Especial PPSUS: Pesquisa colabora com grupos internacionais para o estudo do Transtorno do Espectro Autista
Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg
Há quatro anos, o doutor Aparecido Divino da Cruz, professor titular do Núcleo de Pesquisas Replicon (NPR) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e biomédico geneticista do Laboratório de Citogenética Humana e Genética Molecular (LaGene) /Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen)/Secretaria de estado da Saúde coordena o projeto de pesquisa Aplicabilidade da análise de cromossomos em microarranjos para investigação laboratorial do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana classifica dentre os Transtornos Globais do Desenvolvimento, o Autismo, o Transtorno Desintegrativo da Infância e as Síndromes de Asperger e Rett em um único diagnóstico, denominado de Transtornos do Espectro Autista.
Segundo o pesquisador, o TEA é um distúrbio do desenvolvimento neurológico que envolve problemas de interação social, comunicação e comportamento, com elevada incidência na população. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 2 milhões de pessoas apresentem algum grau do TEA, sendo a prevalência de cerca de 1 para cada 50 crianças no Brasil possui TEA, afetando mais frequentemente meninos.
Ele explica que, “apesar do diagnóstico ser de natureza clínica, inúmeros estudos destacam a importância de se buscar as causas do transtorno, para talvez, no futuro, direcionar para terapêuticas mais efetivas e até mesmo evitar recorrência familiar”. Assim, revela Aparecido da Cruz, a presente pesquisa tem colaborado na identificação dos genes envolvidos no TEA, mediante a análise cromossômica por microarranjos (CMA), que possibilita investigar alterações estruturais ao longo do genoma de famílias que apresentam casos de TEA. “A análise permite identificar ganhos e perdas genômicas, que podem representar a evidência inicial para a identificação de um ou mais genes associados a doenças genéticas”, esclarece ele.
Colaboração internacional
O professor ressalta que, pelo estudo, já foram atendidas várias famílias e identificados diferentes genes envolvidos na etiologia do TEA, sendo que estes dados têm colaborado, inclusive, com grupos internacionais de pesquisas na busca de se compreender as associações entre as alterações fenotípicas presentes nos pacientes e os genes envolvidos. A equipe do professor integra o DatabasE of genomiC varIation and Phenotype in Humans using Ensembl Resources (DECIPHER), um banco de dados genômicos que contribui para a interpretação de variantes genômicas, do Reino Unido.
PPSUS Gestão Compartilhada
A pesquisa é uma das 29 selecionadas pela chamada pública 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada. O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS. A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A proposta do PPSUS é uma estratégia aberta a pesquisadores que são convidados a apresentarem projetos para apoiar e fortalecer o desenvolvimento de pesquisas que busquem soluções para as prioridades de saúde e promovam o fortalecimento da Política Nacional de Saúde. O PPSUS constitui uma ferramenta potencialmente indutora para que os principais problemas de saúde da população figurem entre as linhas prioritárias de investigação dos pesquisadores. Além disso, contribui para aumentar a experiência e a produção científica dos pesquisadores, tornando-os mais competitivos em âmbito nacional.
“O incentivo à pesquisa no Estado de Goiás pelo PPSUS/Fapeg tem trazido benefícios positivos para as famílias de pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo, além de uma contribuição científica sem precedentes. Os frutos destes estudos têm sido divulgados em vários congressos internacionais e revistas de impacto, gerando visibilidade para o Estado e proporcionando qualidade de vida para a população”, comenta o professor. O projeto beneficiado por esta chamada pública foi concluído neste ano, “mas continuaremos a trabalhar nas investigações sobre TEA e também sobre deficiência intelectual, aproveitando o conhecimento adquirido e consolidado com o desenvolvimento do projeto sobre o autismo, fomentado pela Fapeg”, revela o professor.
A pesquisa
A pesquisa do professor Aparecido Cruz teve início em 2013 e está em fase de conclusão agora em 2017. “O projeto se encerra, mas continuaremos a trabalhar na frente das investigações sobre TEA e também sobre deficiência intelectual aproveitando o conhecimento adquirido e consolidado com o desenvolvimento do projeto sobre o autismo, fomentado pela Fapeg,” ressalta.
Ele explica que os valores atuais aplicados nesta pesquisa somam mais de R$ 120 mil, além de investimentos prévios em equipamentos de mais de R$ 1 milhão. Os trabalhos são executados através de parcerias técnico-científicas com diversas outras instituições, como a Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Estadual de Goiás (UEG), Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) através do Laboratório de Citogenética Humana e Genética Molecular (LaGene) /Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen), além da colaboração de médicos da rede municipal e estadual de saúde de Goiás.
A proposta da pesquisa é estudar um grupo amostral de 24 casos, de ambos os sexos, com indicação clínica de TEA, encaminhados por médicos das redes municipal e estadual de saúde ao Laboratório de Citogenética Humana e Genética Molecular LaGene/SES-GO. Os pacientes foram esclarecidos sobre o projeto e convidados a participar do estudo. Assim, os que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As crianças com suspeita clínica de TEA passaram por uma entrevista estruturada usando o Questionário Revisado de Diagnóstico de Autismo (ADI-R). Também foi aplicado o Questionário Childhood Autism Rating Scale (CARS), que utiliza uma escala de 15 itens que auxiliam na identificação de crianças com autismo e as distingue de crianças com prejuízos do desenvolvimento sem autismo, e foi realizado cariótipo e análise cromossômica por microarranjo para identificação de alterações cromossômicas e genômicas, respectivamente.
Resultados Parciais
Foram encaminhados e avaliados oito pacientes com indicação clínica para TEA, sendo duas meninas e seis meninos. O teste cariótipo não revelou alterações cromossômicas numéricas e/ou estruturais para os pacientes. Foi realizado também o teste molecular do X-frágil dos pacientes que não apresentaram alterações no cariótipo, resultando em sete pacientes sem alteração genética característica da Síndrome do X-frágil, que consiste na deficiência intelectual herdável mais frequente na população masculina, cujo exclusão é fundamental para o diagnóstico do TEA , e um paciente foi diagnosticado com a expansão de nucleotídeos característica desta síndrome e, portanto, foi feito o diagnóstico da Síndrome do X-frágil para este paciente. Os dados do CMA revelaram que variações no número de copias foram observadas em 4 crianças contendo regiões genômicas e genes possivelmente relacionados ao TEA. Estudos atuais indicam que o uso da CMA para o estudos da deficiência intelectual aumentam a taxa de diagnóstico em ate 20%. No caso do TEA, o estudo contribuiu para solucionar o diagnóstico em até 50% dos casos encaminhados ao laboratório usando a nova e inovadora metodologia.
Método pode ser utilizado para pacientes do SUS
O objetivo da pesquisa é estabelecer um método de diagnóstico molecular por análise cromossômica por microarranjos (CMA), que consiste em uma técnica de citogenética molecular desenvolvida para a detecção de perdas ou ganhos de um amplo espectro de regiões clinicamente significativa do genoma humano.
Segundo o pesquisador, a última década experimentou avanços nas áreas dos diagnósticos moleculares de doenças genéticas, no entanto, há um imenso descompasso entre a possibilidade diagnóstica e a disponibilidade do teste genético para o cidadão via Sistema Único de Saúde (SUS)/Ministério da Saúde. “A padronização do teste de X-frágil usando o kit Amplidex FMR1 PCR vai permitir a inclusão do teste na oferta do LaGene/SES-GO e padronização dos insumos junto à Secretaria Estadual da Saúde”, comemora o pesquisador.
A validação da CMA, neste caso de transtorno, poderá ser incorporada no protocolo de atendimento e encaminhamento dos pacientes pela rede pública, assim como, a oferta do aconselhamento genético pela rede pública, ressalta ele.
O pesquisador
Aparecido D. da Cruz (Peixoto): Biomédico pela UCG, concluiu o doutorado em Biologia Molecular pela University of Victoria – BC, Canadá em 1997. Atualmente é Professor Titular do Departamento de Biologia da Universidade Católica de Goiás e Biomédico Geneticista do Laboratório de Citogenética Humana e Genética Molecular do LACEN/SES-GO.
A equipe que atuou neste estudo é formada por docentes, estudantes e pessoal técnico que integram o Núcleo de Pesquisas Replicon (NPR) e o LaGene.
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