiores de 53 anos, do gênero feminino, com doenças associadas antes e após o tratamento da LMC e que usam mais de dois medicamentos além do imatinibe. O segundo grupo foi marcado pela mudança de não adesão pré-filme para adesão pós-filme. Suas características foram idade menor ou igual 53 anos, ausência de outra doença antes da LMC, uso ≤ dois medicamentos e resposta molecular completa pós-filme. No terceiro grupo, observaram-se pacientes sem resposta molecular antes e depois da intervenção educativa, bem como não adesão medicamentosa após o filme. Eles tinham em comum a idade, menor ou igual a 53 anos, e suspensão do medicamento por reação adversa. Estes últimos representam o conjunto de pacientes resistentes ao filme educacional, chamando atenção para o fato de que somente um método pró-adesão pode ser insuficiente para todos os indivíduos.

“O filme educativo mostrou-se um modelo de intervenção pró-adesão medicamentosa eficaz,  podendo ser uma ferramenta útil em outras especialidades médicas que trabalham com doenças crônicas, prevenindo, assim, progressão e complicações da doença, melhorando a qualidade e o tempo de vida dos pacientes, além de diminuir  custos do tratamento. Cada área poderá criar um filme de acordo com sua realidade, com a vantagem de poder ser frequentemente atualizado, sendo uma importante ferramenta de educação continuada”, conclui a pesquisa.

Conheça outros projetos contemplados no PPSUS aqui.

Governo na palma da mão

Pular para o conteúdo