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Mulheres na Ciência: Avanços e Desafios

Neste Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, mulheres vencedoras do Prêmio Goiano de Ciência, Tecnologia e Inovação falam sobre a equidade de gênero na produção científica, sobre preconceito, discriminação, maternidade e suas lutas diárias

Estudos, estatísticas e indicadores apontam um crescimento significativo da participação da mulher na produção da ciência, com destaque para o aumento no ingresso e na conclusão de cursos superiores, crescimento no percentual de bolsas de iniciação científica, doutorado, mestrado, além da maior presença em grupos de pesquisa e no número de publicações científicas. Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, esses dados levam a uma maior reflexão: a necessidade de investir em ações que promovam a paridade entre homens e mulheres também no topo da pirâmide acadêmico-científica, onde as mulheres possam ocupar espaços de decisão e gestão da ciência em cargos de liderança em universidades, institutos, conselhos e fundações de pesquisa, bem como nas academias de ciência nacionais, estaduais e internacionais. Este é mais um desafio para as mulheres: conquistar esses espaços para fortalecer sua presença e influência nas esferas mais altas do meio científico e de inovação.

O Governo de Goiás, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) tem implementado políticas para fortalecer a participação feminina na ciência e reduzir desigualdades históricas, incentivando o protagonismo das mulheres na pesquisa e na inovação, especialmente nas áreas de STEM. A Fapeg também instituiu a licença-maternidade para as suas bolsistas como forma de apoiar as pesquisadoras mães. Já promoveu uma escuta às mulheres durante uma roda de conversa para ouvir suas principais dificuldades para atuação como pesquisadoras e assim elaborar seus editais e ações. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e a Fapeg já investiram mais de R$2,5 milhões no apoio a projetos comandados por mulheres em Goiás por meio do programa Goianas na Ciência e Inovação. Iniciativa inédita no país, o programa envolve fomento à participação feminina na ciência e em projetos de extensão nas áreas de Ciências Exatas, Engenharias e Computação liderados por pesquisadoras, assim como incentivo ao empreendedorismo inovador.

Goiás tem um grande potencial para avançar ainda mais na construção de um cenário de maior equidade. Na última edição do Prêmio Goiano de Ciência, Tecnologia e Inovação, seis mulheres conquistaram o primeiro lugar nas 11 categorias e subcategorias da premiação, ou seja, mais da metade com representatividade feminina. Entre elas, pesquisadoras que desenvolvem soluções que contribuem para o avanço da ciência e da inovação em Goiás e uma jornalista que se destaca na divulgação científica.

Vencedoras

Carolina Horta Andrade, Telma Woerle de Lima Soares, Karla Maria Longo, Simone Antoniaci Tuzzo, Nathalia Pedroso Barbosa e a jornalista Maria José Braga contam aqui um pouquinho de suas histórias.

Preconceito e desigualdade ainda são obstáculos na trajetória das cientistas

Mas estas mulheres que foram destaque, que conquistaram reconhecimento por parte do Governo de Goiás por seus trabalhos, que brilham e entregam resultados para a população, travam lutas desiguais em suas carreiras. Elas falam da existência de preconceito e discriminação.

Carolina Horta – Foto: Agência Orizon

“Sim, definitivamente ainda existe preconceito e discriminação contra as mulheres em suas carreiras. Um exemplo claro dessa discriminação ocorreu com uma mulher que conheço pessoalmente, que era pró-reitora de uma universidade particular. Após a mudança na administração superior, ela perdeu o cargo simplesmente por ser mulher, e isso ocorreu de maneira velada. O mais chocante foi descobrir que o homem que ocupou a mesma posição e desempenhou as mesmas funções recebia três vezes mais do que ela. É profundamente revoltante e demonstra como ainda temos um longo caminho a percorrer para garantir igualdade de oportunidade e reconhecimento para todas as mulheres na ciência e em outras áreas”, declara a Pesquisadora Destaque em Ciências Exatas, Carolina Horta Andrade.

Maria José – Foto: arquivo da pesquisadora

Maria José Braga, primeiro lugar na categoria Profissional de Comunicação (Internet) também entende que “as questões de gênero e o machismo propriamente dito estão, sim, presentes no mundo do trabalho das jornalistas. As mulheres jornalistas são maioria na categoria no Brasil e ainda enfrentam barreiras comuns às mulheres trabalhadoras em geral, como dificuldades de acesso a postos de comando e, consequentemente, menores salários. As mulheres também são as vítimas preferenciais dos assédios moral e sexual, o que impacta não apenas na carreira, mas também na saúde e na vida privada. É o reflexo da divisão social do trabalho, com a reprodução social sobrecarregando as mulheres.

“O mundo acadêmico e científico ainda enfrenta desafios estruturais e culturais significativos em relação à discriminação de gênero. Embora muitas vezes essa discriminação não seja explícita, ela se manifesta de forma sutil e persistente, enraizada em práticas e atitudes cotidianas. Em minha experiência pessoal, já enfrentei várias situações de discriminação, tanto por parte de colegas quanto de chefes diretos. Quando levanto essas questões, a resposta é quase sempre minimizada, como se fossem apenas “brincadeiras” ou mal-entendidos, com comentários do tipo “não foi isso que quis dizer”. No entanto, essas atitudes, por mais disfarçadas que sejam, revelam um problema estrutural que precisa ser enfrentado”. Este é o depoimento de Karla Maria Longo, primeiro lugar na categoria Pesquisador Goiano Destaque em outros Estados. Ela relata que, a partir de suas experiências de trabalho nos Estados Unidos e na Europa, a percepção é de que a discriminação contra a mulher no Brasil é mais evidente e opressiva. “Naqueles locais, embora a discriminação ainda exista, há uma vigilância maior sobre essas questões e esforços mais concretos para combatê-las. O contraste entre essas realidades apenas reforça a necessidade urgente de mudanças nas instituições brasileiras, que ainda falham em criar ambientes mais inclusivos e equitativos.”

Simone Tuzzo – Foto: arquivo da pesquisadora

Simone Antoniaci Tuzzo foi a vencedora do prêmio na categoria Pesquisador Goiano Destaque no Exterior. Atualmente coordena um Curso de Comunicação em Portugal onde a maioria do corpo docente é de mulheres. Apesar de reconhecer que a mulher sofre diferentes graus de discriminação/preconceito ela afirma que eles vêm em nuances diferentes a depender a área de pesquisa que a mulher atua. Para ela, na sua área de atuação, “a mulher tem tido muito espaço e reconhecimento para coordenar e desenvolver pesquisas”. Segundo ela, um estudo realizado em 2023 pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) – uma das instituições mais renomadas na área da comunicação no Brasil e no exterior – destaca que a Comunicação, assim como outras disciplinas das Ciências Humanas, é predominantemente feminina. “Historicamente, aproximadamente 60% dos participantes de seus congressos nacionais são mulheres, percentual que alcançou 65% na 45ª edição, em 2022, conforme apontam as pesquisas de satisfação anuais. Além disso, dos 33 Grupos de Pesquisa atuais, 20 são liderados por mulheres. Na gestão 2021-2023, a Diretoria Executiva conta com nove professoras e seis professores, e ao longo da história da entidade, seis mulheres já ocuparam a presidência, consolidando-se como referências nas Ciências da Comunicação.”

Telma Woerle de Lima Soares, primeiro lugar na categoria Pesquisador Inovador, subcategoria Inovação para o Setor Público também já aponta melhoras na questão da discriminação e preconceito contra a mulher na carreira da ciência e inovação. “Atualmente a mulher vem sendo cada vez mais valorizada na área de tecnologias, principalmente com os avanços recentes de valorização da TI como um todo”, comenta.

Nathalia Pedroso – Foto: arquivo da pesquisadora

Nathalia Pedroso entende que as barreiras para as mulheres ainda existem na ciência, especialmente no acesso a cargos de liderança e na equidade salarial. Para ela, a falta de representatividade feminina em espaços estratégicos também impacta a visibilidade do trabalho da mulher. “No entanto, percebemos uma mudança gradual, impulsionada por políticas de inclusão e pelo esforço coletivo, inclusive projetos de apoio exclusivo para mulheres. Nós participamos em 2019 no projeto Delas do Sebrae Goiás. Ficamos entre as 30 mulheres mais inovadoras pela FINEP 2021 e participamos de várias ações para o fortalecimento do negócio e melhorar nosso trabalho frente à comunidade”.

Maternidade

E a maternidade para a mulher cientista? O que as pesquisadoras contam? Tiveram que atrasar a maternidade para concluir seus cursos, mestrados, doutorados? Optaram por não ter filhos? Conseguiram conciliar? Tiveram que desistir? O ponto em comum entre elas é que não adiaram a maternidade, mas a questão da rede de apoio e do papel do pai presente são fundamentais para elas.

“Esse é, sem dúvida, meu principal desafio diário e o tema central das minhas sessões de terapia! Conciliar diversas responsabilidades não é fácil, e definitivamente é um grande esforço equilibrar todos os “pratinhos”. Tive filhos no momento certo da minha vida e não precisei adiar a maternidade. No entanto, sempre senti um certo medo em relação à minha capacidade de conciliar tudo: “Serei capaz?”. Se tornar mãe inevitavelmente muda as prioridades, e percebi que a Carolina que eu era antes de ter filhos se transformou. Apesar das mudanças, minha paixão pela ciência e pelo meu trabalho se manteve firme.”

Telma Soares – Foto: arquivo da pesquisadora

Mãe de duas meninas, Telma relata que ao longo de sua carreira tenta conciliar o papel de pesquisadora com o de mãe. Procuro ser sempre presente no dia a dia das minhas filhas. Eu construí a minha carreira desde o início em conjunto com a maternidade, não quis adiar a maternidade por conta de questões da carreira. Sempre tive o apoio da minha família e em especial do meu esposo para poder conciliar bem as duas atividades”.

Maria José não é mãe. “Fiz a opção de não ter filhos em razão da sobrecarga de trabalho que comumente o jornalismo impõe. Durante anos, tive dois empregos, o que me acarretava uma jornada diária de pelo menos 10 horas de trabalho. E também optei pela militância no movimento sindical dos jornalistas. Outras mulheres jornalistas tiveram e têm trajetória parecida e ainda têm filhos. Eu pensava que seria uma grande sobrecarga. E continuo pensando assim.

Mãe de dois filhos, hoje adultos, Karla também não adiou a maternidade, mas para ela, conciliar a carreira de pesquisadora com a maternidade foi um desafio constante e, em muitos aspectos, uma imposição do sistema. O marido de Karla também é pesquisador.  “A licença-maternidade para bolsistas é uma conquista recente, mas, mesmo assim, não é longa o suficiente para garantir nem o período completo de amamentação. Além disso, a falta de licença paternidade estruturada impede uma verdadeira divisão de responsabilidades, deixando o ônus da criação dos filhos, pelo menos no primeiro ano de vida, praticamente integralmente sobre as mulheres. Tentamos conciliar os papéis de mãe e pai integrando nossos filhos à nossa rotina, mas, ao fazer isso, enfrentamos uma sobrecarga que muitas vezes foi invisibilizada. Trabalhamos muito em casa para estarmos mais perto deles e, sempre que possível, os levávamos conosco em viagens de trabalho, inclusive para conferências científicas. Eles se acostumaram com esse ambiente e se adaptaram, mas foi uma adaptação repleta de desafios diários”.

Karla Longo – Foto: Edinan Ferreira

Karla relata que ao longo de sua carreira, viu muitas mestrandas e doutorandas optando por adiar a maternidade, temendo as dificuldades que surgem ao tentar conciliar ambas as tarefas. “Não acredito que exista uma “escolha certa”, são decisões muito pessoais. No entanto, uma coisa é certa: cada uma dessas escolhas tem um preço, seja ele emocional, profissional ou até mesmo em termos de qualidade de vida. O sistema acadêmico, com sua estrutura rígida e sua falta de apoio à maternidade, exige da mulher uma dose extra de resiliência. Muitas vezes, as mulheres acabam pagando um preço alto, sacrificando não só o seu tempo e bem-estar, mas também sua saúde mental e o equilíbrio familiar”.

Simone Tuzzo é mãe de dois rapazes. Ela conta que sempre conseguiu conciliar as múltiplas atividades de esposa, dona de casa, mãe, professora, pesquisadora, assessora de comunicação. “Penso que as mulheres possuem essa característica da multiplicidade de papéis. O que não quer dizer que seja fácil, pois as cobranças sociais também são intensas e as mulheres são tidas como aquelas que não podem falhar, tampouco ficarem cansadas. Além de tudo temos que ser lindas, bem arrumadas, dispostas, gentis e todas as atribuições da representação social do papel da mulher na sociedade”.

Nathalia Pedroso Barbosa – Foto: arquivo da pesquisadora

Nathalia ainda não é mãe. “Trabalho ao lado da minha irmã, e 83% da nossa equipe é composta por mulheres. Dos seis colaboradores internos, cinco são mulheres, e três delas são mães. Admiro profundamente a dedicação de cada uma e respeitamos todos os desafios que enfrentam em sua jornada. Buscamos criar um ambiente acolhedor, onde possam conciliar suas carreiras com a maternidade sem abrir mão do crescimento profissional.”

Mulheres em números

Dados da CAPES apontam que dos 407 mil alunos de mestrado e doutorado no Brasil, 224 mil são mulheres, totalizando 55% dos matriculados em cursos de pós-graduação stricto sensu. Já o relatório “Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil”, lançado em março de 2024 pela Elsevier-Bori, mostra o crescimento de 29% da proporção de pesquisadoras que assinam publicações científicas no país entre 2002 e 2022, saindo dos 38% para 49%. Esse dado coloca o Brasil como o terceiro país com maior participação feminina na autoria de publicações entre os 19 países/regiões analisados.

Relatório da Elsevier-Bori

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