Especial PPSUS: Pesquisa avalia atendimento nos serviços de atenção à saúde com ênfase no câncer do colo do útero

Pesquisa avaliou atendimento em unidades de saúde em relação ao câncer de colo do útero. Foto: ACCG.

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Avaliar a rede integrada de serviços de atenção à saúde da população feminina usuária do SUS no município de Goiânia-GO, com ênfase no câncer do colo do útero. Este foi o objetivo de uma pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG), em colaboração com a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia-GO, Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e a Associação Goiana de Combate ao Câncer – Hospital Araújo Jorge. Sob a coordenação da professora doutora Rita Goreti Amaral, os trabalhos contaram com a participação da pesquisadora principal a aluna de doutorado Juliana Cristina Magalhães.

As ações foram desenvolvidas no distrito sanitário leste de Goiânia, compreendendo os três níveis de atenção à saúde – primária, secundária e terciária, segundo os parâmetros de estrutura (que possibilita mensurar as características do programa no que refere à população atendida, equipamentos e recurso humanos necessários), processo (que possibilita mensurar o desenvolvimento das etapas do programa desde a coleta do material para realização do exame citopatológico, análise dos exames até o seguimento das mulheres com exames alterados) e resultado (que possibilita medir o impacto das ações do programa sobre a população, refletidas no estado de saúde da mulher no que refere ao tratamento das lesões precursoras, do câncer do colo do útero e da mortalidade).

As coletas de dados foram feitas nas unidades básicas de saúde (Atenção Primária), no Hospital e Maternidade Dona Íris (Atenção Secundária), na Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia-GO e na Associação Goiana de Combate ao Câncer – Hospital Araújo Jorge (Atenção Terciária).

A coordenação é feita pela professora doutora Rita Goreti Amaral e os trabalhos contaram com a participação da pesquisadora principal a aluna de doutorado Juliana Cristina Magalhães. Foto: Arquivo pessoal.

A pesquisa e o SUS
O estudo identificou as principais dificuldades e deficiências na organização da rede de atenção à saúde primária, secundária e terciária, no sistema de informações e na qualificação dos profissionais, e segundo Rita Goreti Amaral, “os resultados podem colaborar na implementação de estratégias corretivas visando atualização dos profissionais de saúde, ampliação da cobertura de exame citopatológico da população-alvo, que são mulheres de 25 a 64 anos e o encaminhamento correto das mulheres com resultados de exames citopatológicos alterados aos serviços de atenção à saúde secundária e terciária conforme recomendação das Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero, assegurando assim, a universalização desses serviços a todas as mulheres, garantindo acesso ao tratamento de lesões precursoras do câncer do colo do útero”.

De acordo com a coordenadora dos trabalhos, os resultados encontrados poderão servir de subsídios aos gestores para o desenvolvimento de ações que favoreçam o rastreamento organizado do câncer do colo do útero e facilitem o fluxo prevenção/diagnóstico/seguimento/tratamento das mulheres, contribuindo para o cumprimento dos protocolos e normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, principalmente em relação à faixa etária, periodicidade com que as mulheres devem realizar o exame citopatológico, seguimento e tratamento das lesões precursoras ou invasivas do colo do útero.

Os resultados da pesquisa mostraram que apenas 21,4% das unidades básicas de saúde (UBS) realizavam a coleta para o exame de prevenção diariamente nos dois turnos, sendo que 42,9% realizavam a coleta quatro vezes na semana e 28,6% somente em dois ou três dias da semana. Em relação à infraestrutura das Unidades Básicas, observou-se que 85,6% dispunham de até 10 consultórios clínicos que permitiam privacidade às usuárias, sendo estes, espaços reservados tanto para consultas em geral como as específicas em ginecologia. Em relação aos equipamentos e materiais verificou-se que todas as UBS dispunham de pelo menos um foco de luz e uma mesa para exame ginecológico. Observou-se que na maioria das UBS haviam fichas de requisição para SISCOLO, porta lâminas, fixadores e lâminas de vidro.

A maioria das UBS apresentou material para realização da coleta do exame de prevenção do câncer do colo do útero como espéculo descartável e escovinha endocervical, e a espátula de Ayres. Destacou-se a presença de luvas, óculos, máscaras, toucas e aventais em 78,6% das UBS.

Atendimento na atenção primária
Em relação à percepção das usuárias do SUS na atenção primária, 81,9% das mulheres julgaram que o horário de funcionamento das UBS atendia suas necessidades, 32,5% gostariam que a unidade atendesse aos sábados e 46,9% relataram que não conseguiam ser escutadas para resolver seus problemas sem ter hora marcada. Das mulheres entrevistadas 90,0% alegaram que o atendimento é realizado em local reservado, 61,3% disseram que os profissionais na maioria das vezes realizam exame físico, 50,0% relataram que quase nunca fazem perguntas sobre outras necessidades de saúde além daquelas relacionadas com o motivo da consulta e 58,1% informaram que a consulta com o médico durava no máximo até quinze minutos.

Sobre a saúde da mulher, 61,3% relataram que não eram atendidas na hora sem ter consulta marcada mesmo com problema ginecológico, 79,0% relataram terem realizado o exame preventivo nos últimos doze meses, 64,4% informaram que foram orientadas quanto à importância do exame preventivo e 61,2% disseram que o resultado do exame estava disponível na UBS em média 30 dias após a coleta.

Sobre a coleta do material para o exame de prevenção, 62,5% não sabiam a frequência em que era realizada na UBS. Sobre o tempo de espera no dia para consulta com ginecologista, 54,9% alegaram que o tempo variava de 30 a 120 minutos.

Atenção secundária
Em relação à percepção das usuárias do SUS na atenção secundária, 20,1% das mulheres tinham 24 anos ou menos, 77,1% estavam na faixa de 25 a 64 anos e 2,8% tinham mais de 64 anos. Em relação a saúde da mulher, 94,5% sabiam o que é o exame preventivo, 100,0% consideram o exame muito necessário ou necessário, 50,0% alegaram que realizam o exame anualmente, 69,8% que realizaram o exame a pelo menos seis meses, 67,1% relataram que fizeram o exame por rotina e 32,9% o fizeram porque sentia algum sintoma. Das mulheres entrevistadas 82,8% disseram ter passado até um mês do encaminhamento para a consulta, 54,8% realizaram colposcopia, 47,3% realizaram biópsia, 19,9% repetiram o exame citopatológico e 92,1% julgaram ter suas dúvidas esclarecidas pelos profissionais. Sobre a integralidade da atenção à saúde, 48,6% disseram que a consulta durava de onze a vinte minutos e 93,2% consideraram satisfatório o atendimento durante a consulta.

Atenção terciária
Em relação à percepção das usuárias do SUS na atenção terciária, 67,3% estavam na faixa etária de 25 a 64 anos, 20,7% possuíam menos que o ensino fundamental completo, 84,3% sabiam o que é o exame preventivo e 45,9% relataram que haviam feito o exame de rotina. Do total de entrevistadas, 71,0% disseram ter passado até um mês do encaminhamento para a consulta, 93,7% ficaram satisfeitas com a forma que foram acolhidas, 43,4% disseram que a consulta durou de 11 a 20 minutos, 82,4% obtiveram esclarecimento acerca dos exames realizados na consulta e 92,5% consideraram a consulta satisfatória.

A pesquisa se debruçou sobre a percepção das usuárias do SUS. Foto: Divulgação/Internet.

Resultados e encaminhamentos
Em relação ao fluxo de encaminhamento entre as atenções primária, secundária e terciária, observou-se que 33,8% das mulheres com resultados de exames citopatológicos apresentando lesões menos graves foram encaminhadas desnecessariamente para colposcopia e biópsia, e houve uma perda de seguimento em aproximadamente 60,0% das mulheres com este diagnóstico. Em relação às lesões mais graves, observou-se a perda de seguimento em 25,3% das mulheres com resultados de lesão intraepitelial escamosa de alto grau e 40% das mulheres com resultados de atipias glandulares.

PPSUS
O projeto de pesquisa é um entre os 29 selecionados pela chamada pública 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada. O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS. A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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