Fapeg fomenta pesquisa que investiga influência genética no desenvolvimento da obesidade infantil

225 crianças participam de estudo, apoiado pela Fapeg, que examina mecanismos, genes e polimorfismos envolvidos no desenvolvimento da doença

Juliana Diniz, da Assessoria de Comunicação da Fapeg

 

A obesidade é uma doença crônico-degenerativa e inflamatória complexa, multifatorial e de difícil manejo que vem crescendo a cada ano em todo o mundo, sendo considerada um problema de saúde pública no país. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade de 2022, estima-se que até 2030, cerca de 7,7 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, entre cinco e 19 anos, sejam acometidos pela patologia. Já o relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, com dados de pessoas acompanhadas na Atenção Primária à Saúde, até setembro de 2022, mais de 340 mil crianças de cinco a 10 anos foram diagnosticadas com obesidade e fazem acompanhamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

As consequências da doença são graves: a obesidade pediátrica está associada a maior chance de morte prematura e manutenção da obesidade e incapacidade na idade adulta, de acordo com o levantamento Proteja: Estratégia Nacional Para Prevenção E Atenção À Obesidade Infantil, publicado pelo Ministério da Saúde em 2022. Crianças com obesidade têm 75% mais chances de se tornarem adolescentes obesos e 89% dos adolescentes com obesidade podem se tornar adultos com a doença.

Além de aumentar os riscos futuros, crianças e adolescentes com obesidade podem apresentar dificuldades respiratórias, aumento do risco de fraturas e outros agravos osteoarticulares, hipertensão arterial sistêmica, marcadores precoces de doenças cardiovasculares, resistência à insulina, câncer e efeitos psicológicos, como baixa autoestima, isolamento social e transtornos alimentares. Também já foram comprovados outros impactos do excesso de peso na infância, como o comprometimento do rendimento escolar, que pode implicar em uma maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho na vida adulta.

Para ampliar o conhecimento sobre a doença no público infantil, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) realizam o Estudo de Associação de Polimorfismos Genéticos na Obesidade Pediátrica. Segundo a integrante do grupo de pesquisa Jakeline Soares Fortes, doutoranda em Biologia Molecular e Genética na UFG, o projeto busca compreender os mecanismos, os genes e os polimorfismos por trás do desenvolvimento da patologia nas crianças. A pesquisa inova ao acrescentar análises em relação aos dados clínicos e antropométricos dos pacientes, trazendo melhoria na qualidade de vida da criança estudada e dos familiares dela, uma vez que o ambiente familiar está envolvido diretamente no desenvolvimento da doença e contribuindo, através do tratamento, com a melhora da saúde dos pais.

Arquivo Pessoal

Sob a orientação do professor da UFG e PUC Goiás, Aparecido Divino da Cruz (Peixoto), os pesquisadores estudam uma melhor compreensão da genética da obesidade estabelecendo o perfil metabólico dos indivíduos estudados como apoio ao acompanhamento individualizado por diferentes profissionais da saúde. Com as evidências de suscetibilidade genética da doença será possível estabelecer medidas preventivas adequadas, promover a saúde e incentivar a busca de tratamento personalizado.

“No estudo, 225 crianças oriundas do Hospital da Criança de Goiânia serão analisadas. Elas são atendidas pela endocrinologista pediátrica Renata Machado Pinto, que realiza a consulta, a anamnese, os exames físicos e o cálculo do escore-z das crianças, que é uma medida específica para pacientes até os 19 anos”, explica Jakeline Soares. Ainda são obtidas informações sobre a altura e o peso dos pais biológicos da criança, para que seja realizado o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) deles também.

Foram selecionadas crianças com mais de cinco anos que não tenham: desnutrição, sobrepeso, doenças crônicas graves, síndromes genéticas ou façam uso de medicamentos que alterem o peso corporal. Assim, é possível impedir possíveis interferências na análise dos dados. As crianças participantes do estudo foram divididas em grupos de eutróficos (grupo controle) e obesas (grupo caso), de acordo com os valores do IMC encontrados.

O grupo de pesquisadores já coletou os materiais genéticos dos participantes, em uma parceria com o laboratório particular. As amostras de sangue periférico foram extraídas e quantificadas no Núcleo de Pesquisas Replicon, na PUC Goiás, e as Reações em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (qPCR) foram feitas no laboratório de mutagênese (LabMut), da UFG. “Durante o primeiro semestre de 2023, realizaremos a análise dos dados obtidos de todos os pacientes coletados em busca de encontrar possíveis associações entre os polimorfismos estudados e a obesidade entre os grupos analisados”, aponta Jakeline.

Impacto no SUS
Em 2017, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o IMC elevado foi responsável por 165.954 mortes e 5.095.125 DALYs (Disability Adjusted Life Years – Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade). No Brasil, os custos financeiros totais de hipertensão, diabetes e obesidade no SUS alcançaram R$ 3,45 bilhões em 2018. Desses custos, 11% foram referentes ao tratamento da obesidade. Levando em conta apenas a obesidade como fator de risco para hipertensão e diabetes, os custos atribuíveis a essa doença chegaram a R$ 1,42 bilhão. O aumento dos custos dos cuidados de saúde, associado ao aumento das taxas de obesidade, é uma tendência em diversos países. No Brasil, estima-se uma duplicação dos custos de saúde relacionados à obesidade de US$ 5,8 bilhões em 2010 para US$ 10,1 bilhões em 2050.

A pesquisa está prevista para ser finalizada em março de 2025 e a expectativa é de que o trabalho, que já foi publicado na Revista BMC Pediatrics (A1), traga impactos positivos para os usuários do SUS. “A compreensão do impacto das mutações no genoma para o desenvolvimento da obesidade e dos processos metabólicos envolvidos nessa patogênese, pode influenciar, em longo prazo, na diminuição dos gastos públicos com comorbidades associadas a essa doença, como diabetes mellitus do tipo 2, problemas cardiovasculares ou renais e hipertensão – doenças que estão presentes significativamente na população brasileira e que podem ser evitadas desde a infância”, informa a pesquisadora.

Para ela, o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) foi essencial para que todo o processo da pesquisa fosse desenvolvido, “pois o projeto recebeu apoio do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), na Chamada pública nº 04/2017, e também para manutenção da Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PGBM) com a bolsa de doutorado, edital nº 01/2021 – Lote 02″, recebida por Jakeline Soares. “Foi através dos incentivos da Fapeg que adquirimos os insumos necessários para realização de todo o projeto”, finaliza.

Governo na palma da mão

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