Pesquisa desenvolve citros resistentes à seca
Sabe-se que as plantas desenvolvem mecanismos de “memória” para melhor se adaptarem às condições adversas, estresses bióticos e abióticos. Pensando nisso, o pesquisador da Embrapa e bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Abelmon da Silva Gesteira, estudou alterações epigenéticas de dois porta-enxertos – tangerineira “Sunki Maravilha” e o limoeiro “Cravo” em combinação com laranjeira “Valencia” – que foram induzidas por sucessivos déficits hídricos, ou seja, a irrigação foi cortada.
Epigenética é um termo usado na biologia para se referir a características de organismos unicelulares e multicelulares, como as modificações de cromatina e DNA que são estáveis ao longo de diversas divisões celulares mas que não envolvem mudanças na sequência de DNA do organismo.
Gesteira explica que após sucessivos ciclos de déficit hídricos, a combinação laranjeira “Valencia”/”Sunki Maravilha” apresentou características de aclimatação que permitem uma maior tolerância ao déficit hídrico, o que, por sua vez, pode facilitar a sobrevivência da planta. Além de trazer informações relevantes da interação copa/porta-enxerto a sucessivos ciclos de déficit hídrico, o estudo traz o primeiro conjunto de dados que demonstra que alterações epigenéticas induz uma melhor tolerância à seca a esta cultura. “As informações obtidas poderão ser utilizadas para o desenvolvimento de uma técnica de manejo com aplicação direta na cadeia citrícola”, afirma.
O pesquisador da Embrapa informa ainda que o cultivo dos citros no Brasil se dá predominantemente sem irrigação e por isso é desejável que se usem combinações copa/porta-enxerto que mostrem, entre outras características de interesse agronômico, a tolerância à seca, devido à ocorrência de déficits hídricos temporários em várias regiões citrícolas. “As plantas cítricas apresentam uma série de adaptações morfológicas e fisiológicas à deficiência hídrica, entre as quais se citam a conformação de copa e a morfologia foliar”, esclarece. Estes atributos, segundo Gesteira, são influenciados pela combinação copa/porta-enxerto, sendo que a tolerância à seca é também uma das características para seleção e melhoramento de porta-enxertos, existindo grande variação desta resposta, determinada especialmente pela condutividade hidráulica do sistema radicular.
Intitulado “Estudos de alterações epigenéticas induzidas pelo déficit hídrico em citros”, Gesteira destaca que a proposta é inovadora e sem relatos na literatura, além de apresentar potencial para o desenvolvimento de uma técnica de manejo com aplicação direta na cadeia citrícola. “Vale ressaltar que, caso seja comprovado que plantas cítricas submetidas a déficits hídricos sucessivos apresentam adaptações que resultam em uma maior tolerância à seca, as plantas matrizes, doadoras das borbulhas para enxertia, poderão ser submetidas a déficits hídricos prévios, visando aumentar o nível de tolerância ao estresse em questão”, finaliza.
A pesquisa foi publicada no periódico Scientic Reports 7, doi:10.1038/s41598-017-14161-x com o título “Recurrent water deficit causes epigenetic and hormonal changes in citrus plants”.
Fonte: Coordenação de Comunicação Social do CNPq