Pesquisa busca identificar os fatores associados ao atraso do diagnóstico e ao tratamento em pacientes com câncer de boca
Letícia Santana, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Com o fomento da Fapeg, por meio do edital PPSUS, estudo também verifica se o atendimento especializado em diagnóstico de câncer de boca é capaz de reduzir o tempo para o tratamento, e consequentemente melhorar o prognóstico dos pacientes
Em Goiás, o pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), doutor Elismauro Francisco de Mendonça, desenvolve um estudo com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), para compreender quais fatores estão associados ao atraso do diagnóstico e ao tratamento em pacientes com câncer de boca atendidos pelo Hospital Oncológico de Alta Complexidade suportado pelo SUS em Goiás (Hospital de Câncer Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer de Goiás). O câncer de boca é um tumor maligno que afeta lábios, gengivas, bochechas, céu da boca e língua. Segundo estatísticas de 2022, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se 15.100 novos casos no país, sendo 10.900 em homens.
O projeto, contemplado na chamada pública nº 05/2020, da 7ª edição do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), ainda objetiva verificar se o atendimento especializado em diagnóstico de câncer de boca, previamente a este encaminhamento, é capaz de reduzir o tempo para o tratamento e o estágio tumoral, e consequentemente melhorar o prognóstico destes pacientes.
Segundo Elismauro, o câncer de boca, quando detectado em estágios iniciais, tem grandes chances de ser tratado exclusivamente com cirurgia, podendo ser complementada por outras terapias como radioterapia com ou sem quimioterapia, em casos específicos. “A cirurgia com remoção de todo tumor e com margens de segurança (parte de um tecido saudável em torno do tumor) é o tratamento que oferece a maior chance de cura da doença e com menor possibilidade de recidiva”, explica.
Mas o professor alerta que, por mais que alguns tumores avançados também possam ser totalmente removidos por cirurgias curativas, há o impacto social e psicológico que a desfiguração facial pode trazer a vida destes pacientes. “A capacidade de fala, alimentação e do convívio social sem estigmas (fatores relacionados a qualidade de vida) são pontos emergentes e que poderiam ter mínimo impacto, caso esta doença tivesse sido diagnosticada em um estágio inicial, ou melhor ainda, em uma fase pré-maligna”, diz o pesquisador.
Diante deste cenário, “cremos que profissionais especialistas em diagnóstico bucal (estomatologistas e patologistas orais) e cirurgiões de cabeça e pescoço sejam capazes de prover o diagnóstico e encaminhamento para centro oncológico especializado o mais brevemente possível, tornando maiores as chances de um diagnóstico em estágio inicial e com tratamento menos mutilador, maior qualidade de vida, menor recorrência e maior sobrevida. Não há ainda, contudo, na literatura científica, evidências suficientes que suportem essa hipótese, e este é o ponto central da nossa pesquisa”, explica Elismauro.
Andamento da pesquisa
O projeto foi dividido em duas partes, ambas observacionais. A primeira parte, em fase de conclusão, trata-se da análise de dados de 282 pacientes com câncer de boca que receberam tratamento exclusivamente no Hospital de Câncer Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer de Goiás (HCAJ-ACCG). Segundo o pesquisador, nos próximos meses será realizada a parte prospectiva de atendimento a estes pacientes com enfoque no entendimento dos fatores implicados no atraso de diagnóstico e tratamento do câncer de boca.
Contribuições ao SUS
A chamada pública nº 05/2020, da 7ª edição do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), contemplou 20 projetos para fortalecer pesquisas científicas, tecnológicas ou de inovação que tenham potencial para oferecer novos serviços e dar respostas a problemas prioritários de saúde enfrentados pela população usuária do SUS. É um edital realizado em uma parceria do Governo de Goiás, por meio da Fapeg, com o Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE) do Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria de Estado da Saúde (SES).
O projeto do pesquisador Elismauro Francisco de Mendonça, intitulado “Fatores de prognóstico associados aos desfechos do tratamento do câncer de boca: impacto das variáveis clínicas e fluxo de atenção no contexto do SUS” recebeu o fomento de, aproximadamente, R$130 mil. Como resultados, publicação em artigos científicos e apresentações em congressos da área. Segundo o professor, por meio do resultado dessa pesquisa, poderão ser instituídas políticas públicas embasadas nas evidências científicas, com reforço organizacional e de investimentos para fortalecer serviços de média complexidade do SUS que comportam profissionais especialistas.
Ele acrescenta que os mecanismos de regulação podem e devem ser reestruturados e especialmente divulgados, aos profissionais da Atenção Primária em Saúde (APS). “Este é um ponto importante, pois a APS em especial através da Estratégia Saúde da Família tem conhecimento aprofundado do perfil da comunidade a qual ela abrange, e é a porta de entrada da população para o diagnóstico e tratamento em centros de média e alta complexidade. As APS que têm conhecimento da população que se enquadra como grupo de risco (tabagistas, etilistas crônicos, pacientes HPV+ ou expostos constantemente ao sol) podem prover diagnóstico oportunístico em fases precoces. Logo um mecanismo de regulação facilitado entre APS e centros de média e alta complexidade podem abreviar o tempo para início do tratamento e prover melhor prognóstico a esta população”, explica Elismauro.
Equipe da Pesquisa
Prof. Dr. Elismauro Francisco de Mendonça
Graduado em Odontologia – Faculdade de Odontologia João Prudente
Mestre e Doutor em Odontologia/Diagnóstico Bucal – Universidade de São Paulo
Prof. Titular de Patologia Bucal – FO/UFG
Prof. Dr. Cláudio Rodrigues Leles
Graduado em Odontologia – UFG
Mestre e Doutor em Reabilitação Oral – UNESP
Coordenador do Núcleo de Pesquisa de Prótese e Implante da FO-UFG
Prof. Titular de prótese dentária – FO/UFG
Profa Dra. Nilceana Maya Aires Freitas
Graduada em Medicina – Universidade Federal de Goiás
Mestre em Ciências da Saúde – UnB
Doutora em Ciências da Saúde – FM/UFG
Radio-oncologista do Hospital de Câncer Araújo Jorge
Sebastião Silvério de Sousa Neto
Graduado em Odontologia – UFG
Mestrando em Clínica Odontológica – PPGO/UFG