Pesquisa estuda diferentes respostas imunológicas ao SARS-CoV-2
Resultados vão auxiliar na indicação de melhor tratamento das pessoas infectadas de acordo com suas características clínicas
Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Indivíduos divididos em dois grupos, um com idade entre 20 e 40 anos e outro com 60 a 80 anos, com ou sem comorbidades (hipertensão, obesidade e diabetes) e que não tiveram exposição ao SARS-CoV-2 vão ajudar em uma pesquisa que busca entender a resposta imunitária ao novo coronavírus.
A avaliação da resposta imune utiliza células do sangue periférico que serão infectadas pelo vírus atenuado que foi doado pelo Laboratório de Virologia Clínica e Molecular da Universidade de São Paulo. Os resultados serão comparados entre os indivíduos da mesma faixa etária e características clínicas para entender quais as condições existentes nos indivíduos que conferem pior ou melhor prognóstico para o desenvolvimento da Covid-19, ou seja, identificar as diferenças na resposta imune com melhor ou pior resposta à infecção.
Os resultados dessa pesquisa vão auxiliar na indicação de melhor tratamento e delineamento do tratamento das pessoas infectadas pelo coronavírus de acordo com as suas características clínicas. A pesquisa avalia que, possíveis alterações na expressão da proteína ACE2 podem estar relacionadas a mudanças epigenéticas, por exemplo, e esse trabalho poderá dar subsídios para a busca de fármacos que poderiam modular a expressão ACE2 ou mesmo modular a produção de anticorpos neutralizantes para o SARS-CoV2.
A pesquisa é coordenada pela professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), farmacêutica e imunologista, Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer. Sob o título “Avaliação da infecção de células de indivíduos de diferentes faixas etárias com ou sem comorbidades pelo SARS-CoV-2 e a consequente produção de anticorpos”, a professora teve seu projeto selecionado em um chamamento feito pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). O chamamento tinha por objetivo identificar projetos de pesquisa e inovação em todas as áreas do conhecimento produzidas no Estado e que pudessem contribuir para reduzir os impactos da pandemia de Covid-19. Esta iniciativa buscou direcionar os esforços e os recursos para a viabilização de ações estratégicas. A Fapeg fomentará a pesquisa investindo R$ 79.575,00.
Entendendo a pesquisa
Algumas das manifestações clínicas da Covid-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, são pneumonia, diarreia, dispneia e nos casos mais graves falência múltipla dos órgãos. A progressão da doença para casos graves é associada à uma resposta imune exacerbada com o aumento de citocinas inflamatórias. Citocinas são proteínas que regulam a resposta imunológica e, a tempestade de citocinas é uma resposta imunológica excessiva do próprio organismo que agrava a doença e pode causar danos ao corpo humano. Os casos mais graves também têm sido associados a indivíduos idosos e aqueles que apresentam comorbidades crônicas como cardiopatia, hipertensão e diabetes. O SARS-CoV-2 infecta e replica principalmente nas células pulmonares. Os casos sintomáticos representam 20% das infecções e 80% das infecções são assintomáticas.
A professora Irmtraut Araci, no entanto, explica que os mecanismos que conferem características de infecções assintomáticas ainda não foram totalmente compreendidos. Este estudo, segundo ela, busca entender a resposta imunitária ao SARS-CoV-2 em indivíduos de diferentes faixas etárias com ou sem comorbidades. Segundo a literatura, as comorbidades podem gerar alterações no metabolismo desencadeando uma série de eventos bioquímicos que resultam no aumento da expressão do gene angiotensin converting enzime-2 (ACE-2). A professora explica que, o ACE2 é um receptor encontrado em vários tipos celulares e que estudos já confirmaram que ele é utilizado pelo coronavírus para infecção celular.
Esse gene é responsável por codificar a proteína na qual o vírus se liga para infectar as células do hospedeiro. “Nosso questionamento é que o aumento da expressão de ACE-2 faz com que essas células sejam mais vulneráveis à infecção pelo SARS-CoV-2 gerando um quadro mais grave da doença. Um outro questionamento é se os linfócitos B dos indivíduos mais jovens respondem melhor quanto a produção de anticorpos em relação aos indivíduos da mesma faixa etária com comorbidades e aos idosos com ou sem comorbidades. Portanto, o objetivo do presente projeto é o de avaliar a infecção de células e produção de anticorpos,” relata a pesquisadora.
O projeto tem um prazo de um ano e meio para execução. Estão previstas quatro etapas: Recrutamento dos indivíduos e preparo das amostras; Avaliação da expressão de ACE 2; Avaliação da fagocitose e Avaliação da produção de anticorpos e análise dos resultados. Para confirmar se os indivíduos participantes tiveram ou não covid-19 para dar início aos trabalhos da pesquisa, serão feitos, previamente, testes rápidos e PCR em tempo real.